Estação de Presidente Epitácio em 27 de maio de 2017 - foto Wilsinho Cruz. Hoje, três meses depois, o buraco no telhado e a depredação devem estar maiores.
O prédio, construído nos anos 1940 (substituiu o prédio original, menor, de 1922), está ameaçando ruína. Sem bia parte do telhado, que já caiu (veja foto), não durará muito. Quanto menos restar e mais tempo ficar abandonado às intempéries, mais dinheiro se gastará em sua reconstrução - se é que isto um dia vai acontecer.
Claro que o prédio faz parte da memória da cidade. Aliás, sua simples existência (mesmo sendo ele a reposição do prédio original) é a origem da cidade que, daqui a cinco anos, será centenária.
Curioso que, próxima às barrancas do rio Paraná, essa estação pudesse ainda estar sendo utilizada como central operacional de manobras dos grandes desvios construídos no final do século XX (nem vinte anos atrás) para atingir o porto diretamente para fins de carregamento e recebimento de mercadorias por via fluvial. Dinheiro jogado fora, pois todo esse complexo jamais foi usado.
A estação somente será recuperada se a Prefeitura comprá-la da inventariança da RFFSA ou do DNIT (órgão praticamente inútil hoje em dia). Ou, se não a Prefeitura, algum particular que não a compre para derrubá-la. Neste momento, quem deveria tomar conta do prédio (pelo menos mantê-lo com telhado e em condições de uso) seria a Inventariança ou o DNIT. Esqueçam-se, isto não vai acontecer, o governo federal é uma bagunça só.
A Prefeitura, nem que queira, pode limpá-lo ou fazer obras provisórias: ela poderá ser acusada de gastar dinheiro público em bens que não são dela e ter de responder por crimes contra a Lei de Responsalidade Fiscal. O que ela poderia fazer seria insistir junto aos órgãos federais para que liberem o prédio para compra. O problema é que as prefeituras neste país, em grande parte, estão quebradas. Não sei se o caso da Prefeitura de Presidente Epitácio, mas quer ela investir no prédio? Em meu ponto de vista, deveria querer, mas...
Pode haver uma solução: que os cidadãos interessados na preservação do prédio se juntem e, pelo menos, paguem de seus próprios bolsos as reformas necessárias. E tomem cuidado, pois podem ser processados por órgãos federais por estarem "mexendo em bens públicos sem autorização".
Enfim, Brasil é isso. E em termos de memória, está pior do que antes.
Parece brincadeira, mas os cidadãos brasileiros, em geral, não ligam muito para a preservação da memória nacional. Convenhamos que há muitos motivos para isto, sendo, talvez, o principal deles o fato de que a sobrevivência de boa parte da população é mais importante do que pensar na reconstrução de "coisas velhas". Afinal, há 13 milhões de desempregados que não são pagos pela memória nacional. Que tristeza.
E quem tiver paciência, leia o texto publicado pelo portal G1 em dezembro do ano passado sobre os absurdos deste complexo abandonado à própria sorte:
Paralisação
da ferrovia inviabiliza Porto de Presidente Epitácio
12/12/2016 - G1
Há 100 anos, o Oeste Paulista conheceu a Estrada de Ferro Sorocabana. Em 1916, o tronco chegou ao km 648, em Rancharia, cuja data de inauguração da estação ferroviária foi em 10 de setembro, conforme arquivos do acervo do Museu Municipal Manir Haddad, a que o G1 teve acesso. O município também contou com a instalação da Estação Bartira, na área rural. A chegada da malha ferroviária na região possibilitou o desenvolvimento urbano e econômico das cidades contempladas, além de recordações. Mas a história também foi marcada pela paralisação do transporte, que foi parar na Justiça com uma ação do Ministério Público Federal (MPF). O G1 reuniu um pouco da memória ferroviária do Oeste Paulista e a luta pela sua reativação em uma série de reportagens especiais.
Nada circula nos trilhos de Presidente
Epitácio. O fato também atrapalha, principalmente, o funcionamento do modal
hidroviário no porto da cidade. Conforme informou o prefeito Sidnei Caio da
Silva Junqueira (PSB) ao G1, há mais de 20 anos, todos os modais funcionavam na
localidade. O antigo porto, que foi coberto pelas águas fluviais, chegou a
funcionar.
No entanto, desde que o novo porto foi
construído, entre 2001 e 2002, não houve nenhuma movimentação de carga. “Mesmo
porque coincidiu de a ferrovia também parar nesse momento. Então, não tínhamos
hidrovia nem ferrovia para a logística da cidade ficar melhor”, declarou o
chefe do Executivo.
Com estrutura e capacidade, o Porto de
Presidente Epitácio, conforme Junqueira, “é um dos melhores do Estado de São
Paulo, se não for o melhor em água fluvial”, e tem possíveis investimentos
inviabilizados devido à não operacionalização da ferrovia e da hidrovia. “Todas
as pessoas que querem fazer um transporte e procuram uma logística mais
econômica para o transporte das suas cargas precisam das três pernas:
rodoviário, ferroviário e hidroviário. Ou, pelo menos, de um dos dois:
aquaviário ou ferroviário, e hoje, infelizmente, em função de a malha estar
desativada, a gente tem esse grande problema”, explicou ao G1 o prefeito de Presidente
Epitácio.
E tem quem queira e procure o porto para
o transporte, como empresas que demonstram interesse de trazer o farelo e o
grão de soja para o Estado de São Paulo e para o Mato Grosso do Sul, “mas tudo
barra nessa questão, principalmente, da ferrovia”. “A gente já
recebeu bastante empresários e muitas empresas”, salientou Junqueira.
Em relação à hidrovia, investimentos em
eclusas são feitos pelos governos federal e estadual para melhorar, porém, por
um período, a falta de chuva em Presidente Epitácio “deu uma travada nesse
processo”. “Tudo isso tem um enorme potencial e seria muito importante para a
nossa região, mas acaba brecando nessas pontas”.
Os modais hidroviário, ferroviário e
rodoviário funcionam em países modernos, conforme comentou o prefeito ao G1.
“Aqui no Brasil foi meio à contramão e a gente tem o transporte ferroviário
como a maior fatia disso”.
Planejamentos
A esperança da região sobre o transporte
ferroviário está na ação do Ministério Público Federal. “A gente tem uma
expectativa de reativação dessa malha, porque é de grande importância para o
desenvolvimento da região”, destacou Junqueira. “Acreditamos que as medidas que
o Ministério Público Federal está tomando podem amenizar ou resolver essa
situação em relação a retorno”.
Sobre a hidrovia, o prefeito colocou que
o porto tem a concessão da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).
“A gente conseguiu, quando veio a MP dos portos, uma medida provisória que
mudou bastante a situação dos portos do Brasil. Abriu mais o leque dos portos.
A gente conseguiu regularizar o nosso porto e fazer esse convênio com a Antaq.
Esse convênio dá direito ao município de explorar o local de algumas formas, ou
através de autarquia ou através de contratos com terceiros, só que acaba inviabilizado
em função de a ferrovia e de a hidrovia não estarem operando”, alegou ao G1.
Atualmente, na hidrovia, o forte seria
somente a extração de areia e pedra. “O plano do governo, tanto do federal
quanto do estadual, é, realmente, ampliar a navegação da hidrovia Tietê–Paraná.
Tem uma expectativa boa disso. Estão sendo feitos vários investimentos, mas
ainda não tem uma movimentação importante em função de alguns entraves,
principalmente, no sistema de eclusas que ligam o Tietê–Paraná”, disse
Junqueira ao G1.
'Briga'
Todos os lados já foram acionados e
cobrados, mas a situação saiu da esfera política e “virou uma briga jurídica”,
conforme apontou o prefeito de Presidente Epitácio. “Já tem uma execução de
multa de R$ 40 milhões. Já tiveram uma multa que foi, inclusive, destinada ao
Hospital do Câncer. Pelo que a gente entende, as multas são menores do que o
investimento que a ALL [América Latina Logística] tem de fazer na malha, então,
ela fica protelando. Se tiver de pagar multa, é menor do que o investimento e
ainda compensa para ela”.
“Penso no desenvolvimento da região. É
importante frisar que tanto a hidrovia estar inoperante quanto a ferrovia
prejudica demais a região. Condições? Tem tudo! O município de Presidente
Epitácio e a região têm todo o potencial para poder explorar rodovia, ferrovia
e o porto, só que está travado nessas situações”, salientou ao G1 o prefeito.
Logística
O secretário de Economia, Planejamento e
Meio Ambiente, Antonio Domingos Dal Más, apontou que “o prejuízo de todo esse
patrimônio, todo esse modal que está parado, é gigantesco, porque você não
consegue atrair empresários”.
“Hoje, se tiver um empresário ou uma
multinacional que queira investir capital ou recursos nesse modal, fica
extremamente complicado. Entre a opção de instalar aqui ou instalar em
Ourinhos, ele vai instalar em Ourinhos, porque, para o empresário, o valor de
investimento é o mesmo, os benefícios que as prefeituras dão também são os
mesmos e, aí, a região do Oeste Paulista fica estagnada com essa paralisação da
ferrovia e os outros modais também não caminham”, relatou ao G1.
Sem ferrovia e hidrovia, o Oeste
Paulista precisa recorrer à rodovia. “O transporte rodoviário, em termos de
custo, é mais atraente no primeiro momento hoje, pelo que a ALL passa. Mas muda
se a gente somar, por exemplo, que um vagão leva três carretas que passam na
rodovia com uma máquina só queimando óleo diesel. É muito relevante esse tipo
de situação”, declarou Dal Más.
Também foi ressaltado ao G1 pelo
secretário o risco nas estradas. “Esses caminhões viajando dia e noite, todos
os problemas que atravessam os motoristas, principalmente na época da safra.
Então, sair com uma safra de Goiás [GO] para chegar em Paranaguá [PR] envolve
muita coisa em termos de manutenção. Por exemplo, a cidade de Goiás hoje não
tem estrada, porque não houve a conservação da última safra. Eles não têm
estrada para trafegar em Goiás e nós estamos praticamente no meio do caminho da
produção do oeste do Brasil até o litoral. A gente está transportando tudo de
carreta, da origem até o ponto de exportação, sendo que a gente poderia usar
metade rodoviário, desembarcar aqui em Presidente Epitácio e ir por ferrovia
até o cais. Seria uma logística muito mais lógica, mais inteligente e muito
mais viável”.
Por exemplo, nas estradas,
principalmente na época de escoamento de safra, o número de acidentes aumenta
muito e são vidas que estão sendo perdidas, porque não tem essa questão
ferroviária, onde a segurança é muito maior no transporte, declarou, ainda, Dal
Más ao G1. “São acidentes no transporte rodoviário, temos desgaste, o custo de
conservação das malhas, porque as carretas têm limitação de carga, mas todo
mundo sabe que eles não obedecem, mesmo porque o Estado não controla isso, a
gente não tem balanças. Eles andam muito acima de 40 toneladas”.
Conforme declarou o secretário, “é
triste” o prejuízo de conceder um patrimônio público para uma empresa
multinacional que “paralisou” e “abandonou” a malha ferroviária, além de “não
conservar”. “Então, na retomada deste patrimônio todo, terão vários
investimentos para colocar a coisa para funcionar. Nesses anos de paralisação,
os prejuízos foram em todos os nortes, inclusive o da tecnologia da malha que
vai se aprimorando, da estrada que tem de acompanhar o desenvolvimento dos
vagões de maiores portes, das bitolas usadas hoje internacionalmente. Então,
isso tudo tem acontecido há 30 anos”, apontou ao G1.
A situação fica cada vez mais
inviabilizada, segundo colocou o secretário de Economia, Planejamento e Meio
Ambiente, pois a ferrovia da região tem uma “tecnologia de 30 atrás”. “Se você
quiser pegar hoje equipamentos mais modernos, que consigam colocar o produto
aqui de Epitácio em Paranaguá ou Santos, num tempo menor, que é o objetivo da
logística, ganhar tempo e dinheiro, vai ficando difícil, porque você já tem de
investir em equipamentos modernos e também preparar a malha para esses
equipamentos modernos”, explicou.
Paralisação total
Dal Más também salientou ao G1 que é
"triste" constatar "esses 30 anos de paralisação”. Isto porque parou-se
tudo: desenvolvimento, tecnologia e aumentou o grau de investimento necessário
para transformar tudo isso viável. Além disso, existe “toda a pressão”, porque,
nesse meio tempo, conforme o secretário, as empresas rodoviárias se
desenvolveram, aumentaram suas frotas, e cresceram muito com a paralisação
É ralph,nós idealistas,realmente pensamos diferente de quem está no Poder.Será que é tão difícil reformar e dar uma atividade preservativa a esse belo espaço?
ResponderExcluirVejam a Estação de Canguera em São Roque ... mesma situação, mesmo tendo ali a All...
ResponderExcluirJá ouviram falar do Biciclotrem Cataguases-MG?
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