quarta-feira, 21 de outubro de 2009

LENDAS URBANAS

Ontem li uma reportagem sobre o relojoeiro que dá manutenção ao relógio da estação ferroviária (fechada há anos) de Paranapiacaba. Embora essa estação tenha substituído a outra, muito mais bonita, de 1901 e que teve de ser parcialmente derrubada por causa da retificação de uma linha da Santos-Jundiaí naquele pátio, o relógio foi retirado da torre e recolocado em outra torre da estação nova (e feia) do local. É um relógio antigo. A mesma reportagem diz que o relógio é uma réplica do Big Ben de Londres.

Como se pode ver pelas duas fotografias acima, cedidas por Thomas Correa, só se for porque ambos têm dois ponteiros. Não há semelhança alguma. Outra lenda urbana que se populariza e é uma mentira deslavada. Só para quem não sabe, o relógio do Big Ben é obviamente o da esquerda.

Também são lendas urbanas os relatos que afirmam que a estação da Luz é uma cópia da estação ferroviária de Sydney, na Austrália, e que a estação da antiga Paulista em Dois Córregos é uma cópia da estação ferroviária de Marselha, na França. Não são.

É um absurdo que as cidades adotem mentiras como sendo verdadeiras somente para dar alguma fama ao local. Historicamente são mentiras, e das grandes. E por que precisariam dizer que são cópias para chamar a atenção? A estação da Luz e a de Dois Córregos são bonitas por si só, tendo sido construídas respectivamente em 1902 e 1912.

Curiosamente, as três estações brasileiras mencionadas acima foram destruídas por incêndios. No caso de Paranapiacaba, a antiga, em 1981 (e demolida de vez, já que não estava tendo serventia), Dois Córregos em 2001 e a Luz, em 1946. Somente esta última foi restaurada. Será a “maldição da mentira”?

Há outros casos do mesmo tipo de outras estações por aí, dos quais não me lembro agora. Isto leva também a outro problema: as comparações de cidades brasileiras com países, estados ou cidades européias e americanas. Exemplos? Campos do Jordão é a “Suíça Brasileira”. Recife, a Veneza Brasileira. Ribeirão Preto já foi a Califórnia Brasileira. Parece que somos colônias européias, como no passado. Como no caso das estações, há outros casos. Para que nomear cidades dessa forma? Somente se construíssemos cidades exatamente iguais a outra é que poderíamos nomeá-las dessa forma, mas qual seria a utilidade disto?

Já estava na hora de darmos mais valor ao que é nosso. Sem dúvida, a estação da Luz tem um estilo inglês de arquitetura e a de Dois Córregos tem nitidamente influência européia, mas foram construídas aqui, no Brasil. Aliás, é curioso como boa parte das pessoas diz que “tal estação tem estilo inglês”. Tal ferrovia foi construída por ingleses. Tal locomotiva é inglesa. Sempre ingleses. Por quê? Muitas nada têm a ver com a Inglaterra.

Vamos acordar e valorizar o que é brasileiro.

5 comentários:

  1. Outro dia, falando sobre saúde, um cidadão se referiu à nossa saúde como sendo um sistema melhor q o dos americanos e por isso não funcionava.
    Pensei da mesma forma, porque não podemos ser melhores q os americanos em alguma coisa. Tenho certeza q somos em várias coisas.
    Feliz o seu artigo.

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  2. E olhe, como temos lugares bonitos que não conhecemos. Como temos. Eu sou um turista atípico. Visito o que ninguém sabe onde é, fuço às vezes no meio do mato, aprecio coisas nas cidades a que ninguém dá importância e sempre que possível as registro...

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  3. O problema é mesmo cultural. Veja vc que em muitas cidades, as pessoas só valorizam a cultura local se for reconhecida fora dela, caso contrário, não dão importância.

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  4. Parabéns pelo Blog meu grande amigo Ralph, é ótimo poder ficar sabendo das coisas poder tirar duvidas e ai podemos fazer isto né, ja tinha ouvido falar muito de histórias como a da Estação da Luz e a de Dois Coregos, só quem não tem muita intimidade com a Ferrovia é que acredita mesmo nestas piadas como o amigo disse elas tm seu brilho próprio e não prescizam ser comparadas a nenhuma estação.
    Um hiper mega abração amigão

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  5. Londrina, (a "Filha de Londres", praticamente o primeiro condominio privado do Brasil em 1934 concebida pela C.T.N.P., a Cia. de Terras Norte do Paraná, de capital inglês), também sofre com esses lendas.
    Em especial, no projeto da Estação Ferroviária (hoje, Museu Histórico da UEL, onde aliás, trabalho...), que foi desenahada em especificação eclética (tem janelas modernistas "de canto"), combinada com um DNA em Estilo Tardo-Normando.
    O design é de Euro Brandão, numa arquitetura inspirada na Mansão dos Zattar, madeireiro em Curitiba que se instalou na Av. Batel na capital da qual o então funcionário da RVPSC admirava, quando criança, passando em frente à caminho da escola.
    Volta e meia, algum néscio associa a imponente estação de Londrina com alguma similar, também na Austrália ("Canberra", da última vez que ouvi...) e, não raro, a denominam como sendo construída em "estilo inglês", talvez, numa referencia à semana de 5 dias de trabalho...
    Carregamos esse gentílico feminino (não somos uma "Pequena Londres", como sugerem néo-néscios) mas, infelizmente, parte da escumalha local já se acha num parque temático, onde agora convivemos com cabines telefônicas inglesas, custando R$1O.OOO,°° cada unidade das quais, como se sabe, funcionam bem no clima inglês, úmido, ventoso e rascante.
    Estamos aguardando Trocas de Guarda engalonados com Chapéus de Ursos e, quem sabe, Beeffeaters na ponte sobre os Lagos Igapó I e II...

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