
Naquele verão de 1867, quando o trem passou pela primeira vez por Belém, ele teria parado para apanhar passageiros? Ou para que alguém descesse? Quem desceria ali, local ermo e que teria no máximo alguns barracos que sobravam da obra de construção do pequeníssimo pátio de cruzamento que os ingleses ali fizeram. Teria alguém seguido morando ali? Talvez. A possibilidade que algum botequim para alimentação dos trabalhadores que também erigiram o pequeno barraco de alvenaria - de pedra, possivelmente - que era a estação de Belém tenha se estabelecido de vez ali, esperando que mais pessoas viessem viver ali, era grande.
E, por mais que tenha demorado, o acampamento cresceu. Afinal, era um trem a cada dois dias, depois um por dia, depois vários por dia, correndo entre Santos e Jundiaí. Agora você definitivamente já viu que não estamos falando da capital paraense, certo? Aquela, que um jogador de futebol um dia disse algo como "era um prazer vir jogar na terra em que nasceu Jesus".
Não, não é essa. Aqui estamos falando na cidade que hoje se chama Francisco Morato, infelizmente uma das cidades mais feias da Grande São Paulo. Apesar disso, a estação ferroviária que ali existiu desde os anos 1970 até o ano passado (sucedânea daquele pequeno barraco de 1867 e de outra que lhe seguiu) foi posta abaixo para a construção de uma nova pela CPTM. Nesse meio tempo, uma estação de madeira serve de ponto de embarque e desembarque para os passageiros e moradores.
Ontem, uma nova pane na ferrovia - segundo o jornal que noticiou, a décima quinta este ano - parou os trens perto de São Paulo e deixou agitado o pessoal que precisava do transporte na antiga Belém. Vai daí, resolveram arranjar um quebra-quebra que lembrou aqueles dos anos 1980 e 1990 nas linhas paulistanas. O último do qual me lembro ocorreu em 1998 e destruiu a estação de Engenheiro Trindade, na Penha, fechando-a até hoje: aliás, o prédio já foi até demolido há alguns anos, sem substituição.
O curioso no caso de ontem é que alguns imbecis jogaram "bombas caseiras" que puseram fogo em alguns pontos da estação, como a bilheteria e a seção das catracas, que foram destruídas. Curioso: quem jogou essas bombas? Quer dizer que algum sujeito que queria tomar o trem e não conseguiu descobriu que, por acaso, estava com umas bombas caseiras na maleta e resolveu jogá-las ali em protesto? Acreditamos mesmo nisso? Ora, quem joga bombas em algum lugar não as tem por acaso, mas sim as traz especificamente para serem jogadas.
Portanto, será que podemos concluir que quem jogou não estava chegando nem saindo da estação, certo? Foi alguém que viu a bagunça, de fora do prédio, e resolveu ir até algum lugar e pegar as bombinhas que tinha guardado e jogar ali, não para protestar, nas sim para ferrar com tudo, por espírito de vandalismo, ou por ser espírito de porco. Ou, talvez, como dizem alguns, por "sabotagem política".
Sou mais pelo espiritismo-de-porco, mesmo. Gente do naipe de frequentadores de torcidas uniformizadas, que já vão para o estádio com canivetes, paus e pedras. Gente que não serve para nada, só mesmo para mofar na cadeia. Por acaso, no entanto, eles nunca são pegos, mesmo tendo muita gente que sabe muito bem quem são e onde eles estão.
A educação no País está caminhando ladeira abaixo. Como estaremos daqui a 50 anos? Como eu não estarei aqui para ver, vai sobrar para o meu neto, mesmo. Infelizmente para ele.