segunda-feira, 27 de maio de 2013

O ÊXODO RURAL CHEGOU ÀS CIDADES MENORES?

As madeiras da estação de Santa Silveria estão caindo

Então.

No Brasil do século XIX, era rara - raríssima - o município cuja população urbana era maior do que sua população rural. No século XX, isso começou a se alterar, pela facilidade da mobilidade das populações aumentando, primeiro, com as ferrovias, depois, aos poucos, com os automóveis e a mlhoria significativa das estradas de rodagem.
O interior da estação de Santa Silveria transformou-se num monte de lixo. O fogão a lenha está arruinado.
Nos anos 1920, o êxodo rural já era uma realidade. Mesmo assim, em 1930, 70% da população brasileira morava em zonas rurais. Entenda-se isto como o povo morando em bairros, vilas, aldeamentos - chame-os como quiser - afastados do núcleo urbano dos municípios (a "cidade") e vivendo uma vida nitidamente rural, criando cabras, porcos, galinhas, plantando milho e feijão, trabalhando em fazendas de café, algodão, etc. Morando dentro de fazendas, muitas vezes, nas famosas "colônias" Ou em vilas ferroviárias, toda aquela equipe que era necessária para a grande infraestrutura das linhas férreas poder funcionar.
O mato cresce em volta da estação de Santa Silveria.
Em 1930, já preocupava a situação. O êxodo rural fazia com que cada vez mais rapidamente decaísse a relação entre as porcentagens urbana/rural. Até que se inverteram.
E o matio cresce dentro dela também.
Hoje, mais de 80% da população brasileira mora em zona urbana. Para chegarmos a isso, foram poucas décadas de destruição e desaparecimento de inúmeras colônias, vilas ferroviárias e minúsculos bairros rurais. Muito disso virou ruínas. Da maioria, nada sobrou - estão debaixo de canaviais em sua grande parte. Até as fundações foram eliminadas.

A consequência de tudo isso é o aumento do crime e da violência urbana. Agora, algumas cidades que têm populações estáveis há décadas, ou mesmo decréscimo, parecem apontar para um desaparecimento. Cidades de 30 mil pessoas ou menos, que não conseguem crescer, cercadas pela monocultura como canaviais, por exemplo, que oferecem poucos empregos. Pode acontecer. Ou não. Podem ser ruínas daqui a 30 anos, ou não, mas dificilmente conseguirão se manter da forma que estão. É verdade, é um sossego enorme, mas a segurança já está longe de ser a mesma e as pessoas migram para centros maiores.

Tudo isso veio-me à mente hoje depois de receber fotografias de duas estações do antigo ramal de Santa Veridiana, da Cia. Paulista. Baguassu, no município de Pirassununga, e Santa Silvéria, no de Santa Cryz das Palmeiras, desativadas há quase quarenta anos. Causa: arrancamento de trilhos, ou melhor, fim de atividades da linha que as servia. Por algum tempo, foram moradia. Hoje, sem segurança e isoladas, foram abandonadas. Ninguém as quer. A de Santa Silvéria pertence à prefeitura. A de Baguaçu, realmente não sei, mas creio ainda estar nas mãos da entidade zumbi chamada Inventariança da RFFSA.
Em Baguassu, a situação é pouca coisa melhor... ou menos ruim. A menina não gostou da sujeira.

Quem me as mandou, um morador de Santa Cruz das Palmeiras, Suiá Stocco Teixeira, escreveu-me:
"Bom dia Ralph,
Admiro muito o seu trabalho e compartilho da sua indignação pelo desrespeito dos brasileiros pela sua história e patrimonio.
Na minha região existem várias estações que já estão presentes no seu site e estou visitando-as com minha filha de 8 anos.
Além das estações, aqui existem muitas fazendas de café antigas e que estão sendo destruídas, junto com suas igrejas e colonias.
Dói assistir esse desrespeito.
Anexei algumas fotos que tiramos neste final de semana das estações Baguaçú e Santa Silvéria.
Espero ter colaborado de alguma forma e me coloco à disposição."
A bela cobertura de 120 anos ainda se mantém... milagre divino em Baguassu?
Gostei das palavras, mas não gostei da situação. Santa Silvéria, depois de ter alguma utilidade, foi jogada Às traças pela prefeitura. Por que será? Falta do que fazer com ela? Realmente, pode ser. Segurança, ali, pode ser um problema. E, por isso, está condenada à morte. Seu interior está depredado. O velho fogão à lenha já é praticamente somente uma pilha de tijolos. A bela cobertura da estação, trabalho em madeira de 1891, está caindo de podre. O prédio, cercado pelo mato, aberto à devastação de gente que não tem o que fazer e que destrói por diversão.

Baguassu não está tão mal, mas apenas parece ter mais sorte do que a outra: os vândalos ainda não a descobriram, ou será que alguém cuida um pouco dela em segredo? Tristeza...

2 comentários:

  1. No meu blog tem mais fotos alem da Bagassu, visite no www.memoriadepirassununga.blogspot.com

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  2. É difícil, mas você resumiu perfeitamente o que acontece pelo interior...
    As Prefeituras alegam que não tem recursos para manter estas estruturas, quando na verdade elas poderiam buscar por recursos em outras esferas, ou até na iniciativa privada, transformando o problema em atrativo turístico que poderia até gerar alguma renda...
    Enfim, falta vontade e respeito ao patrimônio histórico e cultural, que um dia foi de grande serventia e poderia continuar sendo...

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