sexta-feira, 6 de novembro de 2009

REFLEXÕES DURANTE UM PASSEIO A PÉ

Visto de longe, o Votucavaru, ponto mais alto do Alphaville e um dos mais altos de Parnaíba. Ao seu pé, diversos loteamentos Alphaville: o 8, o 9, o 10 e o 11. É muita casa onde até 40 anos atrás somente existia a Fazenda Bela Vista

Depois de passar um mês num hospital na Alameda Santos, operado para colocar quatro pontes de safena, tenho de fazer exercícios. Sou meio preguiçoso, mas agora não tem jeito. Três vezes por semana no mínimo tenho de andar ou fazer esteira.

Aqui no Alphaville, as opções são caminhar pelo condomínio ou sair para a avenida, onde o barulho do tráfego é insuportável. Aí, também posso sair para uma rua que costeia o condomínio e dá no rio Tietê. Não há trânsito nesse caminho, com a exceção de um ou outro carro ou bicicleta de vez em quando. E o desapontamento de ver como as pessoas jogam lixo na rua.

Hoje cedo, andei dentro do condomínio. Cruzei com algumas pessoas fazendo a mesma coisa. Cumprimento todas; se não faço, poucas me cumprimentam e cruzamo-nos então como se fôssemos estátuas andantes. Algumas a quem falo “bom dia” não me respondem de volta. Perdemos a noção de educação e uma das causas disso é o medo dos dias atuais.

O asfalto estava molhado, pois choveu pela noite. Depois de vários dias quentes, hoje estava fresco às nove da manhã. Subo e desço ruas – a área do condomínio é pequena, mas como tem ladeiras. Não há praticamente nenhum trecho rigorosamente plano. O que é bonito, no entanto, é que em muitas ruas começam a se formar túneis de árvores. Em outras, até já há trechos de túneis. Quando me mudei para cá, há exatos 27 anos e meio, era árido, quase como um deserto. As árvores que hoje são altas eram tocos. Havia também pinheiros que hoje foram derrubados para a construção de casas – e nem poderiam deixar de ter sido, pois estavam plantados em área edificandi.

Bem mais tarde, construíram um caminho para andanças no limite sul do condomínio, na área de delimitação com o Parque Ecológico do Tietê. Dali para baixo é um despenhadeiro cheio de eucaliptos que termina nas águas do lago que foi criado quando se retificou o rio nos anos 1970. O caminho é muito bonito, um “yellow brick road”, literalmente. Só faltava Mr. Elton John passar por ali fazendo Cooper.

O caminho é tão bonito que não me canso de andar nele. É sem dúvida a parte mais bonita do condomínio, cercado de árvores – eucaliptos fora, alguns dentro e outras árvores. Pena que ele não circula toda a área, mas isso seria querer demais.

Caminho de 30 a 40 minutos. Se faço esteira, o tempo é o mesmo, mas canso-me mais andando nas ruas por causa das ladeiras. Enfim. É um lugar muito bonito. Não há prédios visíveis, a não ser quando passamos pela área da entrada do residencial, onde o muro se abre e enxergamos alguns prédios ao longe – e até um MacDonalds (argh).

Enquanto ando, ouço o som dos pássaros que não existiam (fora os quero-queros) quando para cá me mudei e que foram chegando com as árvores, muitas frutíferas. O ruído das cigarras às vezes é ensurdecedor e ao mesmo tempo agradável. Ruído de carros, um ou outro que cruza com você.

Infelizmente a especulação imobiliária e a falta de controle – involuntária ou não – da municipalidade permitiu a construção de um pombal de prédios entre o condomínio e o rio Tietê (os compradores logo vão saber o que é o cheiro do Tietê morando literalmente ao lado dele nesses prédios). Quem mora do outro lado do condomínio em relação a onde está minha casa vai ter prédios ao fundo de suas casas. Não é uma beleza?

Não adiante onde estamos, não conseguimos fugir da ganância das imobiliárias. Somos coniventes com elas, porque compramos o que fazem. Durante um passeio, realmente pensamos em muitas coisas para nos distrair... inclusive no que é ruim.

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