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domingo, 4 de dezembro de 2011

AS VISITAS REAIS E O TREM

Caçada às perdizes na fazenda Morrinhos em 1931

As visitas reais ao Brasil - incluindo as visitas que Dom Pedro II fazia e que não eram, claro, "ao Brasil", mas, "no Brasil" - sempre tiveram, pelo menos até meados do século XX, o trem.

No caso das visitas de príncipes e monarcas ingleses, a primeira delas, que se deu em 1931, portanto quase 900 anos depois de estabelecida a atual monarquia inglesa, teve como personagens a Sorocabana, a Central do Brasil e a São Paulo-Paraná (esta, anos mais tarde, incorporada pela Rede de Viação Paraná-Santa Catarina - RVPSC).

Em fins de março de 1931, o príncipe de Gales, Eduardo (que reinou de janeiro de a dezembro de 1936 como rei Eduardo VIII, tendo renunciado então para se casar com uma plebéia) e Jorge (o príncipe gago "Bertie" (que reinou de 1936 a 1952 como Jorge VI, pai da atual rainha Elisabeth II) visitaram o Brasil - mais precisamente, os estados de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Ficaram por aqui cerca de uma semana e foram a Belo Horizonte, Rio, São Paulo, Cornélio Procópio (aqui, onde ficavam as terras da Paraná Plantations, no empreendimento imobiliário mais bem sucedido do mundo até então, que deu origem a Londrina e outras cidades do norte do Paraná) e... Botucatu.

Botucatu? Sim, na fazenda Morrinhos, de Lineu de Paula Machado, onde ficava esta estação. "Às 8 horas dava entrada nessa estação o grande especial de Suas Altezas, que era composto de 9 carros e conduzido pela locomotiva 809, tendo como maquinista João Antonio e chefe de trem Filenno Bucci. O desembarque da comitiva se deu às 13 horas, estando SS. AA. acompanhados pelas seguintes pessoas, (entre outras) (...) Dr. Lineu de Paula Machado, Dr. João Teixeira Soares, (...) Carlos Chagas, (...) e Dr. Gaspar Ricardo Junior, chefe da 4ª divisão, que representava a Sorocabana. Logo após o desembarque, dirigiram-se todos ao "Haras Expedictus" da fazenda Morrinhos, onde visitaram suas principais instalações. O pavilhão de caça, destinado exclusivamente a SS. AA., foi transformado em acomodações, decoradas finamente. (...) A excursão terminou às 23 horas e (...) Às 23:27, partiu desta Estação o Especial de SS. AA., com destino a São Paulo (...)".

Lá teriam caçado perdizes, "esporte" que muito agradava às nobrezas inglesas. O trem deve ter vindo diretamente de Ourinhos, onde haviam chegado os príncipes no dia anterior provenientes de Cornélio Procópio, na linha da São Paulo-Paraná. De Paula Souza seguiram para São Paulo e dali para o Rio e Belo Horizonte.

Em São Paulo, Eduardo fez uma visita à Casa Allemã, na época tradicional loja chic da cidade e sita à rua do Arouche, onde foi recebida pelos proprietários. Como sempre se fala que Eduardo tinha uma enorme simpatia pelos alemães e pelos nazistas de Hitler...

Em 1968 foi a vez da Rainha Elisabeth e do Príncipe Phillip visitarem o Brasil. Em São Paulo, inauguraram o Museu de Arte da Avenida Paulista. Conta-se também - não vi nenhuma evidência fora essa narrativa, feita por um senhor de Araras - que o príncipe foi de trem da Paulista para a estação de Elihu Root, onde visitaria uma fazenda da região:

"A estação ainda estava bem cuidada, o chefe com o uniforme impecável, enquanto a locomotiva a vapor, com o número 23 ou 25, não me lembro exatamente, chegava com duas bandeiras fincadas à sua frente, uma inglesa, outra brasileira, puxando um carro de administração; eu não me lembro se havia mais um carro de apoio ou não. A máquina era a vapor, sim, embora elas, nessa época, raramente passassem por ali. O príncipe desceu, cumprimentou meus filhos, crianças ainda, e entrou num jipe que também tinha duas bandeiras e o levou até a fazenda Santa Cruz".

Nas visitas mais recentes do príncipe Charles, por exemplo, sabe-se que ele passou longe das ferrovias por aqui. Por que terá sido? Alguém pode sugerir algum motivo para isso ter acontecido? Hein?

sábado, 26 de março de 2011

TEMPO RELATIVO

Primeira Guerra Mundial - França
Há dez anos atrás, houve o ataque às torres gêmeas em Nova York. Há vinte, estourou a Gurra do Golfo. Há trinta e sete, a guerra do petróleo entre Israel e o Egito. Há quase cinquenta, a crise dos mísseis dos EUA e Cuba. Todos fatos dos quais me lembro, alguns mais, outros menos, mas lembro-me disso acontecendo. Pelos jornais e pela televisão, claro.

Não parece tanto tempo assim, para mim, mas, de trás para a frente, na crise dos mísseis, eu tinha apenas dez anos de idade. Era um mundo diferente não somente no que me cercava, mas também em como eu percebia a realidade. Afinal, era uma criança. 49 anos atrás, eu apenas acompanhava e não tentava entender por que as coisas aconteciam. Mas 49 anos são sempre 49 anos, certo?

Errado. O conceito de tempo, pelo menos para mim, varia dependendo principalmente de dois fatores: primeiro, eu já estava vivo na época. Segundo, eu não era nascido. Parece que tudo muda no ano de 1951, assim como tudo parece mudar depois do ano de 1956, ano do qual começo a me recordar de minha vida. Entre 1951 e 1956, tudo que sei de minha vida são contados pelas pessoas que me conheciam e cuidavam de mim, ou por fotografias. Apenas alguns flashes me vêm à memória às vezes, mas não dá para ter certeza se são de uma visão real ou... ? Não sei se é assim com todo mundo.

Portanto, 49 anos para trás, para mim, em 1965, por exemplo, quando eu tinha 14 anos, me levam ao ano de 1916 - Primeira Guerra Mundial! Naquela época, para mim, isso já eram tempos remotíssimos - mas não me parecem tempos remotíssimos aqueles em que, 49 anos atrás a partir de hoje, eu ainda estava estudando no ginásio do Colégio Visconde de Porto Seguro. Por que será que isso acontece?

Outra coisa curiosa é que, quando me recordo da Guerra do Golfo, por exemplo (1991), tento me recordar como estava minha vida nessa época. Onde eu trabalhava, que idade tinham meus filhos, o que minha esposa estava fazendo... essas coisas. Às vezes eu me surpreendo quando junto os cacos: "puxa, mas nessa época é que foi a guerra? Nem lembrava que, nesta memsa época, eu estava fazendo isso ou aquilo".

São apenas constatações que mostram que o tempo parece passar de forma diferente de acordo com a época. Outro dia estava eu vendo um filme ambientado em 1935 (mas produzido no final dos anos 1980). Não parece uma coisa tão diferente de hoje, no sentido em que já havia automóveis, telefones, aviões, rádio, casas, prédios, pessoas vestindo roupas não tão diferentes das atuais (lembrando que moda é moda)... até televisão já existia, embora fosse algo raríssimo (basta lembrar que a coroação do rei Jorge VI da Inglaterra, em 1937, foi televisionada). Eram, no entanto, rudimentares em comparação ao que existe hoje, mas já os havia!

Porém, olhar algo em 1900... aí, sim, parece muito diferente! Não havia automóveis, aviões, radio, televisão, a moda era muito diferente da que começou a surgir depois da Primeira Guerra... telefone havia, mas era tão raro que somente pouca gente os possuía. As casas eram cheias de adornos (bonitas, pelo meu gosto!), prédios tinham no máximo 3 ou 4 andares... Era a Idade da pedra!!!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

UM FILME PARA O IMPERADOR DO BRASIL


Hoje vi por acaso na Internet a indicação de um Oscar para um filme de nome "O Discurso do Rei". Seria um filme sobre um rei, mesmo? Gosto dessas coisas. Fui conferir. O desinformado aqui nunca tinha, pelo visto, ouvido falar do tal filme. Mas li a sinopse e gostei. O rei Jorge VI, pai da rainha Elisabeth II, é o astro principal, representado pelo simpático Colin Firth. Certamente vou assistir ao filme, que, segundo o que li, entra em cartaz no Brasil no final de janeiro - se bem que, para alguém que não tem paciência para ir a cinemas, vou assisti-lo mesmo quando chegar aos DVDs nas "boas locadoras do ramo".

Não é, evidentemente, o primeiro filme sobre um ou uma monarca. Diversos já estiveram na tela, principalmente os ingleses. Vejam o caso de Henrique VIII no seriado The Tudors, já em sua quarta temporada com suas seis esposas e guerras imbecis. Esta última temporada, aliás, termina exatamente hoje aqui na terrinha, com a morte do rei e sua sucessão por seu filho Eduardo VI.

Houve muitos monarcas na Europa e apenas quatro aqui na América: dois no México, cujos reinados não duraram mais do que seis anos juntos, e dois aqui em Terra Brasilis. Dois imperadores, na verdade: Pedro I e Pedro II. Fora, claro, Dom João VI e sua mãe Maria I, reis de Porugal que reinaram também por aqui entre 1808 e 1820.

Pedro I já teve seu filme em 1972: por mais que se critique a atuação de Tarcisio Meira, feita na época da ditadura militar etc., foi uma tentativa de se retratar o monarca e sua importância indiscutível para a própria existência do Brasil, com todos os defeitos que ele certamente teve.

Já seu filho Pedro II, pelo menos que eu tenha conhecimento, jamais teve o seu. Para mim, um verdadeiro absurdo. Sua vida num filme benfeito certamente seria muito bom de se ver. Poderia até ser feito por americanos, mestres em fazer filmes de época - apesar de seus inúmeros e absurdos erros anteriores, especialmente em filmes sobre outros países. Em termos de filmagem, no entanto, são bons demais. Basta juntar a isso um diretor e produtor realmente interessados em não retratar um Brasil com erros, principalmente quando montam cenários iguais aos do México num filme que deveria se passar aqui.

Se o filme for sério, então, melhor ainda - não com aquela mania dos brasileiros de caçoar das coisas que não necessariamente são merecedoras disto. Já vi muitos exemplos de filmes que denigrem nossos costumes de forma mentirosa e irreal. Pedro II tem uma biografia muito interessante: sua cultura, seu interesse pela cultura, suas viagens pelo planeta numa época em que tudo era difícil e demorado, seu drama com duas mortes prematuras de dois filhos herdeiros - os dois Afonsos, sua conversa com Graham Bell na feira internacional dos Estados Unidos em 1876, sua deposição e seu governo, sem contar sua atuação na Guerra do Paraguai, em diversas revoluções internas, nos problemas com a libertação tardia dos escravos e sua deposição, já doente, em 1889.

Um filme que, bem trabalhado, daria com certeza um dos épicos do cinema mundial. Por que ainda não agarraram esta oportunidade, eu realmente não sei. Mostra, realmente, que temos vergonha de nosso passado... ou uma total falta de interesse por aquele que, depois de seu pai, foi o maior responsável pela unidade dos brasileiros num enorme país.