sábado, 20 de fevereiro de 2010

PERIGOSAS PREVISÕES

Anuncio publicado em 18 de janeiro de 1948 no jornal Diário de São Paulo. O terreno estava junto à estação 15 de Novembro, na Central do Brasil, entre as estações de Itaquera e Guaianases, hoje um bairro bastante carente de infraestrutura e super-povoado.

Meu saudoso sogro dizia que “era melhor um mau plano do que plano nenhum”. Apesar do fato de que muitos planos não dão certo (por isso existem os “planos B”), planos e projetos continuam sendo feitos. Mesmo que sejam nos nossos sonhos. Ler jornais antigos sempre nos ensina muito sobre isso.

Hoje foi dia de ler jornais antigos. Pela manhã, li o blog “100 Anos Atrás” do Estadão, que mostra algumas notícias publicadas pelo jornal exatamente cem anos atrás. Depois, a convite de meu filho Alexandre, fui ao Arquivo do Estado, na rua Voluntários da Pátria, já que ele queria pesquisar em jornais sobre futebol. Aliás, jornais não tão antigos assim.

Eu já fui mais “agressivo” e fui atrás de jornais de 1948, mais especificamente o Diário de São Paulo de janeiro e fevereiro daquele ano. Foram três horas de pesquisas, não muito especificas: eu fui apenas lendo e vendo o que poderia me interessar. E não somente acerca de ferrovias, mas também sobre qualquer outro assunto que me chamasse a atenção.

Descobri, por exemplo, que o pedágio da via Anchieta, que cheguei a conhecer nos anos 1950 e 1960 e depois foi desativado (para ser reativado, creio, nos anos 1980, em pontos diferentes), foi inaugurado no início de fevereiro de 1948. A rodovia já estava em atividade desde 1944, mais ou menos. Interessantes foram as previsões da Sorocabana. Ela estava eletrificada até Iperó desde 1944, e havia trazido uma série de locomotivas elétricas e diesel, e estava empolgada. Lançava apólices no mercado, fazendo previsões de desempenho e números futurologistas. Havia propaganda dessa venda de apólices no jornal, pelo menos uma vez por semana, e também uma reportagem que mostrava a intenção de que ela se tornasse a “maior ferrovia da América do Sul” em vinte anos.

Enquanto isso saía nos jornais, saía também que a Mogiana e a Paulista entravam em greve. Elas eram privadas, ao contrário da Sorocabana, estatal paulista desde 1905. Pagava melhor aos seus funcionários do que os empresários mais cuidadosos com seus lucros – governos nunca se preocupam muito com isto. Mas a Sorocabana não era tão mal administrada assim naquela época.

No Estado de cem anos atrás, a “campanha civilista” de Rui Barbosa à Presidência da República nas eleições de março – o novo Presidente tomaria posse em novembro de 1910 – tomava as primeiras paginas do jornal já havia dois, três meses (acompanho-o diariamente). O Estado queria porque queria que Rui vencesse e sabia que não era fácil. As notícias, como eram escritas, no entanto, davam a impressão que tudo seria maravilhoso para Rui. E sabemos que não foi. Hermes da Fonseca venceu as eleições, para desespero dos paulistas.

No caso da Sorocabana, vinte anos depois da notícia acima citada, estava a ferrovia numa situação difícil, assim como todas as outras: a decadência, que já acontecia em 1948, chegou a níveis muito maiores do que qualquer previsão em 1968. Formou-se a Fepasa três anos depois disso, empresa que durou pouco mais de 25 anos, tendo sido leiloada praticamente sucateada em 1998.

Casas que eram anunciadas como grandes investimentos em bairros de São Paulo já seriam demolidas em sua grande maioria trinta anos depois, dando origem à muralha de prédios que assola São Paulo hoje em dia.

Ou seja, continue fazendo seus planos. Mas tenha um B, um C, um D...

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