Pontilhão na linha Mafra-Porto União. Foto Ivan Rocha
Hoje recebi fotografias da já esquecida linha do São Francisco, em Santa Catarina. O trecho das fotos, tomadas por Ivan Rocha há alguns dias, mostra um pontilhão perdido no meio da mata em que se transformou a linha, não muito distante da antiga estação de Canivete, construída em 1917 entre Porto União e Mafra.
O trecho Mafra-São Francisco foi construído antes e está ainda com tráfego de cargueiros.
A linha inteira foi recebida em concessão pela ALL em 1997 e hoje pertence à Rumo. A mudança de acionistas em nada mudou a situação. Desde 1997, a linha pouquíssimas vezes foi utilizada: na verdade, o que passou por ali foram trens de capina (e dá para perceber pelas fotos que não passam mais há muito tempo) e trens da ABPF que foram para a regional da Associação transportados de Rio Negrinho a Piratuba - não dá para ir de trem de uma a outra sem passar por esse trecho hoje abandonado.
Não acho que errarei muito se disser aqui que de 1997 a hoje essas composições não passaram por aí nem dez vezes.
Pontilhão na linha Mafra-Porto União. Foto Ivan Rocha
É triste, mas mostra a realidade do Brasil. As concessionárias, por contrato, são obrigadas a manter o trecho sempre trafegável - o que não estão fazendo nem aí, nem no trecho por mim reportado há alguns dias, da antiga E. F. Sorocabana, entre Rubião Junior e Presidente Epitácio e entre Amador Bueno e Mairinque, estes trechos paulistas.
Em nenhum destes casos está havendo manutenção.
Costumo ser criticado quando escrevo sobre este assunto por alguns conhecedores das ferrovias atuais, que dizem que são todos trechos superados e obsoletos, onde o que se devia mesmo era acabar com tudo. Afinal, pelo menos em teoria, não era isto que a União queria ao repassar as ferrovias brasileiras para concessionários, entre 1996 e 1998: o que se desejava era o seu uso para ajudar no transporte das cargas nacionais.
Não foi, no entanto, o que se viu. Apesar de alguns trechos estarem tendo tráfego significante de trens (exemplos: Mato Grosso-Santos, Araguari-Barra Mansa, Araguari-Campinas, Rio-São Paulo e outros poucos, por diferentes concessionárias, como a FCA e a MRS), a quilometragem trafegada hoje no Brasil é muito inferior aos 28 mil quilômetros entregues em à concessão pela RFFSA há 20 anos.
Ninguém fiscaliza a sujeira e o abandono das ferrovias. O Nordeste brasileiro, por exemplo, está praticamente quase todo ele abandonado. A Bahia também. O Rio Grande do Sul corre o risco de perder todo o seu transporte de cargas.
Ninguém no governo federal parece se importar com isso. Nos governos estaduais, os governadores parecem também pouco se importar com tudo - afinal, com exceção do Paraná, que tem uma ferrovia cargueira (Guarapuava-Cascavel), as linhas não mais pertencem a eles.
São Paulo, então, é uma piada. Sem trens de passageiros - que poderiam estar operando em linhas abandonadas pela ALL, como Bauru-Panorama e a Sorocabana, nos trechos citados e na Santos-Juquiá, esta também abandonada - nem fala no assunto. De vez em quando, fala em trens regionais ligando a Capital a Americana, a São José dos Campos, a Santos e a Sorocaba, mas geralmente em anos eleitorais e sem continuidade de tomada de assunto.
Dizer que a Sorocabana e a Paulista, nos trechos acima, é obsoleta, é apenas parte da verdade. E a obsolescências, por sua vez, somente pode ser lida, na verdade, como alguns trechos de linha que necessitam ser redesenhados. A bitola larga, por sua vez, ideal para o transporte de passageiros, poderia ser implantada aos poucos na Sorocabana e a Paulista já a tem.
Enfim, não se estuda nem se debate o assunto. As ferrovias vão morrer. Se um leitor paulista de 1980 lesse o texto acima, iria ficar de queixo caído com a situação. Esta já estava longe de ser a ideal nessa época, mas havia trens ainda para vários destinos em São Paulo.
Que venham as críticas ao que escrevi. Afinal, o que parece mesmo é que daqui a 10, 20 anos, Santa Catarina, o Paraná e São Paulo, além do resto do Brasil, não vão ter ferrovia alguma, exceto pelas pouquíssimas quilometragens das CPTMs e metrôs da vida e dos trilhos saudosos da ABPF. Torço para eu estar errado na minha previsão, e para estar certo em continuar dando murro em ponta de faca.
domingo, 26 de março de 2017
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ISSO É BRASIL,,,,,,
ResponderExcluirMeu caro Ralph Giesbrecht: assino embaixo do que você escreveu. Esses que acham que as linhas estão obsoletas, porque não reclamaram quando elas não foram modernizadas? Na verdade o Brasil odeia ferrovias, bom mesmo é ônibus, SUV's, pick-ups e por aí vai. O brasileiro é muito orgulhoso prá andar de trem.
ResponderExcluirNilson
Ralph, sobre seu comentário...assino embaixo.
ResponderExcluirNilson
A Sorocabana, no trecho após Assis precisava de retificações em seu traçado... Tem curvas demais, que limitam a velocidade dos trens, ainda por cima em bitola métrica. Já a linha da antiga Paulista, de Bauru a Panorama, tem muito menos curvas, e com uma retificação pontual aqui e ali, certamente permitiria até velocidades acima de 100 Km/h em trens de passageiros, e acima dos 60 km/h em trens de cargas, e ainda é bitola larga. Quem chama estas ferrovias de ultrapassadas e obsoletas é um ignorante praticamente. E é por causa de gente assim que este país infelizmente só anda para trás...
ResponderExcluirOi Ralph, eu gostaria de conversar sobre a história da Mogiana. Como faco para falar com você? Isabela Salgado, Historiadora, Doutoranda, Campinas.
ResponderExcluirIsabela, mande um email para mim. Veja o email na página de abertura do www.estacoesferroviarias.com.br
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