Trem de Maringá deixando Ourinhos. Foto sem data. Provavelmente anos 1950 ou 60
Nos anos 1970 e iníciozinho dos 1980, quilômetros e quilômetros de linhas de trens de passageiros foram extintas no país com a alegação de não serem econômicas, de andarem sempre quese vazias, por falta de interesse dos usuários, etc. A extinção já vinha desde a segunda metade dos anos 1950, na verdade.
E na verdade em alguns casos a situação era real: havia algumas linnhas que realmente tinham pouquíssima procura. Não era o caso, no entanto, da maioria delas - da maioria, eu disse. Mesmo em 1996, quando as últimas linhas de passageiros da RFFSA pelo País foram extintas às vésperas da privatização, eram linhas com grande afluxo de passageiros. Neste último caso, falo da Barra Mansa-Ribeirão Vermelho, da Montes Claros-Monte Azul, da Campo Grande-Ponta Porã... sempre lembrando que no ano seguinte, 1997, a extinção no Estado de São Paulp das linhas da FEPASA Campinas-Araguari e Santos-Juquiá e, em 1999, da Bauru-Panorama e da São Paulo-Presidente Epitácio também mostravam alta procura pelos passageiros.
Motivos para a sacanagem feita pelo governo com o seu público usuário não serão discutidos aqui. Mas vejam este relato feito pelo colaborador de meu site Darci Barbosa, de Campinas, SP, falando da linha Ourinhos-Maringá, extinta em março de 1982. Este e-mail chegou-me hoje e mostra a época em que ele morava na fazenda Flora, junto à estação de Leoflora, no norte do Paraná, no município de Jacarezinho, PR, e pertencente ao ramal citado por último.
"Em 1970 meu pai, Osmane Barbosa (in memoriam) foi convidado para administrar a fazenda Flora, pois ele já executava este trabalho na fazenda União que também era de propriedade de Renato Da Costa Lima, pai do atual proprietário sr Joaquim. Fiquei muito feliz quando, através do seu site, pude ler noticias da estação em referência, bem como também da fazenda e do sr. Joaquim, mas ao mesmo fiquei triste ao saber que a estação foi demolida. Dos treze irmãos que somos, somente os dois mais velhos (Alcindo e Dirceu) podiam ir ao cinema em Ourinhos (à noite). Eles faziam muito uso da estação, pois era o meio de transporte mais conveniente para aqueles tempos. Eu, na época com dez anos, ficava, juntamente com meus outros irmãos, aguardando a chegada dos dois para que contassem o episódio do filme (Giuliano Gemma, Franco Nero, Marlon Brando, Toshiro Mifuni, Paul Newman, Will Brinner, etc, eram os protagonistas preferidos daqueles tempos). Infelizmente o Brasil não cuida de sua história e por sorte temos pessoas que se preocupam em resgatar e preserver a memória de parte tão importante da humanidade. Parabéns, tornei-me um fã".
Prestem atenção na frase "pois era o meio de transporte mais conveniente para aqueles tempos". Ela mostra tudo. A estação de Leoflora era e ainda é (suas ruínas, hoje, claro) um local isolado de tudo. Somente o trem, com sua regularidade, passava por lá, nessa época. Facilitava tudo. O relato mostra os anos 1970. A linha foi erradicada em 1982, mesmo sob muitas reclamações dos usuários, pessoas simples em geral.
Parece que pessoas simples neste país são pessoas que não existem. Era assim em 1982 e continua sendo assim hoje. Aliás, não continua, não: hoje não existem também as pessoas menos simples. Só existe o interesse de políticos corruptos. Estes existem e são bem notados e fazem o que querem para eles próprios, fechando os olhos para tudo, inclusive para o estado em que andam nossas ferrovias e pelos pedidos cada vez maiores pela volta dos trens de passageiros.
domingo, 25 de setembro de 2011
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Embora sabemos que progredir é necessário e traz facilidades para a vida em si (embora nem todo progresso faz isso) e que o tempo vai sempre em frente, é encantador admirar essas fotos antigas. Gosto de observar a simplicidade da vida nelas, como na foto deste post, as cercas de madeira e a casa (ou seria a estação?) nos moldes de construção antiga, ou dá época. Parece que nos leva a um época de paz, de menos agitação que hoje. É gostoso ir ao shopping, ter tudo com uma certa facilidade e ao seu alcance, citando apenas alguns recursos que temos hoje, mas com certeza parece que nos falta a simplicidade dos tempos de outrora (como as da foto) o amor verdadeiro entre as pessoas e que podemos de certa forma ‘encontrar’ isso nessas recordações em forma de imagens.
ResponderExcluirOlá amigo. Muito bom seu blog.
ResponderExcluirA imagem do trem partindo de Ourinho, possivelmente é da década de 1970, pois essas locomotivas passaram a ser utilizadas no final da decada de 1960 e início da seguinte. Na década de 1950 os veículos possuíam as tradicionais chaminês.
O grande problema é que muitas vezes posto os textos e fotos com alguma pressa... a foto, realmente, deve ser dos anos 1970 por causa da pintura da RFFSA, para a qual não prestei atenção. Agora, as diesel entraram em 1950 e algo nas ferrovias, nessa década já existiam e não eram poucas.
ResponderExcluirRalph, essa foto é de autoria de meu pai Francisco de Almeida Lopes (1909-1987)
ResponderExcluirAcho que esta minha publicação vai lhe interessar:
http://www.ccp.uenp.edu.br/noticias/2014/1411/060/2014-meu_pai_e_a_ferrovia.pdf