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O lançamento do livro que meu filho Alexandre escreveu sobre a conquista do primeiro título brasileiro do São Paulo Futebol Clube em 1977 (bom, o fim do campeonato foi no verão de 1978) me fez lembrar do tempo em que eu era realmente fanático por futebol, nos anos 1960. São-paulino por herança de família, cheguei a assistir a boa parte do jogo que decidiu o título do São Paulo em 1957 (o paulista, numa época em que o Campeonato Paulista era um senhor campeonato e não essa caricatura de hoje), quando, em dezembro daquele ano, ele decidiu num jogo contra o Corinthians. O SPFC venceu por 3 a 1. O jogo passou direto pela televisão! Assisti no escritório da casa de meus pais junto com um bando de gente.
O fato, porém, era que eu não ligava a mínima para futebol nesse tempo. Afinal eu tinha acabado de completar seis anos de idade. Somente cinco anos depois, vendo os outros ouvir pelos radinhos de pilha a Copa do Mundo de 1962, eu dei início ao meu fanatismo. O problema é que, nessa época, o São Paulo tinha um time ridículo e raramente fazia uma boa campanha nos campeonatos. Mas eu acompanhava tudo, pelos jornais, pela televisão e pelo rádio. E pelas revistas especializadas.
Em 1963 e em 1966, com um time melhorzinho, o time embalou no primeiro turno, mas no segundo, acabou por despencar na tabela e perder o título. Em 1967, porém, o time embalou e conseguiu chegar junto com o poderosíssimo Santos de Pelé na última rodada. Decidiu-se o campeonato com um jogo extra (não havia esse negócio de saldo de gols etc.) e o Santos, claro, ganhou. Fez dois a zero logo no comecinho do jogo e o cozinhou até o final, quando o São Paulo fez um gol.
Se alguém a um determinado momento for escrever um livro sobre este campeonato específico, vai ler sobre uma querela que surgiu nas últimas rodadas devido a um jogo do Santos contra o Comercial, em Ribeirão Preto. O Santos perdia por 1 a 0 até os 40 minutos do segundo tempo. Era um sábado à noite. Aí, o Pelé recebeu a bola completamente impedido, olhou para trás, viu que o juiz não apitou nada, deu um sorriso, seguiu sozinho com a bola e fez o gol. O jogo acabou naquele momento, empatado, devido às muitas reclamações do time do Comercial, ameaçado pelo rebaixamento e à expulsão de alguns jogadores.
Como o Santos e o São Paulo corriam praticamente juntos desde o início do campeonato, cada ponto perdido por um ou outro era uma tragédia para o adversário. Nos dias seguintes a imprensa em geral falava que o jogo deveria ser anulado, ou que os pontos deveriam ser tirados do Comercial, ou do Santos etc., e começaram falando que o poder do Santos na Federação era muito grande e que ele jamais perderia esse ponto que ganhou no jogo.
Enquanto isso corria, os jogos continuavam e, no dia da rodada final, o São Paulo, que tinha um ponto a mais que o Santos, jogaria contra o Corinthians. Enquanto os jornais diziam que o São Paulo seria campeão se ganhasse, ao mesmo tempo afirmavam que o Santos, que tinha um jogo fácil e deveria ganhar (não me lembro contra quem) acabaria por "certamente" ganhar o ponto perdido contra o Comercial, prevendo que o campeonato demoraria meses ou anos para se conhecer seu campeão, devido à morosidade da justiça esportiva.
O fato foi que o Corinthians, depois de estar perdendo por 1 a 0, empatou o jogo no final. São Paulo e Santos terminaram empatados em pontos perdidos (era assim que se contavam os pontos) e teriam que decidir o campeonato, mas o Santos dizia que já era o campeão, pois ganharia o ponto perdido na justiça.
No dia seguinte, no entanto, o Santos retirou o pedido para ganhar o ponto. Claramente, ele sabia o time que tinha e previa que a final seria uma baba, como realmente o foi. Demorou mais três anos para o São Paulo ser campeão paulista, treze anos depois daquele ano de 1957. O meu fanatismo pelo futebol sobreviveu até logo depois disso. Hoje ainda gosto de futebol, mas de uma forma muito mais "light".
Ah, e o "verão de 1968" do título? Foi meio forçado, uma alusão àquela belíssima música do Pink Floyd do LP Atom Heart Mother, de 1972. É fato que o jogo decisivo de 1967 foi disputado no primeiro dia do verão de 1968 (21 de dezembro). É interessante também citar que todas as memórias que escrevi aqui vieram das minhas lembranças da época e não de alguma pesquisa que eu tenha feito. Lembro também que durante algum tempo os jornais foram tornando a história do jogo contra o Comercial e como isso afetou o título desse ano bem diferente do que realmente aconteceu na época.
Dê parabéns ao Alexandre pelo livro. São lançamentos assim independentes que trazem novidades ótimas. Fala pra eles depois escrever um sobre o primeiro título brasileiro do Timão, em 1990. rsrs. Futebol andou perdendo a graça, mas eu acompanhava de orelhada. Com as duas mortes da semana passada, nossa!, peguei bode da coisa.
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