terça-feira, 6 de julho de 2010

VÓ CONSTANÇA


Vó Constança. Ontem eu achei essa foto aí em cima, tirada em 1929 numa sala de uma casa hoje demolida na rua Neto de Araújo, na Vila Mariana. É da minha bisavó, mais conhecida como "vó Constança", termo usado por uma de suas inúmeras netas: minha mãe Astrea.
Mamãe lembra-se pouco dela: quando Constança morreu, ela tinha apenas 8 anos. Mas ela se lembra, sim, de tê-la visto em São Paulo e em Porto Ferreira, "no Porto", onde ela morou até 1927, quando seu marido, Daniel, morreu, com 81 anos. Aí os filhos trouxeram-na para São Paulo, para a Vila Mariana, onde minha avó e boa parte de sua família moravam.
Foi para a rua Neto de Araújo, a cerca de 3-4 quarteirões da casa de meus avós, Sud e Maria.
Dava para ir a pé e, claro, sem problemas de atravessar a rua: eram tão pouco tráfego... A casa era mais alta do que o nível da rua, tinha uma escada para subir e entrar na varandinha na frente da casa. Muito bonitinha, telhado de duas águas, jardimzinho na frente. Garage, não tinha: para que? Ainda há três casas muito similares, uma do lado da outra, no final da rua, lado par, só que com algumas diferenças - fora as descaracterizações que sofreram, claro. Elas não têm duas águas somente no telhado frontel, mas quatro. Só isso já faz com que se veja que nenhuma delas é a casa que foi de minha bisavó.
Minha mãe ainda diz: "ela cosumava me dar remédios quando eu estava doente e ia para a casa dela: como eu recusava, ela tirava o chinelo e dizia: se não tomar por bem, toma por mal. E eu tomava. Ao contrário do que dizem os educadores de hoje, jamais tive nenhum trauma por isto".
Dois de seus filhos, os dois mais novos, Esther e Fávio, então com 20 e 12 anos, ainda moravam com Constança. Ester dava aulas de piano para minha mãe. As fotografias que tenho da casa, de 1929, mostram pessoas na janela da frente ou na varanda. Em uma delas, minha bisavó.
Cara de portuguesa escarrada (mas como se define uma cara de portuguesa?), ela tinha 59 anos quando tirou a foto acima, pensativa, olhando para o longe na sala de sua casa. Parecia bem mais velha do que a idade real, apesar de não ter quase cabelos brancos. Porém, treze filhos e a morte recente do companheiro de 41 anos deixaram sua marca.
Já se ia longe aquele ano de 1886, quando embarcou em Lisboa num navio que a trouxe para o Brasil, para ~"o Porto", para casar com um homem 23 anos mais velha que ele, também português e amigo de seu irmão. Deram-se bem, no entanto.
Menos de três anos depois da fotografia, no início de 1932, morreu, de volta "ao Porto", de aortite. Deixou uma lição de vida, possivelmente tendo em sua mente os dias em que levava a filharada para a grande aventura de lavar as roupas no Mogi-Guaçu.

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