Estação de Vitoriana (ex-Victoria) em 2011. Foto Daniel Gentili
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A localidade de Vitoriana, um distrito pouco habitado e afastado da sede do município de Botucatu, já foi um ponto importante da ferrovia Sorocabana entre os anos de1888 e de 1954.
A linha, que buscava o centro de Botucatu para dali seguir para a promissora aldeia de Bauru (e também para a foz do rio paranaense Tibagy no Paranapanema), chegou a Victoria, nome original da estação em 1888.
Mapa da região, desenhado durante a revolução de 1924, quando os revoltosos fugiram de São Paulo
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Na mesma época, a Sorocabana havia ganhado a sua batalha de Pirro: conseguiu ficar com as linhas da Ytuana que vinham de Piracicaba por navegação fluvial através do rio Piracicaba e depois do Tietê, depois de longa batalha jurídica advinda dos famosos "direitos de zona" e ficou com as linhas férreas da concorrente que vinham de Porto Martins, no Tietê, e seguiam até a estação de Igualdade e São Manuel.
Porém, as linhas, além de terem bitola diferente (0,96 m contra um metro das da Sorocabana), eram mal construídas e teriam de se unir com as desta última, que estavam chegando ao mesmo ponto na mesma época. Isso significava altos custos não previstos para uma empresa que já não estava bem das pernas. Finalmente, em 1892, quebrou. Daí surgiu a CUSY (Companhia União Sorocabana-Ytuana), que viveu um longo período de dificuldades até ser adquirida pelo governo paulista em 1905.
Victoria acabou sendo a estação escolhida para juntar-se às linhas da Ytuana. Isto fez do lugarejo um entroncamento. O nome parece não ter sido nenhuma homenagem à rainha Victoria da Inglaterra, nem aos feitos da Guerra do Paraguay, mas, sim, à própria vitória jurídica contra o rival.
Mas as linhas, nem de uma ferrovia, nem de outra, eram maravilhas. Acidentes nas linhas próximas a Victoria não eram incomuns. O primeiro relatado ocorreu meses depois da inauguração do trecho Alambary-Victoria. No fim de novembro de 1888, houve um descarrilamento em Alambary, fazendo os passageiros pernoitar ali (outro lugarejo; pergunta-se: onde se enfiava esse pessoal?). Em 4 de dezembro, outro, perto de Piramboia, onde um dos carros rodou fora dos trilhos por mais de duzentos metros, sem também deixar mortos. Os dois foram relatados pela diretoria da ferrovia como "falhas do pessoal da manutenção".
Estação de Alambary (hoje Piapara), em 2002 - Foto Adriano Martins
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Outros desastres devem ter acontecido. Dois foram reportados e "descobertos" por mim na imprensa. Um em 1929, quando um acidente com um trem cargueiro matou o maquinista bem próximo a Victoria e outro em 1948, quando o trem noturno N-5 da Sorocabana sofreu dois descarrilamento seguidos mataram uma pessoa no primeiro, próximo à estação de Oiti, e, seguindo viagem mais rapidamente depois de conseguirem realinhar o trem nos trilhos, quase em Victoria outro carro de segunda classe descarrilou, gerando mais pânico e tentou incendiar a composição.
Em 1954, com a entrega da linha nova entre Conchas e Botucatu, que mudou totalmente o traçado entre as duas cidades, Victoria, que já se chamava Vitoriana desde 1945, foi desativada, junto com o ramal que seguia para Porto Martins.
De lá para cá, Vitoriana pouco cresceu. A estação, construída no mesmo estilo das estações erigidas por volta de 1911 na ferrovia (como Itararé, Angatuba, Luiz Pinto, Indaiatuba e Piapara, novo nome de Alambary), hoje funciona como escola. Bem conservada, perderu no entanto toda a cobertura da plataforma e seus dois blocos estão separados. Trilhos, claro, foram retirados logo após a desativação já há 60 anos.
domingo, 16 de novembro de 2014
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Boa Noite, Tenho a relatar do acidente gigantesco de 1938, quando em uma noite de muita chuva o trem entrou dentro dagua onde vieram a morrer muitos imigrantes. Sei disso pelo fato de meu avó trabalhar na Fazenda do Conde região de Vitoriana e nos falar desse acidente na época, e que nunca foi relatado pela imprenssa da época.
ResponderExcluirMeu pai trabalhava na E F Sorocabana na época desse acidente e nos contou havia uma ponte sobre o rio Capivara o rio transbordou e rodou a ponte, o funcionario que fazia a ronda naquela noite tentou sinalizar para o maquinista sobre a ponte porém o maquinista provavelmente estava dormindo e não viu a luz vermelha do lampião sinalizador, daí a tragédia.
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