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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

UM OLHAR SOBRE VELHAS ESTAÇÕES

Estação de São Manuel, 2011

Durante anos e anos... décadas... era sempre festa. As ferrovias chegavam a uma nova cidade, a uma nova fazenda e festejava-se a chegada do progresso. A liberação das correntes. Agora, todos podiam conhecer o mundo! Para se ir de uma cidade a outra não eram mais dias de viagem. Eram, dependendo da distância, apenas horas e com conforto. Pelo menos, algum conforto, não o de carro de boi, de uma mula, um cavalo, mas um carro com assentos e que era puxado por uma máquina bem mais rápida do que um animal.

Tinha banda (sempre), tinha discurso, tinha banquete para os figurões ou um copo de água para os curiosos... tinha o presidente, o imperador, o governador, o prefeito... quem não gosta de ver os figurões, mesmo quando eles são uns pulhas que só sabem pisar no povo? Tinha o vigário, o bispo... tinha festa - em Piracicaba, em 1877, foram dois dias de festa para a chegada do trem!

É verdade que em um mundo onde não havia muita coisa para se fazer, ouvir a banda e o político falando com voz empostada era uma forma de se passar o tempo. Nem pensar em televisão, computador, rádio, i-pad, cinema.
Estação de Sapucaí, 2010

Aos poucos, eles foram aparecendo. Mesmo assim, ainda era um grande programa ir esperar o trem passar, mesmo que não houvesse ninguém dentro dele que você conhecesse. Principalmente nas estaçõezinhas de "meio de caminho", ali na fazenda ou no lugarejo de dez casas no meio do nada. Isso não existe mais. O trem de passageiros não passa mais. Está bem, passa - na Vitória-Minas e em Carajás, mas é quase só. Na CPTM e no metrô ninguém espera o trem se não precisa dele. Ali tem gente demais, todos estão com pressa.

Ademais, chegaram a TV, o cinema, o rádio, o computador, o telefone celular. Piracicaba em 1877 não tinha nada disso. Se fosse hoje, uma inauguração de estação de trem para novamente receber trens de São Paulo por exemplo somente atrairia fanáticos como eu ou algum curioso que passasse por ali por acaso nesse momento. Os discursos, se houvesse, seriam curtos, por que ninguém hoje em dia os aguenta, nem aguenta uma bandinha.

Hoje, as estações estão com outras funções, pois o trem de passageiros não passa mais. Em alguns lugares, nem o de carga. E em alguns outros, nem trilhos há mais. Entre "outras funções", inclua também o abandono, a depredação, a demolição, o completo desaparecimento. Às vezes somente uma plataforma, às vezes nada, absolutamente nada, é até difícil localizar onde ela estava em seus dias de glória.

Ainda em Piracicaba, há 15 anos atrás - vinte anos depois do fim dos trens, eu perguntei a uma guarda civil onde era a estação ferroviária. A resposta dela: eu nem sabia que aqui tinha trem... Em São José do Rio Preto, o motorista do táxi disse a um amigo meu que nem imaginava que a cidade tivesse tido trens de pássageiros um dia... e isso vai ficando cada vez mais comum, num país sem cultura e cada vez mais sem trens.
Plataforma da estação de Caiubi, 2005

Em algumas cidades, a estação local ainda segue abandonada. Um exemplo? São Manuel. Está ali, junto à cidade, em frente a uma praça. Do lado do armazém e de uma casa de turma, também abandonados. Isso, fora o bebedouro de animais antigo para os cavalos que vinham trazer os passageiros. De vez em quando, passa um cargueiro da ALL. Até param nos desvios. Ninguém liga. O prédio da estação é lindo. Mas a população não se importa, provavelmente quereria vê-lo no chão. Não têm nenhuma intenção de verem restaurado um prédio que ainda é belo apesar do vandalismo. Ele, novo, como fizeram em Agudos, somente valoriza a cidade. Mas há uma diferença clara entre essas duas cidades tão próximas. Elas têm estações de mesma tipologia - e dentro desta, a de São Manuel é mais bonita - mas Agudos cuida e São Manuel não. Agudos tem diversas casas antigas muito bem conservadas. São Manuel não.

Pior ainda são as estações de bairros rurais, de povoados. Quando sobreviveram, estão geralmente abandonadas. O que fazer com um prédio isolado, que, restaurado, provavelmente logo estará pichado e vazio? É um problema, mesmo. Há muitos exsmplos. Um dos que me lembro neste instante é o de Sapucaí, em Minas, divisa com São Paulo.

Este texto é somente para pensarmos em cuidar mais de nosso patrimônio. De grão em grão, talvez um dia a galinha encha o papo.

sábado, 2 de abril de 2011

O RAMAL DE BAURU

Estação de Agudos, do ramal de Bauru, em 2009. Foto Daniel Gentili
Toco sempre na mesma tecla: trens de passageiros no Brasil. Um amigo meu desenterrou uma reportagem publicada em O Estado de S. Paulo no dia 2 de janeiro de 1983, dia seguinte à posse dos novos prefeitos em todos os municípios brasileiros. Grande parte dos trens de passageiros do estado de São Paulo haviam sido extintos havia sete anos: 1976 e o início de 1977 acabou com uma série de linha no interior. A alegação, sempre a mesma: falta de movimento, prejuízos enormes que a FEPASA não podia mais bancar.

Os trens, no entanto, eram ruins. Horários cada vez menos respeitados, falta de higiene, poucos passageiros por isso e também por causa de excesso de paradas. Viagens que de automóvel ou de ônibus se faziam em 1 ou 2 horas, com o trem, se fazia até em cinco. Reações dos passageiros e de prefeitos e vereadores à extinção, quase nenhuma. Sobraram apenas as linhas-tronco das antigas ferrovias com os passageiros: Mogiana, Sorocabana e Paulista.

Alguma reação tardia se esboçou. Em 1982, o trem Santos-Embu Guaçu e o Santos-Juquiá retornou à atividade. Agora, com os novos prefeitos, alguns resolveram rebuscar no passado algumas reclamações de velhos usuários saudosos dos trens. No caso, aqui, a reportagem falava do ramal Botucatu-Bauru, da antiga Sorocabana, extinto em dezembro de 1976. De acordo com o jornal, foram os prefeitos de São Manuel e de Lençóis Paulista que se aventuraram a conversar com Franco Montoro, que estava assumindo o governo do estado.

Vou transcrever agora alguns trechos da reportagem: "O trem não é uma condução veloz que possa competir com os ônibus em tempo de viagem, mas poderá resolver o problema da população de baixa renda e dos moradores dos distritos, alguns deles distantes das estradas asfaltadas, que ficaram sem o trem mas também não são servidos pelos ônibus". Interessante. Em resumo, o que se quis dizer é que para esse pessoal serve qualquer coisa, já que nem aos ônibus interessava aqueles percursos. Ora, pensar em oferecer trens modernos nem pensar. Que voltassem os trens obsoletos que circularam até 1976.

Mais uma: "(...) contesta os argumentos da FEPASA que a manutenção dos trens de passageiros é antieconômica e, por isso, não tem razão de ser. Na sua opinião, ferrovia, como qualquer outro transporte de massa, naõ deve ser encarado como algo necessariamente gerador de lucros, mas sim instrumento de prestação de serviços à coletividade (...) Não acha má até a ideia já levantada no passado por outras lideranças da região, que pediram a implantação do trem misto para atendimento da população rural". Como assim? Em minha opinião, o político está certo no caso dos lucros, mas totalmente errado quando diz, em outras palavras, que prestar serviço à população quer dizer - de novo - qualquer coisa serve. Trens mistos são lentíssimos e não têm horário a seguir.

Finalmente, uma pérola: "todos os distritos (eles falavam dos lugarejos que eram estações rurais, como Toledo, Igualdade, Inácio Pupo, Paranhos, Alfredo Guedes, Virgílio Rocha, Bom Jardim e Conceição) teriam no trem grande fator de progresso e bem-estar de seus habitantes". Ora! Esses trens passaram por mais de setenta anos por esses locais e já haviam desenvolvido o que tinham de desenvolver. Essas regiões, por diversos motivos, já estavam em decadência desde os anos 1950. A retirada dos trens já obsoletos somente os fez praticamente acabar (Bom Jardim e Virgílio Rocha, por exemplo). Agora, queriam dar-lhes um trem misto para retomar o desenvolvimento?

Não se sabe por quanto tempo se desenrolou o processo de tentativa de reativação do ramal. O que se sabe é que esse trem, assim como todos os outros, jamais retornou. A linha existe até hoje e é uma das mais importantes do sistema operado pela concessionária ALL, pois é por ela que vêm para Santos as cargas do Mato Grosso do Sul (o ramal sempre foi, na prática, a continuação da antiga Noroeste do Brasil).

Está na hora - hoje, mais do que nunca - de nossos políticos aprenderem a respeitar o povo que neles vota. Em qualquer caso, qualquer ramal que tenha algum trem de passageiros implantado deverá ter algo que seja de última geração. Trazer coisa velha simplesmente não faz mais sentido. Nem como trem turístico.

Em tempo: Toledo, Conceição, Virgílio Rocha, Bom Jardim, Inácio Pupo, Paranhos... praticamente não existem mais.

sábado, 14 de agosto de 2010

UM PASSEIO PELA SOROCABANA

A estação de São Manuel estava assim há um ano atrás (foto Luciano Secato). Hoje, está pior: por exemplo, o dístico escrito acima (São Manoel) já foi retirado ou roubado - ou caiu.

Hoje eu e meu amigo Douglas fomos até São Manuel. A intenção era verificar o estado das estações ferroviárias da cidade, São Manuel e Rodrigues Alves. Parece que a cidade não dá a mínima importância para as duas que tem, ambas no antigo ramal de Bauru. Este ramal, que liga Bauru à estação de Rubião Júnior, em Botucatu, sempre foi a continuação natural da antiga Noroeste de Bauru. Hoje, ambas são operadas pela concessionária ALL.

A ALL não tem a menor intenção de manter essas duas estações - nem a obrigação contratual. Certamente, a prefeitura da cidade também não pensa nisso. Isso está mais do claro no que claro no que vimos lá. A estação central está mais depredada do que jamais esteve. Toda a cobertura em volta da estação suspensa por madeiras já caiu. As madeiras ainda não, mas é questão de tempo. O piso de madeira da estação foi retirado (roubado). O prédio está às moscas, aranhas e tudo quanto é bicho. As portas e janelas estão escancaradas. A sujeira interna e externa é horrorosa.

Como o prédio está numa parte alta da cidade e naquele ponto, mais alta que a rua que tem casas com moradores, ninguém vê, ninguém liga. Assim como a União, dona da estação, não se preocupa de forma alguma em reparar e limpar o que lá existe - sempre lembrando que a estação central de São Manuel é uma das mais bonitas dessa antiga ferrovia e é uma construção que fará cem anos no ano que vem (2011) -, quem mora em frente também não se preocupa em ver o lixo ser jogado ali todos os dias. A União não cuida do que é do povo, nem o povo cuida do que é dele.

Tudo isso ocorre também em Rodrigues Alves, onze quilômetros mais à frente. Ali, a estação está em ruínas, juntamente com seu armazém e a casinha de funcionários em frente. O mato cresce por fora e por dentro, a concessionária cortou parte da plataforma de pedras à frente e largou o entulho ali mesmo, as abelhas zunem dentro e fora do prédio, o piso também foi roubado. Ao lado, o armazém já teve parte do telhado desabado. Trilhos arrancados do leito estão jogados ali de qualquer forma. Do outro lado dos prédios, uma terceira linha se tornou desvio morto.

Naquele pequeno bairro abandonado fora da cidade, ninguém se importa com tudo isso, mesmo porque pouca gente o vê. Ao lado, a entrada da sede da antiga Fazenda Simões, mas essa é outra história.

Isso tudo é uma tristeza.