segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CIDADES FANTASMAS

O vilarejo de Sapezal sofreu barbaramente com a decadência.
Pouco depois de sair de Quatá sete dias atrás no sentido de Assis pela SP-284, entrei à esquerda no bairro de Sapezal.

Na verdade, chamar Sapezal de bairro é elogiar demais a localidade. O que existe ali realmente é praticamente uma cidade fantasma. Pouquíssimas casas antigas de alvenaria ou de madeira em más condições e uma estação ferroviária que é a única construção em bom estado - pelo menos externamente. Os trens cargueiros ainda passam muito de vez em quando, já que não há cargas regulares para lá - ou a ALL nada faz para consegui-las. O que existe é em alguns finais de semana um trenzinho a vapor com uma locomotiva e dois carros que vem de Paraguaçu Paulista, sede do município. A estação foi reformada justamente por causa deste trem.

A estação de Sapezal, recentemente reformada.
Porém, fora a casa atrás desta, que está supostamente em reforma, nada mais está em bom estado. Até as vacas estão magrelas. As ruas sem asfalto mostram um presente que não condiz com um passado longínquo: nos anos 1930, por dois anos, Sapezal foi sede do município do mesmo nome. Por diversos motivos, a decisão foi revertida e a cidade reduziu-se ao que é hoje. Existe até um livro sobre a história de Sapezal.

O rio Capivara, fotografado para o sul, no ponto em que cruza sob uma ponte a SP-284.
Saí de lá e voltei à rodovia, de onde segui para Paraguaçu. Porém, antes, entrei num pequenino bairro rural - digo rural, pois é separado da sede por campos - de nome Conceição de Monte Alegre. Eu tinha curiosidade em conhecer este local, que foi o embrião de diversos municípios na Alta Sorocabana, inclusive Paraguaçu e Sapezal. Constituído no final do século XIX, foi fundado, segundo a história, pelo lendário José Teodoro, natural de Pouso Alegre, MG e chamado de "bandeirante do século XIX" por ter sido um dos pouquíssimos desbravadores das matas inexploradas do oeste da Província.

A fachada da insípida estação de Paraguaçu Paulista: uma estação como a de Quatá, porém maior.
Era de se esperar que Conceição mantivesse ainda alguma reminiscência de seus tempos mais gloriosos. Foi extinto na mesma época de Sapezal, mas, de antigo nos pouquíssimos quarteirões em volta da igreja, somente uma ou outra casa de madeira. O resto é uma praça e meia dúzia de ruas asfaltadas e bem cuidadas e casas de alvenaria que não têm muitos anos de existência. Eu arriscaria dizer que nenhuma destas existia na época em que era município.

Plataforma da estação de Paraguaçu.
Ao contrário de Conceição, que perdeu sua condição por estar longe da linha da Sorocabana (e não tão longe - não deve haver mais do que cinco quilômetros de lá até a estação ferroviária de Paraguaçu, que, por algum tempo, na sua inauguração em 1914, foi chamada pelo povo de estação de Conceição de Monte Alegre), Sapezal tinha linha e definhou muito mais. É sempre difícil de se prever o futuro de vilarejos. Conceição é um local bastante tranquilo e agradável, além de bem cuidado. Mas é pequeníssimo, também. Aliás, justamente por possuir quase somente casas novas, não me interessei em tirar a câmara do estojo e fotografar.

Virador na estação de Sapezal, instalado apenas para que a locomotiva que vem de Paraguaçu possa fazer o retorno de frente
Conceição de Monte Alegre não pode ser chamada, claro, de cidade fantasma. Mas foi um município que desapareceu, como desapareceu outro contemporâneo, Campos Novos, não muito longe dali (embora tenha recobrado a autonomia anos depois). E como foi Espírito Santo da Fortaleza, núcleo de Bauru que perdeu a autonomia em 1896 com a mudança da sede do município justamente para a outra cidade e que logo depois passou a ser distrito de outro município (São Paulo dos Agudos) e finalmente desapareceu - mesmo com uma estação ferroviária ali plantada em 1903 com o nome de Piatã. Hoje, sumiram a estação, a linha (ramal de Agudos) e o vilarejo. Nada sobrou.

Depois, segui para Paraguaçu Paulista. Em uma das maiores cidades da região, segui direto para a estação, em mau estado, mas sendo reformada. De lá parte o tal trenzinho turístico do qual falei mais acima.

3 comentários:

  1. Esse seu giro todo me deu vontade de sair de carro interior afora. Na verdade planejo um tiro de três dias, bate-volta, indo molhar os pés no rio Paraná. Alguma sugestão de caminho, e de cidade bucólica pra conhecer no trajeto? Valeu!

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  2. Sem sugestões, pois tem coisa demais para ver. Peque o carro e entre nde houver placa... sempre haverá muitas surpresas! Abraços

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  3. Carao Ralph, sempre acompanho seus escritos e percebo que temos gostos em comum. Já trocamos ideias sobre algumas cidades e lugares, coisas postadas no meu blog Cidades e Lugares.
    Lugares esquecidos sempre me inspiraram, sei que indicação de leitura às vezes nos atrapalha, mas se tiver um tempinho recomendo ler sobre Monte Belo e Nova Itapirema, na região de Rio Preto. Eis o link

    https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxuYXNjaWRvZW0xOTcyfGd4OjZjNDMzMzRiZDEwZjM2MzU

    Abraços.

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