sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

PRESERVAR TUDO???

O que sobrou preservado em Ibitiúva: alguém guardou a placa de concreto da plataforma, pintou de amarelo e preto e colocou no jardim público (Foto Aureliano Justo em 2007).

Na minha postagem de anteontem, Preservação – quem quer, afinal?, não fui nada claro no que quis dizer com preservação, pelo menos naqueles casos citados. Tanto que um leitor, em um dos comentários, afirmou, com toda a razão, que “devemos preservar a memória ferroviária, mas de maneira seletiva. Afinal, nem tudo o que temos por aí é passível de ser preservado, nem mesmo justifica-se preservar tudo sob pena de não avançarmos.As estações em geral valem preservar quando representam marcos arquitetônicos, ou então quando o local virou parte importante da história”.

Se considerarmos, por exemplo, preservação como tombamento, existem três graus: o federal (IPHAN), o estadual (CONDEPHAAT) e o municipal (muitos municípios, nem todos, têm seu próprio conselho). Os motivos para o tombamento de qualquer coisa (inclusive imaterial) variam dependendo do grau. Por exemplo, a estação de Ibitiúva deveria ter sido tombada em nível municipal, a meu modo de ver, pelo fato de ela ter gerado aquele povoado, hoje um distrito do município de Pitangueiras – apesar de a estação original, da qual jamais consegui uma foto, ter sido derrubada quando da construção da mais recente, por volta de 1928 (a data não é fixa, pois a troca se deu quando a Companhia Paulista comprou a E. F. São Paulo-Goiaz e refez a via férrea entre as estações de Passagem e de Bebedouro, situação que começou em 1926 com a compra e terminou em 1930, com a abertura do trecho de linha já com bitola larga).

Entretanto, é fato que a estação de Ibitiúva tem ao menos uma outra estação de mesma tipologia, e construída na mesma época: Passagem, ali perto e também em Pitangueiras. Isto significa que, se o Estado tencionasse tombar estações de diferentes tipologias, agiria mais certamente tombando apenas uma delas (o que não significa que necessariamente a outra deva ser abandonada). A nível federal, o único motivo a meu ver para se tombar uma estação como Ibitiúva seria o fato de ali ser algum local histórico por alguma razão e a nível nacional – ou se fosse ela a única estação da Companhia Paulista a ser tombada no Estado de São Paulo, o que seria um tanto , digamos, inesperado.

A meu ver, esse exemplo se estende às ferrovias em geral, e no caso dessa estação, seu tombamento seria justificado a nível municipal, apenas. Discussão já um tanto estranha, visto que o imóvel já foi literalmente “tombado” – demolido – há pelo menos oito anos.

Preservação, para mim, não significa necessariamente um tombamento oficial – seria um absurdo, realmente, tombar as aproximadamente 800 estações ferroviárias do Estado simplesmente por serem elas estações. E então, como justificar o não tombamento de outros imóveis ferroviários, como armazéns, depósitos, casas de turma, casas do agente da estação, casa do telegrafista, o leito da ferrovia, enfim, todo o patrimônio ferroviário do Estado ou brasileiro, nesse caso? Realmente, não faz sentido.

Acho, sim, que cada um deve lutar pela preservação do patrimônio mais significativo de cada cidade deste País e isso não significa tombamentos em massa a partir de agora, mas sim, educar o povo para se importar um pouco mais – no caso, acho que muito mais – com a nossa história.

Há alguns (poucos) exemplos de preservação de fachadas de casas antigas, com um trabalho de arte significativo que as torna bonitas, em conjunto com a construção que se faz por trás delas. Há a conservação de casas sem interferência do poder estatal, simplesmente porque alguém cuida delas. Enfim, como já citei em uma postagem mais antiga, trata-se do Instituto de Preservação do Povo – ou “Caboclo”, com a nossa população pelo menos um pouco mais instruída a conservar o que é antigo, histórico, representativo e belo. Claro que cada um desses adjetivos (com exceção do “antigo”) é discutível. Mas que cada um defende o que pensa, sem pensar somente em derrubar algo para construir um edifício de apartamentos em cima ou transformar o terreno em estacionamento, ou derrubar algo somente porque, abandonado, enche de vagabundos. Ou seja, pensar um pouco menos em dinheiro e ser um pouquinho mais idealista.

Afinal, quem preserva a história ajuda a construir uma nação.

2 comentários:

  1. Também não sou favorável a preservar tudo o que existe. E também acho que a educação seja a chave para esse problema. Entretanto, não concordo com a visão de que preservar é sinônimo de congelar e que demolir é garantia de "progresso". Quanto às estações, não sou favorável a preservar somente algumas delas, como se a memória fosse mantida "guardando-se" uma de cada tipo. Essas coisas (principalmente as ferroviárias) só fazem sentido quando analisadas em conjunto. Se Ibitiúva tem duas estações iguais, é um caso tão notório e deve ter tantas justificativas, que todas elas serão mais motivos para que ambas sejam preservadas (e não que uma delas seja demolida, como se estivéssemos numa Arca de Noé). Já nos curvamos demais aos interesses imobiliários, tanto que os prejuízos coletivos há tempos já saíram do campo "memória" e "cultura" e passaram para o assunto saúde, meio ambiente, trânsito, qualidade de vida etc.
    Imagino Ouro Preto adotando a filosofia do "um de cada". Tá certo que São Paulo detestaria ser comparada à Ouro Preto, então vamos pegar exemplos de empreendedores consagrados, como os Europeus e Americanos. Será que eles se mantém onde estão adotando a filosofia do "um de cada" ou afinando o equilíbrio entre o ORGULHO de sua história (que não temos) e desenvolvimento sustentável (que não temos)? Acho que somente dessa forma é que o povo se torna capaz de se fortalecer e forjar seu futuro de forma eficiente. São Paulo, o estado mais "desenvolvido" do país está longe no ranking da preservação. Nas ruas dificilmente se acredita que o patrimônio cultural, além de tudo, seja também um instrumento de desenvolvimento. Precisamos de educação. Quebrar preconceitos arraigados até de forma familiar. Desfazer verdades cristalizadas. É tudo muito triste. Os paulistas têm tudo para ser exemplo até nisso: preservação. E quando isso acontecer, o país inteiro irá mais uma vez seguir esses passos também.
    Enquanto isso, "aprendemos" mais facilmente com os maus exemplos.

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  2. Não se deve sair preservando tudo, mas também não se deve demolir tudo também.

    O ideal seria um estudo para verificar a viabilidade desta. Estações que contribuíram historicamente para o crescimento de um povoado/vilarejo ou que contribuiram para grandes eventos da história brasileira devem ser preservadas.

    Seria o caso de estações como Chiador(MG) e Porto Novo do Cunha(Hoje Além Paraíba, MG) que hoje encontram-se abandonadas.

    Outro caso seria a estação de Jaceruba, em Nova Iguaçu(RJ) que contribuiu com o abastecimento de água da capital fluminense e hoje encontra-se fechada.

    Enfim, esse raciocínio também se aplica não só as ferrovias como as edificações históricas dos municípios brasileiros.

    Abraço

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