quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
A CIDADE NÃO É MAIS GENTIL
O Martin Jayo tem um blog que se chama "Quando a cidade era mais gentil". São Paulo, claro. E ele tem razão. A cidade era mais gentil. Hoje, na selva de pedra em que se tornou, gentileza não é uma das coisas mais comum na capital paulista.
Repare: você cruza com as pessoas e fala "bom dia". A maioria não responde. Parece que tem medo de você. Vá visitar alguém em um prédiod e apartamentos. Eles são sempre cercados de grades, portões com campainhas eletrônicas, com guaritas dentro das quais você não consegue enxergar, pois os vidros são fumê. Aí, diga aonde você quer ir, ou peça para chamar a pessoa que lá mora. Você vai esperar na calçada, do lado de fora da grade, debaixo de sol ou chuva.
A maioria dos porteiros são malcriados, ou, nas melhores hipóteses, mal humorados. Como se nós tivéssemos culpa de que o emprego dele é um saco. Porém, muitos são mesmo ignorantes, sem treinamento algum para o cargo. Mal sabem falar: basta termos um nome diferente dos da maioria que eles não entendem. Veja o meu nome - Ralph Mennucci Giesbrecht. Eles geralmente não entendem nenhum dos três.
Muitos não procuram ajudar, se acaso o nome que você tem está errado, ou mesmo o número do apartamento. Já pensam, provavelmente, que estamos dando um golpe para tentar entrar de qualquer jeito. Se são aqueles homens de preto que ficam debaixo de um guarda-sol na calçada, esses são desconfiadíssimos. Parecem mais treinados que os porteiros de guarita, mas sempre desviam tudo para o lado perverso da situação. Partem do princípio que todos nós somos desonestos, até prova em contrário.
Saidno dos prédios, andando pela calçada em ruas que só têm casas residenciais, foi-se o tempo em que podíamos admirar as casas. Se elas são recuadas e não do tipo mais antigo que ficavam na beira da calçada, têm muros ou grades que impedem a visão nossa da fachada e do jardim. E, claro, impedem que de dentro da janela se veja a rua.
Repare que as casas, prédios, lojas, escritórios e prédios em geral não têm mais o número (do endereço) tão fáceis de se ver. Em muitos, o número já nem existe mais, dificultando a identificação do endereço. À noite, então, nem se fala. É dificílimo localizar um número para localizar o edifício que você quer visitar. Ou assaltar, se você for do ramo.
A cidade se tornou feia. Muros e muros contínuos fazem as pessoas se sentir em jaulas quando estão em casa e quem anda pelas ruas não tem nada mais a admirar. Até jardins públicos e praças são em muitos casos gradeados e murados. Afinal, mendigos e drogados são os primeiros a se apossar dos locais à noite, quando não durante o dia. E uma lei estúpida não permite que a polícia os arrebate de lá. E assim vamos estragando a cidade, entregue cada vez mais aos homens de mal em vez dos homens de bem.
Definitivamente, a cidade não é mais gentil. Foi-o, um dia, hoje já distante.
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Concordo plenamente! E devo dizer que em Belo Horizonte, felizmente, ainda existe a gentileza perdida em São Paulo.
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