Ontem fiz sessenta e três anos de idade. Muito, né?
Eu sempre fui uma pessoa que conhecia a família que tinha. Quando digo "conhecia", refiro-me ao fato de ser a família inteira. Ou, pelo menos, queria saber quem eram. Sabia, desde os nove, dez anos de idade, praticamente toda a árvore genealógica da família de minha mãe. A da minha avó materna era enorme e facilitava o fato de que em todos os aniversários dela (17 de julho) e de sua irmã Angélica (a tiozona de todos, que não teve filhos - 25 de novembro), além do aniversário de casamento desta mesma tia (28 de setembro), eram comemorados na casa de minha avó na Vila Mariana (às vezes na casa de minha tia), por causa de meu avô Sud, que sempre ajudou a todos e mesmo depois de sua morte então, as festas foram na casa dele, até a morte de minha avó (1987).
Já a família de meu pai eu conhecia pouco. Claro que conhecia os irmãos dele e meus primos, mas indo para a parte de meus tios-avós, era mais difícil. A família de minha avó paterna estava em grande parte em Joinville e a de meu avô, espalhada por Minas Gerais e Rio de Janeiro; poucos moravam em São Paulo.
Mesmo assim, fazia o possível. Alguns, conheci somente como quadros na parede. Meu próprio avô, do qual acabei sendo biógrafo (Sud Mennucci), era um quadro na parede, como o eram também tios, primos, bisavós e até trisavós.
Quando nasci, em São Paulo (13 de novembro de 1951), o que acontecia pelo mundo? O jornal O Estado de S. Paulo mostrava em sua primeira página uma conferência nas Nações Unidas, cuja relação dos ocidentais com os russos era difícil por causa da Guerra da Coreia, que comia solta. Na Argentina, Peron acabava de ser reeleito presidente e Evita ainda estava viva. Os egípcios bloqueavam a guarnição britânica no Canal de Suez. O porto de Alexandria estava paralisado. Na Inglaterra, o rei George VI convalescia nos jardins do palácio, mas ele morreria poucos meses depois, já em 1952. Truman e Churchill encontrar-se-iam em janeiro em Washington. Só se falava em guerra, mas a Segunda Guerra já havia acabado havia seis anos.
Eu fui crescendo - em 1956, fui para os Estados Unidos com meus pais, onde passamos um ano, por causa de um curso que ambos fizeram, Eu fui para o Kindergarten em Urbana, Illinois. Disso eu já me lembro, e de mais muita coisa.
Em 1958, entrei no primeiro ano primário do Colégio Porto Seguro, base da minha vida. Eu sempre gostei de lá, onde passei boa parte dos meus onze anos seguintes. Meus maiores amigos são gente de lá.
Sempre gostei de "fazer anos" com festinhas em casa. Alguns colegas vinham de carro com meu pai - que me buscava todos os dias na escola na Praça Roosevelt no seu Studebaker 51 (mais tarde, nas duas Kombis que ele teve em seguida) - para almoçar e participar mais cedo da festa. Eu ganhava presentes, que punha sobre a minha cama. Eu apertava os embrulhos - se eram duros, eu os abria, pois certamente eram brinquedos. Se eram moles, eram certamente roupas, que eu largava lá sem abrir mesmo.
O dia de meu aniversário foi sempre esperado com alguma ansiedade por mim. Apesar disso, no ano de 1988, nesse dia morreu um de meus maiores amigos do Porto Seguro: Roland Müller, fato que, por diversas razões, fiquei ciente apenas quatro meses depois.
Em 1962, com a Copa do Mundo, comecei a não somente gostar de futebol, mas a ser fanático por ele. Antes disso, não sabia de nada do assunto. Minha mãe me pôs em escola de dança (Poças Leitão, na rua Joaquim Floriano), aulas de ginástica na ACM (rua Nestor Pestana), piano (em casa), jiu-jitsu (na rua da Consolação) e me forçava a ler livros. Nunca adiantou, Durei pouco nos cursos e gostava mesmo era de ler revistas em quadrinhos. Acabei, depois de fuçar muito, tendo a coleção completa de O Pato Donald e passei também a ler as revistas do Super-Homem (hoje, DC Comics - compro até hoje, desde 1959).
Hoje em dia, posso dizer que há muito não sou mais um fanático por futebol. Sem saudosismo, posso garantir, o futebol valeu a pena acompanhar mais até a Copa de 1970. Depois disso, foi mudando muito e para pior, em minha opinião. Ainda assisto os jogos de meu time, o São Paulo, mas a Seleção Brasileira é apenas uma sombra de seu passado já faz muitas décadas. Para isso, muito contribuiu a falta de ligação afetiva dos jogadores com os times em que jogavam. Na Seleção, então, os convocados hoje em dia são praticamente desconhecidos, jogando na Europa e outros continentes. Acabou a magia, para mim.
Enfim, quando escrevi três livros, entre 1997 e 2003, um a biografia de meu avô Sud e os outros dois sobre ferrovias paulistas, minha mãe se espantou com o fato - como poderia eu, péssimo em redação e leitor de histórias em quadrinhos poderia estar escrevendo livros de história?
Terminei o Porto Seguro em 1969, no ano seguinte comecei a estudar Biologia na USP, fiquei apenas seis meses e larguei, para cursar química nos quatro anos seguintes na mesma universidade. Ali conheci, no primeiro ano, a mulher de minha vida - Ana Maria, linda, charmosa, inteligente e carinhosa. Casamo-nos em julho de 1974.
Trabalhei três meses no final de 1974 e início de 1975 na GTE Sylvania, para mudar para a Shell Química entre 1975 e 1980, passando para a DuPont em 1980, onde fiquei até 1995 e, depois, um ano na De Nora, em 1995 e 1996. Foi a época em que descobri parte do mundo: Estados Unidos e pequena parte da Europa.
Minha avó Maria morreu em 1987. Meu pai em 1996. Nesta época, comecei a ficar fanático pela história das ferrovias brasileiras, depois de uma viagem a Porto Ferreira, onde encontrei uma estação que já não funcionava como tal e trilhos enferrujados e não utilizados desde 1989. Quis saber por que isso havia acontecido.
Também em 1996 comecei a trabalhar com minha esposa, na firma que ela fundou para trabalhar com realocação de estrangeiros para empresas multinacionais. Estamos nisto até hoje.
Mamãe ainda vive, lúcida com 91 anos, mas a enorme família dela que conheci hoje se resume a meia dúzia de idosos, nos quais eu ainda não me incluo.
O que quis dizer com isto é que minha vida não daria um livro como o que fiz de meu avô Sud e como poderia fazer, se hoje tivesse tempo, sobre meu bisavô Wilhelm Giesbrecht, que viajou o Brasil inteiro projetando e construindo ferrovias e rodovias.
Meus três filhos me dão orgulho, sendo que a menina Veronica casou-se e hoje vive na Toscana com seu italiano. Ganhei um neto, Guilherme (filho de meu primeiro filho, Alexandre), hoje com seis anos - nome de seu tetravô, que fundou a "dinastia" Giesbrecht em terras brasileiras. Ganharei outro, soube hoje que será um menino, lá por março ou abril. Filipe continua solteiro, mas com uma namorada muito bonita, inteligente, culta e simpática.
Mas foi uma vida boa até agora. Conheci boa parte do Brasil justamente estudando as ferrovias nos últimos 18 anos. Tive meus bons e maus momentos, mas valeu a pena. Espero que continue valendo por mais muitos anos.
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
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Parabéns pelo seu trabalho, seu texto e principalmente pela passagem de mais uma primavera... Forte Abraço !!!
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