domingo, 21 de novembro de 2010

UM CONTO DE 2050 - VAI SER VERDADE?

Paranapiacaba em 2010

BREVE HISTÓRIA DE PARANAPIACABA (ESCRITA NO ANO DE 2050 D. C.)

No final de 2010, o ex-prefeito de uma grande cidade, Edilberto Kanssad, sem chances de progresso em sua carreira política, resolveu se candidatar à Prefeitura do município de Santo André. Ganhou a eleição, prometendo o “Cidade Limpa” – única coisa de bom que conseguiu fazer durante o seu mandato na Capital.

Logo no início, após uma visita à vila de Paranapiacaba, resolveu fazer uma revitalização daquela “orla ferroviária deteriorada”, segundo suas palavras de então. Apresentou então um projeto para tornar o bairro uma área rentável. Depois de aprovado, imediatamente começou a retirada dos moradores do local, tanto da vila alta quanto da vila baixa, esta a parte histórica, de onde ele conseguiu o destombamento nos órgãos competentes, conseguindo para isto o laudo (bastante questionável, na época) de um arquiteto que conheceu na vila de origem nobre, cujo nome verdadeiro não era conhecido, mas que atendia pela alcunha de Marquês.

Este misterioso elemento apresentou um projeto para a construção de trinta torres de 50 andares cada uma, de forma que, de todas elas, podia-se ver o mar – desde que não houvesse outro prédio na frente, claro – sendo que a que dava a melhor visão e era a mais cara seria construída no local de uma casa velha e deteriorada de nome Castelinho. Não por acaso, claro, esta torre receberia o nome de Little Castle e seria a que teria os apartamentos mais caros da vila.

O Marquês seria, depois, apontado e marcado como traidor pelos moradores expulsos da vila, pois ele era a pessoa que mais havia lutado pela sua preservação, até aparecer a proposta milionária do ex-prefeito paulistano. Pasmem, ele chegou a distribuir panfletos para a venda dos edifícios na rodovia Índio Tibiriçá!

Uma enorme campanha publicitária foi feita a seguir, com o nome de “Viva como um Marquês na Village Vision of the Sea”, novo nome dado ao bairro, pois o anterior foi considerado nome de ralé. A linha da antiga Santos-Jundiaí foi rebaixada e colocada para passar por debaixo da terra, partindo da antiga estação de Campo Grande e somente saindo de volta à luz do sol na altura do 4ª patamar da serra. O pátio de Paranapiacaba também foi rebaixado, de forma que todas as manobras passaram a ser subterrâneas. Afinal, dizia o projeto, para justificá-lo, foi utilizada várias vezes a frase “trem é coisa para pobre”.

Apesar disto, o prefeito parece ter se arrependido logo depois dessa frase, pois alterou a campanha, depois do rebaixamento da linha, fazendo um acordo com a CPTM, que ofereceria um trem especial para o Village, chamado de “Brazilian Orient Express” com tarifas diferenciadas e metais folheados a ouro, trem que correria paralelamente aos trens normais da empresa e que não pararia em nenhuma estação que não fosse a estação da Luz e a terminal, em Village, renomeada como “Kanssad Station”.

Paranapiacaba em 2030

Em 2016, os prédios do Village já estavam prontos e o pátio subterrâneo e o Orient Express já estavam funcionando. O mar podia ser visto por (quase) todos que lá viviam uma vida nabanesca. As antigas casinhas de madeira e de alvenaria e todas as instalações ferroviárias da superfície foram demolidas, com pouquíssimas exceções: o girador foi transformado em carrossel de cavalinhos para as crianças do condomínio, o relógio da velha estação foi adaptado para relógio de ponto dos funcionários do Village, o Bar da Zilda virou um restaurante de luxo (Zildda’s Lounge and Sea Food) e uma das casinhas foi alugada para o Marquês, que ainda morava por lá.

O problema foi: o que se fazer com o Marquês? Ele, imediatamente após receber o dinheiro pelo pagamento do projeto, abandonou a família e gastou tudo nos bordéis de Santo André. Voltou ao Village em 2016 em farrapos e pedindo esmolas. Como diversos moradores acharam até interessante esse personagem nauseabundo, resolveram-lhe dar a casa que havia sobrado para morar e adote-lo como “mendigo oficial”, ganhando um salário mínimo por mês e tendo direito a usar a casa sem pagar o aluguel, apenas as despesas. Do outro lado, ele teria de esmolar das 8 da manhã às 5 da tarde, com direito a uma hora para almoço – por conta dele.

A vida seguiu como um sonho para todos até que veio o Grande Desastre de 2030. Uma das locomotivas da concessionária das linhas explodiu (uma locomotiva a vapor que usavam lá em baixo para manobras e que tinha sido abandonada pela ABPF, revoltada com a reforma da velha vila) e tudo veio abaixo. O buraco que se formou na superfície acabou tragando 15 dos 30 prédios e houve muitos mortos e feridos.

O Marquês ajudou a todos como foi possível e com isso ganhou novamente o respeito pela comunidade. Só que a vida no condomínio, após todos os reparos necessários, que duraram cinco anos, jamais foi a mesma. Os prédios que sobraram foram sendo abandonados aos poucos e passaram a ser invadidos por migrantes bolivianos e venezuelanos que fugiram de Evo Morales e do filho de Chavez, Mollo (já que o Chavez original já havia falecido, nomeando em seu leito de morte seu filho como Supremo Mandatário da Venezuela Bolivariana).

Em 2044, o ex-prefeito Edilberto Kanssad retornou reeleito, já com 84 anos de idade, com a plataforma de governo “Vamos revitalizar o Muquifo da Serra”, o nome pelo qual passou a ser conhecido o ex-Vision of the Sea após seu abandono e posterior invasão. Propôs, então uma ideia revolucionária: orientado por velhas fotografias, plantas e desenhos dos velhos armários mofados do Marquês do Funicular, que ainda estava vivo, sugeria recriar da mesma forma que era a velha vila de Paranapiacaba, além de trazer o pátio e a linha novamente para o lugar d’antanho.

Tudo foi aprovado e em 2050 a vila já estava pronta, com Little Castle e o Marquês (um pouco envelhecido, então), e até as locomotivas e carros abandonados de volta no local – ainda abandonados, é claro. Até a “ralé” – que Kanssad agora chamava de “velhos guerreiros da Nação”, fazendo discursos contra “a elite que destruiu Paranapiacaba há 40 anos” e sendo chamado de “líder das causas populares”.

Paranapiacaba em 2050

Enfim, esta é uma lição de como se deve empregar o dinheiro do povo em prol do povo.

2 comentários:

  1. Olá Ralph, sou um admirador do seu site e também do seu blog eu acompanho!!! bom queria que você publicasse sobre o Ramal de Sertãozinho ( como ele está atualmente )sem mais obrigado....

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  2. Nem brinque com isso meu amigo...bata 3 vezes na madeira...só de pensar em quantos locais ja foram destruidos para se fazer edificações pseudo modernas, ja me deixa triste demais da conta.
    Abraço.

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