TÚNEIS FERROVIÁRIOS

Túnel do Pinheiro Preto, em Santa Catarina, ainda existente, com trilhos mas tráfego quase nulo. Foto Arthur Wischral, anos 1930. Dizem que ali ocorreu o primeiro assalto ao trem pagador no Brasil, em 1909 - a questão é saber se foi mesmo um trem ou uma carroça que transportava o dinheiro, pois o túnel estava em construção...

É bastante curioso o fato de existirem tantos túneis abandonados pelo Brasil – túneis de velhas ferrovias que foram desativadas.

Eles parecem se concentrar em Minas Gerais, onde a cada momento surge-me a informação de um velho túnel da Leopoldina, por exemplo. Mas há outros túneis desativados por aí.

Semana passada, soube da possível existência de vários túneis próximos à chamada Linha do Paraopeba, que liga o Rio de Janeiro a Belo Horizonte desde 1919 em bitola de 1m60 (não em todo o percurso, apenas entre a estação de Joaquim Murtinho e a de Belo Horizonte por bitola larga. Há outra linha, a do Centro da ex-Central do Brasil, parte de bitola métrica, parte larga, paralela à do Paraopeba).

Deixando de lado explicações de por que há duas linhas em parte do percurso entre o Rio e BH, o fato é que a linha do Paraopeba estava saturada no início dos anos 1960 e pensava-se então em continuar a bitola larga da linha do Centro até Belo Horizonte, o que exigiria a construção de onze túneis na região de Itabirito e Sabará. A construção chegou a ser iniciada, mas foi interrompida logo depois. Dizem que pelo menos alguns desses túneis foram abertos. Até hoje se discute onde eles estão.

De qualquer forma, esses nunca funcionaram, ao contrário de vários outros que estão por aí sem os trilhos que um dia passaram por dentro deles. Em um dos túneis da Leopoldina em Petrópolis chegaram a ser criados cogumelos. Em vários, são usados como túneis rodoviários, na maioria das vezes permanecendo em estradas de terra, como os da região de Alegre, no Espírito Santo, belo local que conheci há cerca de um ano e passei por um dos túneis dos anos 1910.

No Paraná, entre Sengés (próximo a Itararé, SP) e Jaguariaíva existiu um túnel próximo à antiga estação de Fabio Rego que eu quis fotografar, acompanhado por um ferroviário da região. Não conseguimos chegar até ele. Construído em área alagável, somente conseguimos ver de uma certa distância o seu topo: o caminho até ele, num pequeno vale, estava inundado e pelas laterais não conseguimos nos aproximar mais do que o ponto aonde chegamos.

Em Pirajibu, região de Mairinque, SP, há um velho túnel desativado em 1928 que pertencia à linha original da Sorocabana desde 1875. Para chegar até ele, só mesmo com muita disposição e sabendo o caminho. O fato é que o Estado de São Paulo tem poucos túneis. A Companhia Paulista não tinha nenhum. A Santos-Jundiaí tem um, o de Botujuru, próximo a Jundiaí. A Mogiana tinha um só, que foi desmontado, no ramal desativado de Amparo. Às vésperas de se tornar parte da FEPASA, em 1971, ela abriu outro túnel na variante Tambaú-Bento Quirino. A Sorocabana tem vários, e todos relativamente novos: os da linha original eram três, mas os que existem hoje são bem mais recentes: os da linha nova de Botucatu (dois, dos anos 1950) e os 19 (acho que o número é esse) da Mairinque-Santos, dos anos 1930.

Quem tem muitos túneis, realmente, em suas linhas é a antiga Central do Brasil, e eles estão tanto na Serra das Araras, no Rio, como em linhas mineiras. A Leopoldina, como já dito, tinha vários também. Na Bahia conheço dois: o de Mapele e o de Pojuca. A ferrovia que liga Paranaguá a Curitiba, antiga E. F. do Paraná, tem diversos na serra, sendo que há um ou outro (não me lembro quantos) que foram desativados nos anos 1950 quando da eletrificação da linha: construíram-se outros mais altos ao lado dos desativados.

Enfim, são belas histórias que dariam um lindo livro com fotografias.