segunda-feira, 13 de julho de 2015

140 ANOS DA SOROCABANA

Trem aguardando partida na estação do Suarão, em 1956. Notar os caros de madeira (Autor desconhecido). (direita) O trem de passageiros chegando em Mongaguá, em 1986. (Foto J. H. Bellorio)

Nos seus 140 anos do início das suas operações, a velha Sorocabana não tem o que comemorar.

A empresa foi fundada em 1872 por Mathias Mailaski, um imigrante húngaro que desejava usar a ferrovia para exportar, via São Paulo e Santos, os tecidos de algodão de sua fábrica em Sorocaba. Entrou em operação três anos depois (1875) entre São Paulo e Sorocaba.
Carros Busch como este devem ter trafegado pelo ramal até os anos 1950 (Foto José Pascon Rocha)

Tinha, na época, as estações de São Paulo (não era ainda a Julio Prestes, mas ficava a uns cem metros dali), Barueri, Cotia (hoje a de Itapevi), São Roque, Piragibu e Sorocaba. As outras vieram aos poucos, à medida que era prolongada no sentido do rio Paraná.

Em 1892, foi unida à Companhia Ytuana, formando a Cia. União Sorocabana e Ytuana (CUSY), que desapareceu em 1903, com a falência da empresa. No ano seguinte, porém, ela foi arrematada pelo governo da União e vendida ao governo paulista em 1905, permanecendo apenas o nome da Sorocabana. De 1907 a 1919, a Sorocabana foi cedida em concessão ao grupo Brazil Railway Company, de Percival Farquhar.
TUE Toshiba sobre a ponte da Usina Indiana, na Serra de Botucatu, em 1960 (Acervo José David de Castro)

Em 1922, os trilhos chegaram a Presidente Epitácio. Nessa época, além da linha-tronco, a ferrovia também já possuia os ramais de Campinas, o de Piracicaba e São Pedro, o de Porto Feliz, o de Itararé, o de Piraju, o de Santa Cruz do Rio Pardo, o de Bauru e o de Borebi. Com o passar do tempo, possuiria também o ramal de Juquiá, a linha Mairinque a Santos e o ramal de Dourados.

Em 1971, 99 anos depois da sua fundação, foi encampada pela FEPASA. A esta altura, alguns ramais já haviam sido extintos (Porto Feliz, Borebi, Santa Cruz do Rio Pardo e Piraju). O nome forte "Sorocabana", porém, ainda sobreviveria popularmente, em menor escala, até hoje.
Estação de Itararé em 1912. Foto da Comissão dos Prolongamentos e Desenvolvimentos da Estrada de Ferro Sorocabana - Relatório apresentado pelo Engenheiro-Chefe Joaquim Huet de Bacellar em 31/01/1912

Em 1999, o que era Sorocabana em 1971 foi cedida em concessão à FERROBAN, que a repassou à ALL. A esta altura, outras linhas haviam sido desativadas: a Mairinque-Campinas (substituída pela linha Boa Vista-Guaianã, esta ativa até hoje), o ramal de Dourado e o de Piracicaba e São Pedro.

Os últimos trens de passageiros, no início de 1999, resumiam-se a um trem entre a Barra Funda e Presidente Prudente, na linha-tronco e no trem entre Sorocaba e Apiaí (e na CPTM, como trens metropolitanos). O primeiro foi desativado em janeiro desse ano e o segundo viveu até março de 2001. A CPTM ainda tem os seus.
Estação de Campinas da Sorocabana, sem data. Foto cedida por José David de Castro
Apesar de todas as claúsulas contratuais de arrendamento não permitirem, boa parte das linhas que foram concessionadas - no total, a linha-tronco, a Mairinque-Santos, o ramal de Juquiá e o ramal de Itararé e o ramal de Bauru - estão hoje quase completamente abandonadas.
Estação de Bauru, sem data. A Sorocabana foi a primeira ferrovia a chegar a Bauru, em 1905. Acervo do  Instituto Histórico A. E. Toledo, de Bauru

As linhas Boa Vista-Guaianã e a Mairinque-Santos são hoje, em conjunto, uma das principais vias férreas em funcionamento em São Paulo, se não a principal. Já o ramal de Juquiá segue totalmente abandonado desde 2003. O ramal de Itararé está sendo pouco usado. em certos trechos o movimento é quase nulo (Tatuí-Iperó). O ramal de Bauru está seriamente ameaçado de desativação, pois a antiga Noroeste do Brasil, hoje na prática uma continuação deste ramal, está sendo desativada.

Já a linha-tronco tem enorme movimento nos seus 43 quilômetros iniciais, utilizados pela CPTM (Julio Prestes-Amador Bueno), mas, daí para a frente, está abandonada até Mairinque. Daí para a frente, o uso da linhas depende do trecho e também parece ter um futuro negro. O seu trecho final, entre Presidente Prudente e Presidente Epitácio, já está paralisado há pelo menos dez anos.
Ruínas: em agosto de 2010, da estação de Gabriel Piza, em Taboão, São Roque, somente a fachada sobrevivia. Foto Eric Mantuan

No Brasil, um país onde se teima em remar contra a corrente, o futuro das ferrovias é a lata do lixo.

Um comentário:

  1. Olá Ralph. Excelente post. Estive em Presidente Prudente há mais ou menos 30 dias. A Justiça Federal de Pres. Prudente determinou que a ALL faça imediatamente as intervenções necessárias no trecho Rubião Júnior a Presidente Epitácio para que ele esteja ativo em 30 dias. Já se passaram mais de 30 dias e, mesmo com uma multa diárias sendo aplicada, a ALL não trocou um dormente sequer. A via na chegada de Prudente para quem vem de Espigão está completamente soterrada no trecho de um profundo corte existente atrás da ceagesp na entrada da cidade. Prova de que não passam trens ali há muito tempo. A ALL não respeita nem decisão judicial e o governo não faz absolutamente nada a respeito.

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