sexta-feira, 3 de julho de 2015

O INTERIOR PAULISTA E OS TRENS: PIRACICABA, SP

A estação da Cia. Paulista nos anos 1940.
A cidade de Piracicaba, SP, teve linhas férreas e trens de passageiros por exatos noventa e nove anos. Para uma cidade que já era relativamente grande quando da chegada dos trens da Companhia Ytuana em 1877, estes, assim como para várias outras cidades do interior paulista que lutavam contra o isolamento de sua população e pelo transporte de sua produção agrícola - neste caso, cana-de açúcar - significaram a chegada de uma nova era.

Desde a proclamação da Independência, a cidade se chamava Constituição, e foi com uma placa portando este nome que a estação foi aberta no dia 20 de fevereiro de 1877, onde, "como parte dos festejos, constava a iluminação da fachada dos prédios públicos e particulares, nas noites de 20 e 21. Para uma cidade com três ou quatro quarteirões iluminados por lampiões a querosene, imagine-se o espetáculo de todas as casas a ostentar, nas janelas e portas, lampiões, lamparinas, velas ou fogueiras nas praças centrais". A cidade voltou a ter seu nome original - Piracicaba - apenas dois meses depois.
Localizção da estação da Cia. Paulista em mapa dos anos 1940.

A Ytuana chegou om festas, mas o serviço deixava a desejar. Na década de 1880, a Ytuana passou por crises financeiras bastante grandes. O trem para a cidade veio como consequência da ligação entre as cidades entre Jundiaí e Itu. A cidade de Piracicaba era outro objetivo bastante interessante, mas, como Itu estava localizada um pouco fora do caminho, a solução foi abrir um ramal a partir de Indaiatuba (saía de uma estação de nome Itaici) e seguir até, pelo menos, São Pedro.

Para completar: a cidade teve quatro estações da Sorocabana/Ytuana (Piracicaba, Barão de Rezende, Montana (ex-Chave) e Costa Pinto, além da estação de Artemis (ex-João Alfredo), no sub-ramal); e três da Companhia Paulista (Piracicaba Paulista, Taquaral e Tupi). Destas oito estações, apenas cinco estão em pé: as duas centrais e as de Costa Pinto, de Artemis e de Tupi. O restante foi demolido, sendo que de Chave e de Barão de Rezende não se tem registros fotográficos.

Este prolongamento do ramal, de Piracicaba a São Pedro, somente seria concluído em 1892. Antes, em 1886, abriu-se uma linha - um sub-ramal - que ligava a cidade (saindo da estação de Chave, depois Montana) ao porto de João Alfredo (hoje Artemis), no rio Piracicaba, de forma que isto permitisse a ligação por via fluvial até o Porto Martins, em Botucatu. Dali a linha férrea continuava até as imediações de Lencóis (hoje Lençóis Paulista).

Foram estas as linhas que se tornaram um mau negócio para a Ytuana. Por causa dela, a Sorocabana, com uma empurradinha do governo, acabou incorporando a ferrovia para "salvá-la", em 1892, ano em que a linha chegava a São Pedro. A operação formou a CUSY - Companhia União Sorocaba e Ytuana, que acabou juntando duas ferrovias que já tinham problemas, até falir, em 1903. A Sorocabana ficou com a União, que acabou vendendo-a ao governo paulista em 1905, que, por sua vez, a arrendou para a Sorocabana Railway, de Percival Farquhar. Em 1919 voltou para o governo do Estado.

O nome Ytuana desapareceu, embora a "linha Ytuana"- ou seja, os ramais Jundiaí-Itu-Campinas-Mairinque e o de Sao Pedro foram chamados por esse nome até o seu fim.
A estação da Sorocabana, reformada em 1944. Hoje serve como terminal de ônibus.

Toda esta história de trinta anos foi contada brevemente para mostrar por que a linha nunca teve um bom serviço na região de Piracicaba. Por causa disto, já em 1901, a cidade tentava convencer a Companhia Paulista, historicamente conhecida como a ferrovia mais eficiente do Estado, a "puxar", a partir de Limeira, um ramal para lá. Na época, apesar das promessas, o ramal não foi construído, mas, quinze anos depois, a empresa realmente o fez, chegando em 1917 a Santa Barbara (hoje Santa Barbara d`Oeste) e em 1922 a Piracicaba, em uma nova estação construída mais afastada do centro da cidade, no final da rua Boa Morte.

Mais uma vez a ferrovia foi recebida com festas. Até um arco do triunfo foi construído. A linha saía de Nova Odessa, da estação de Recanto, e tinha bitola larga (1,60 m), o que possibiitava ter trens diretos da capital paulista. O da Ytuana, agora Sorocabana, continuava com uma baldeação forçada em Jundiaí, fora o fato de ter um trajeto mais longo.

Era raro o caso de um a cidade do interior paulista ter duas linhas de duas companhias diferentes. Para Piracicaba, elas eram de características tão diferentes - bitola, tecnologia de construção (um ramal era mais de quarenta anos mais recente do que outro), distância, qualidade de serviços - que nem eram consideradas concorrentes, realmente. Enquanto a linha da Paulista servia realmente como transporte para a Capital e a Campinas, o da Sorocabana era mais um trem regional, que servia mesmo era para atender ao transporte regional de cidades como Indaiatuba, Capivari, Elias Fausto e Rafard - entre elas ou com Piracicaba. Poucos tomavam o trem para seguir para a São Paulo. Por sua vez, o tráfego entre Piracicaba e São Pedro era muito menor do que o do resto da linha da Sorocabana.
Localização da estação da Sorocabana nos anos 1940.

No final, já com a FEPASA, a cidade acabou perdendo as duas linhas de passageiros ao mesmo tempo: entre meados de 1976 (Sorocabana - jamais consegui saber a data e o mês exatos da supressão dos trens de passageiros, o que mostra a pouca importância que o piracicabano dava a esta linha nessa época) e fevereiro de 1977 (Paulista), a cidade ficou sem trens. Como cargueiros, eles continuaram cada vez menos frequentes até acabar por volta de 1990.

Os trilhos da linha mais velha foram retirados em 1969 (Piracicaba a São Pedro). Já a linha da Paulista foi totalmente abandonada após 1998. Hoje, se se encontrar trilhos desta linha na cidade, é simplesmente por acaso. Oficialmente, parece que a linha jamais foi suprimida e chegou a estar na concessão dada à Ferroban a partir de 1999.

A história dos trens em Piracicaba não é muito diferente da de outras cidades paulistas e mesmo brasileiras. A peculiaridade é a cidade ter tido duas linhas de companhias diferentes, que jamais foram unidas: elas se cruzavam na cidade com o auxílio de um pequeno viaduto. Na verdade, houve esta união, nos anos 1980, quando a estação da Sorocabana foi desativada. Os poucos cargueiros que chegavam à cidade foram desviados por uma linha métrica à estação da Paulista, com bitola larga. Mas pouco tempo mais sobreviveram esses poucos cargueiros. Os trens de passageiros já não existiam mais.

5 comentários:

  1. Faltaram as fotos e localização atual das estações ainda existentes entre Piracicaba e S. PEDRO. Ex.: Recreio e Charqueada...

    ResponderExcluir
  2. Ralph Mennucci giesbrecht, onde eu encontro dados sobre um mapa da linha férrea entre a estação de chave até a de Ártemis?
    Estou tentando fazer o traçado da linha, já fiz uma parte do caminho até Rio das Pedras passando por um bom trecho dela ainda conservado.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. olá, fiz um traçado da paulista até americana em cad.
      amaria conhecer o ramal de rio das pedras ate pircicaba

      Excluir
    2. olá, fiz um traçado da paulista até americana em cad.
      amaria conhecer o ramal de rio das pedras ate pircicaba

      Excluir