segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O DILEMA DO POVOAMENTO

Bonde em São Paulo, anos 1950. Autor desconhecido, local não identificado — alguém se habilita?

Uma reportagem publicada hoje pelo jornal Valor Econômico, de nome “O TAV muda o destino das cidades”, entra em detalhes de como uma estação do chamado Trem de Alta Velocidade — ou, popularmente, “Trem-Bala”, pode levar ao desenvolvimento da cidade que a possuir. Cita como exemplo cidades do Vale do Paraíba paulista e fluminense.

Não vou entrar nos pormenores, mas se por um lado acho pouco provável que isso reflita tanto assim em termos de desenvolvimento e concentração populacional na área da estação e mesmo na cidade, pois elas já são basicamente cidades desenvolvidas que podem ser alcançadas hoje por diversos meios de transporte — o trem deverá apenas ser uma alternativa supostamente viável —, por outro lado, é notório que historicamente o trem realmente povoou áreas em todo o Brasil, notadamente no Estado de São Paulo e diversas outras linhas férreas do Brasil.

Cidades como Santo André, Francisco Morato, Rio Grande da Serra, Caieiras e Franco da Rocha — somente para citar algumas na área metropolitana de São Paulo — não existiriam pelo menos da forma em que hoje as conhecemos se não fossem as linhas da São Paulo Railway, depois E. F. Santos a Jundiaí.

Também é certo que cidades que foram “boca de sertão” por anos, quando determinadas linhas férreas chegaram até elas e pararam ali, esperando ou não prolongamentos, tiveram um desenvolvimento maior do que outras que também certamente cresceram, mas sendo apenas pontos de passagem não tinham o mesmo movimento. O grande exemplo paulista aqui foi São José do Rio Preto. Há várias outras pelo País afora.

E mais: estações do metropolitano de São Paulo também ajudaram o crescimento e a verticalização de diversos bairros de São Paulo: os locais por onde as linhas passaram desenvolveram-se e valorizaram-se muito mais do que outros mais distantes da rede metroviária. Como as estações neste caso são muito mais próximas umas das outras do que estações no interior, que têm em média 7 a 10 quilômetros entre uma e outra, o desenvolvimento não se dá exatamente nas estações, mas sim ao longo de toda a linha.

O mesmo ocorreu com as linhas de bondes, construídas em muitos casos com seus pontos terminais no meio do nada, que em pouco tempo se povoaram. Idem com as linhas férreas que se adentravam pelo sertão ainda praticamente inexplorado, caso típico do Oeste de São Paulo, onde cidades no início foram criadas a partir de uma estação e mais adiante no tempo passaram a ser construídas nos lugares em que a linha deveria passar às vezes num intervalo de alguns anos, como ocorreu na Nova Alta Paulista (Pompéia, Tupã, Adamantina, Dracena e outras).

Aí vem o dilema: naquela época (final do século 19 e início do século 20), o povoamento era algo desejado e necessário. Hoje, com o que se aprendeu de bom e de ruim nesse desbravamento — principalmente de ruim — o povoamento tanto dentro das cidades como entre elas já não é visto com bons olhos por uma boa parte da população.

O que fazer, então? Deixamos as cidades se afogar no caos da falta de transporte público de qualidade para que não se concentre população mais ainda em seu centro e entrono ou fazemos o que pedem para ser feito (no caso, exatamente esse “transporte público de qualidade”) para que quem ali já mora seja beneficiado? Não podemos em nenhum caso evitar que outros se mudem para esses pontos para que desfrutem da mesma facilidade. É um círculo vicioso. A decisão é dificílima, e podem ser ambas erradas. Ou ambas corretas.

9 comentários:

  1. Pela declividade suave e pela largura da avenida, diria que é a São João na altura da Duque de Caxias, vista de Oeste para Leste.

    ResponderExcluir
  2. Está com cara de ser a Avenida São João mesmo, até pelo grande número de edifícios na avenida, visto que a São João na época era um dos endereços mais desejados da cidade, e em 1957 não era comum tantos edifícios juntos fora da região central, mas ainda fica a dúvida de qual esquina seria essa?

    Abraços!

    ResponderExcluir
  3. São João? Pode ser... mas não no cruzamento com a Duque, pois essa rua parece que não continua do outro lado...

    ResponderExcluir
  4. Luiz Carlos disse

    Deve ser a São João pois nela os bondes trafegavam no miolo da avenida. O predio onde estão os dois bambinos tem angulo arredondado e deve estar ainda lá ficando fácil descobrir.

    ResponderExcluir
  5. Também achei que é a São João, esquina com a atual r. Ana Cintra, e batida a partir daquele prédio de arquitetura arrojada, me escapa o nome, na esquina da r. Helvétia. Talvez seja isso. Quanto à discussão urbanística, penso que São Paulo já chegou, infelizmente, ao ponto de ser o MAIOR PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA DO BRASIL. São milhões de adoecidos e adoescentes, pela falta de qualidade de vida, sobretudo na questão da mobilidade. Por isso, direto ao assunto: sou CONTRA o Trem de Alta Velocidade, nesse momento histórico. Sou a FAVOR de pegar esses R$ 34 bilhões e colocar TODO ELE na realização de 4 novas linhas de metrô (não contar a linha Amarela, já quase pronta), para ajudar São Paulo a reverter o drama do deslocamento. Isso um primeiro passo. O seguinte, uma politica nacional de desinchaço das grandes metrópoles, começando por São Paulo e Rio, que já estão sofrendo a deseconomia advinda do seu tamanho desmesurado, e isso pode atingir níveis catastróficos, com queda vertiginosa de renda e emprego. NÃO AO TAV! SIM A 4 NOVAS LINHAS DE METRÕ EM 5 ANOS. Abraço a todos.

    ResponderExcluir
  6. Eu aposto como todos, Av. São João; vou além, essa vidraça é familiar, posso dizer que, passando pelo horrível, mas já clássico minhocão (S. Paulo sem ele teria a mesma graça, hoje?) - é possível que reconheçamos esse edifício. Alías, houve uma minissérie da Globo (Queridos amigos) cuja direção alugou um apartamento na São João, cujas vidraças eram semelhantes. Aliás, o imóvl logo abaixo, à esquerda, não seria o Cstelinho da Rua Apa, palco de uma famosa tragédia familiar paulistana?

    ResponderExcluir
  7. Luiz Carlos disse

    Implantar um sistema TAV no Brasil equivale à um favelado comprar uma Ferrari(nova). Muito melhor seria distribuir os bilhões que serão gastos, numa rede de trens convencionais e modernos atendendo muitas areas do país. Só para lembrar os atuais trens convencionais na Europa trafegam a 120 km por hora.Em vêz dos
    600kms SP/CAMP/SJC/RIO acredito que daria para implantar uns 6.000kms em linhas tradicionais

    ResponderExcluir
  8. Luiz Carlos, é verdade o que v. diz. Só que as opiniões neste caso se dividem muito, pois sem dúvida seria muito bom ter um bom trem e rápido entre SP, Campinas e Rio. O caso, porém, é que dificilmente vao ocorrer uma coisa ou outra: não vçao fazer nunca o TAV e não vão voltar os trens de passageiros pelo Brasil também. Espero, no entantom, que eu esteja errado em pelo menos uma das duas opções...

    ResponderExcluir
  9. Bem, eu já descobri onde é aquela foto. É mesmo na avenida São João, e o prédio do qual foi tirada a fotografia está na esquina em "v" entre a avenida e a rua General Marcondes Salgado. A rua para onde saem os trilhos é a alameda Glette. E hoje quase toda a paisagem da rua está coberta pelo Minhocão, que na a partir do final daquela sequencia de casas que se via à direita entra hoje pelos terrenos, buscando a rua Amaral Gurgel.

    ResponderExcluir