Estação nova de Barretos, construída na linha do contorno ferroviário e entregue em 2002. A foto é da época e de autoria de Rodrigo Cabredo.
Desde os anos 1970, a Prefeitura e a Câmara da cidade reclamavam pela retirada da ferrovia, por que ela supostamente atrapalhava o trânsito rodoviário da cidade, pela falta de passagens de nível, perigo nas travessias... aquelas histórias de sempre que passaram a fazer com que o país tivesse ódio pelas ferrovias nos últimos 50 anos.
Apesar de todas as pressões, a FEPASA não aceitava a retirada, pois não queria arcar com os custos. Queria que a prefeitura custeasse a obra e, esta, recusava-se a tal.
Em 1998, conseguiu-se um financiamento para tal. Afinal, os trens de passageiros que ainda serviam a cidade haviam sido eliminados em 1997. A obra foi iniciada não muito tempo depois e concluída, como já dito, em 2002.
Sem trens de passageiros e com tráfego cargueiro bastante reduzido nesta época, a obra provou ter sido inútil. Praticamente trem algum passou pelo contorno já pronto, enquanto os trilhos da linha antiga foram erradicados logo a seguir.
Agora, 14 anos depois, vem a notícia de que houve malversação de dinheiro, como mostra o texto abaixo, publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo na data de hoje e reproduzida logo abaixo.
É assim que o Brasil trata o dinheiro arrecadado. Vejam a história.
Liminar
bloqueia R$ 15 milhões de Uebe Rezeck e mais 11 por improbidade na construção
de ramal ferroviário
20/12/2016 – Estadão
A pedido do Ministério Público Federal
em Barretos (SP), a Justiça determinou o bloqueio de R$ 14,9 milhões do
ex-prefeito da cidade, Uebe Rezeck – ex-deputado estadual pelo PMDB -, dos
ex-secretários municipais João Carlos Guimarães e José Domingos Ucati, de cinco
ex-funcionários do DNIT, de quatro construtoras e seus representantes legais.
Todos são acusados de improbidade na construção do Contorno Ferroviário de
Barretos.
As informações foram divulgadas nesta
segunda-feira, 19, pela Assessoria de Comunicação da Procuradoria da República
em São Paulo.
(O número processual é
0001329-82.2016.4.03.6138. A tramitação pode ser consultada em
http://www.jfsp.jus.br/foruns-federais/.)
A autora da ação é a procuradora da
República Sabrina Menegário.
Segundo a ação, o Contorno Ferroviário
de Barretos, com 12,2 quilômetros de extensão, tinha por objetivo eliminar o
conflito e a interferência da linha férrea no tráfego do centro da cidade.
A obra foi dividida em quatro lotes. Em
1999, época em que Uebe Rezeck era prefeito, João Carlos Guimarães secretário
de finanças e José Domingos Ducati secretário de Obras do município, foi aberta
licitação para a contratação de empresas para a execução dos quatro lotes do
empreendimento.
Na documentação do processo, constava
como fonte de recursos única e exclusivamente a Secretaria de Obras e Serviços
Urbanos de Barretos, que, segundo os gestores municipais, dispunha à época de
R$ 1,1 milhões.
Segundo a ação do Ministério Público
Federal, a licitação resultou na contratação de quatro empresas, uma para cada
lote, com previsão de execução da obra em 12 meses. No entanto, os preços
fixados na contratação das vencedoras da licitação somaram R$ 10,29 milhões,
valor muito acima do que dispunha a secretaria, ‘o que já era irregular, visto que
toda licitação deve contar com previsão de dotação orçamentária capaz de
assegurar o pagamento das obras e serviços’.
Para obter os recursos necessários, a
prefeitura firmou, em dezembro de 1999, convênio com o Ministério dos
Transportes que, após quatro termos aditivos, fixou o valor total de R$ 5,69
milhões para a execução dos lotes 1 e 2, com finalização prevista para dezembro
de 2002.
“Novamente, a prefeitura se comprometeu
com recursos que não tinha, já que sua contrapartida neste convênio, que previa
apenas dois dos quatro lotes, ultrapassaria os R$ 1,1 milhões que possuía para
os quatro lotes”, sustenta a Procuradoria da República.
“Ainda assim, não visando a finalização
dos lotes 1 e 2, mas para dar início aos lotes 3 e 4, a prefeitura de Barretos
solicitou a celebração de novo convênio com o DNIT, em novembro de 2002”, segue
o Ministério Público Federal. “Este novo acordo previa um valor total de R$ 6,9
milhões, com contrapartida do município de R$ 1,38 milhões.”
O valor deste plano de trabalho, aprovado
pelo DNIT, também era diferente do valor licitado contratado para a execução
dos lotes 3 e 4. “Mas, diferentemente do plano de trabalho apresentado, e
também diferente do valor já contratado, em dezembro de 2002, o convênio foi
firmado no valor total de R$ 1,5 milhões, valor insuficiente para a execução
das obras.”
Segundo a Procuradoria, ’em nenhuma
cláusula do convênio havia previsão de que a diferença dos valores seria
subsidiada com outras fontes, ou que o mesmo executaria apenas partes dos serviços
necessários para a implantação dos lotes 3 e 4, que também nunca foram
finalizados’.
Apesar de todo o valor investido, o
Contorno Ferroviário está inacabado. Pouco após o término da vigência do
segundo convênio, em 2008, o próprio DNIT solicitou a elaboração de projeto
executivo para a recuperação da ferrovia, ‘face às péssimas condições do que
foi construído, inclusive com estado avançado de erosão’.
Nova licitação foi realizada em 2010
para a recuperação e complementação do Contorno Ferroviário, com orçamento base
de R$ 16,27 milhões. “Este fato chamou atenção do Tribunal de Contas da União,
que instaurou processo para avaliar a legalidade, conformidade e economicidade
das obras complementares do contorno, constatando que esta nova contratação, na
verdade, faria a reconstrução total da obra, que não havia sido concluída com
os recursos dos convênios de 1999 e de 2002, mesmo o DNIT e o Ministério dos
Transportes terem aprovado suas contas, de forma ilícita’.
A ação de improbidade ajuizada pelo
Ministério Público Federal mostra que ‘ocorreu a imobilização de capital
público vultoso que não serviu para nenhuma finalidade’.
Segundo a Procuradoria, ‘atualmente há
necessidade de novo investimento, inclusive maior ainda, para a efetiva
implantação do Contorno Ferroviário’.
“Para tanto, o ex-prefeito e
ex-secretários de Barretos, bem como os responsáveis no DNIT, praticaram atos
que causaram grande prejuízo ao erário, ao promover a construção de obra sem
previsão de recursos suficientes e sem a fiscalização adequada. Assim como as
empreiteiras contratadas tiveram enriquecimento ilícito ao incorporar os
recursos públicos aos seus patrimônios, sem sequer finalizar a obra.”
Pedidos – Além da indisponibilidade dos
bens no total do ‘dano causado ao erário’, R$ 14,9 milhões, já decretada pela
Justiça, o Ministério Público Federal pede a condenação dos réus por
improbidade, com consequente ressarcimento integral do prejuízo.
A reportagem não localizou Uebe Rezeck e
seus ex-secretários municipais de Barretos. O espaço está aberto para
manifestação dos acusados pelo Ministério Público Federal.
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