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Esta última visita que fiz a São José dos Campos na última terça-feira foi bastante proveitosa (para mim, pelo menos). Encontrei dados em um livro sobra o bairro de Sant'Anna publicado em 1999 pela Fundação Cassiano Ricardo que me trouxeram luz a diversas dúvidas que eu tinha sobre a passagem da ferrovia pela cidade.
Uma delas é: onde passava, em termos mais detalhados, a linha da E. F. São Paulo-Rio construída por esta e comprada pela Central em 1896 e posteriormente desativada por esta última em 1925? E por onde realmente passava a Estrada de Rodagem São Paulo-Rio até 1952, ano de abertura da via Dutra?
Em relação à ferrovia, eu já sabia que ela subia e descia o morro que é o divisor de águas entre o córrego do Vidoca e o do Lavapés e que a estação original ficava onde hoje é a SABESP - que, aliás, não ficava no centro da cidade daquela época, embora qualquer joseense de hoje saiba que a parte alta da cidade é praticamente toda ela considerada como "centro", incorporando até bairros como a Vila Adyana e a Vila Ema. Ou seja, ir à estação era algo que demandava uma viagem considerável a pé ou de carroça - automóvel, que surgiu pela cidade no final dos anos 1900, era coisa para rico.
A linha passava no que era o limite da zona urbana de então. Passava no que hoje é a rua Anchieta, na subida do Banhado, e em ruas estreitas e em rampa como a que fica no final da rua Marechal Floriano.
Tanto que, quando a estação foi mudada em 1925 para a parte baixa da cidade, junto à fábrica da Tecelagem Parahyba, a população reclamou, dizendo que a nova estação era longe demais. Na verdade, não era mais longe do que a outra, mas em compensação fazia com que os usuários tivessem de descer uma longa ladeira para chegar até ela e, na volta, claro, era pior, pois tinham de subir a ladeira.
Era, no entanto, uma enorme necessidade para a Central do Brasil colocar a nova linha toda ela na parte baixa de São José. Afinal, fazê-la subir e descer de uma forma bastante acentuada para atingir a cidade em vez de contorná-la junto ao paredão do Banhado, como foi feito a partir de 1925, era uma estupidez, que fazia com que o trem gastasse mais tração, mais combustível e mais tempo.
Além do mais, uma curva fechada construída após a travessia do Lavapés numa locomotiva que havia acabado de descer uma rampa acentuada fazia com que os acidentes e descarrilamentos ali fossem uma constante. Em 1915, conta-se que teria acontecido ali o pior deles. Esta construção de uma linha com um trajeto esdrúxulo foi provavelmente construída de forma a atender interesses políticos da época de sua construção, do tipo "quero que o trem passe dentro da minha cidade. Se não for possível, quero evitar descer ou subir para atingir a estação". Este será um caso interessante a se pesquisar nas atas da Câmara da cidade no futuro.
Este tipo de "desvio político" também ocorreu em outras cidades. Os exemplos que me vêm à mente neste momento são os que existiram em Brotas, SP, de 1892 a 1929 e em Joinville, SC, este ainda hoje funcionando.
Quanto à estrada de rodagem, ela também passava "longe" da cidade e parte dela se transformou hoje na avenida Heitor Villa-Lobos em toda a extensão desta. Para se seguir dela para a cidade, havia que se entrar ou pela avenida Nove de Julho, já existente, ou pela atual rua Paraibuna. Após o final da atual Heitor Villa-Lobos, a antiga rodovia foi incorporada em alguns trechos pela via Dutra e depois passava a entrar pela esquerda (sentido São Paulo-Rio) por outras ruas atuais até chegar à estação de Eugênio de Mello, de onde seguia para Caçapava.
O mapa acima, publicado em 1938, mostra esses trajetos. Mais detalhes nas páginas da estação de São José dos Campos nova e velha no meu site. É também conveniente citar que a linha de 1925, entre as estações de São José dos Campos e a de São Silvestre, na fábrica de celulose de Jacareí, foi toda retirada nos anos 2000. Desde 1995, os trens que cortam a cidade se utilizam apenas da variante do Parateí, que entra de Jacareí no município pelo bairro de Sant'Anna.
Caro Ralph
ResponderExcluirAntes de aposentar morei em SJC no final dos anos 90. Conversando com os moradores mais antigos eles falavam o mesmo sobre a antiga rodovia. Foi interessante saber que existiram 3 percursos da ferrovia cortando a cidade. Só sabia da que corta a encosta do banhado (que teimam e dizer que tem um projeto de VLT que aproveitaria esta linha sem uso e provavelmente seria um fracasso igual ao de Campinas pois levaria os passageiros de nenhum lugar para lugar nenhum} e a atual variante do Parateí.
Discordo do VLT. Acho que seria um caminho rápido e não poluente - ou muito menos poluente do que uma avenida, se for a diesel ou gasolina - ligando dois extremos da cidade sem passar pelo centro. Quanto ao VLT de Campinas, ele parou não exatamente por ligar nada a lugar nenhum, mas por não ter conexões com outras linhas, sejam de outros VLTs, como de ônibus. Parou por má vontade e pressão de empresas de ônibus, mesmo.
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