Já falei sobre o assunto que discorro abaixo pelo menos duas vezes neste blog. Eventualmente, por um motivo ou outro, a cidade de Königsberg, hoje um enclave russo espremido entre a Polônia e a Lituânia tendo o mar Báltico como paisagem. Hoje essa cidade tem um nome russo, como seria esperado: Kaliningrado.
Com muita história, mas hoje relegada a uma posição sem grandes participações na política europeia e sem grandes aventuras desde o já longínquo ano de 1947, Kaliningrado foi tomada pela Rússia, na época a URSS, após o acordo de limites para a Alemanha e outros países por ali localizados).
Uma das histórias quem contava era meu saudoso pai, Ernesto Giesbrecht. Ele queria visitar a cidade, mas conseguir vistos para lá, mesmo depois da Segunda Guerra Mundial, era praticamente impossível.
Em 1980, meu pai esteve em Berlim Ocidental, a trabalho, por poucos dias. Nesta cidade, ele visitou também um suposto parente afastado nosso, com o mesmo sobrenome, para tentar saber algo sobre a família. Foi muito bem recebido, mas, informações concretas, nenhuma.
Voltando a Königsberg nesta narrativa, (quase) nada sei sobre a velha cidade. Sei onde fica, sei que o sabio Immanuelk Kant nasceu e viveu na cidade há cerca de 200 anos e que os Giesbrecht têm uma longa linhagem de antepassados meus na cidade. Mas não parecem pessoas abastadas nessa época.
Nada sei sobre eles, a não ser que em 1866, August Giesbrecht tiveram um filho de nome Wilhelm Giesbrecht, que teria sido batizado pelo Imperador Alemão (Kaiser) na época. Há, porém, histórias (verdadeiras?) de batizados coletivos com o Imperador eram comuns. Quando teria sido este batizado? Seu nome seria uma homenagem ao Imperador (Wilhelm I) ?
Ele, que foi meu bisavô, chegou ao Rio de Janeiro com 18 anos de idade e sozinho, ao que tudo indica.
Wilhelm tinha dois irmãos, um menino e uma menina. Não há notícias de que eles tenham vindo ao Brasil, ou que Wilhelm tenha voltado em album momento para a Prússia.
A vida continuou. Há um intervalo de onze anos entre sua chegada ao Brasil em 1884 e seu casamento, em Diamantina, em 1893. Parece (com muitas ressalvas e dúvidas) que ele teria utilizado estes seis anos para viajar para a Argentina para estudar engenharia. Voltando para o Brasil, conseguiu o primeiro emprego em 1889 (segundo seu próprio currículo) para trabalhar na construção de uma ferrovia em Mimas Gerais. Depois, teve o primeiro filho no que é hoje a cidade de Jaguariúna, perto de Campinas, SP. Trabalhou depois numa série de empreendimentos, construiu e projetou ferrovias e rodovias. Era considerado um bom engenheiro, com a alcunha de "O engenheiro alemão" e teve nove filhos e filhas. É considerado hoje um dos fundadores da cidade de Jaguariúna. Morreu em 1957, com 91 anos, em Governador Valadares, estado em que trabalhou por muito mais tempo que nas outras regiões brasileiras.
Há alguns anos, contei a história acima, sem grande detalhes, ao meu genro italiano, o Alberto.
Alberto mora hoje com minha filha e meu neto em Florença, Itália. Tempos depois. num jantar com colegas de trabalho em Cracóvia, Polônia, falavam sobre Kaliningrado, cidade a 750 km dali. Num determinado instante, Alberto contou que filho (meu neto) era tetraneto de um prussiano de Königsberg. Os poloneses questionaram como uma mistura dessas podia acontecer. E começaram a falar da cidade, que, conheciam. É claro que Alberto contou a linha de descendência, passando pelo fato de seu sogro (eu) ser o pai brasileiro de seu filho italiano.
E daí? Na verdade, e daí, nada - ninguém se conhecia realmente ali nem eram parentes entre si. Königsberg, Brasil, São Paulo, tantos lugares, tanto tempo, tanta mudança, tanta história, histórias de uma história... e eu, que também gostaria de conhecer Kaliningrado, cidade que hoje nem polonesa é, e meu pai nunca chegamos a realizar nosso desejo. Hoje, naquele grupo jantando num restaurante, a história inesperada lembrava um conto de fadas.
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