quarta-feira, 2 de março de 2016

JANEIRO DE 1928: OS TELEFONES DE SÃO PAULO SE MODERNIZAM

Jornal Folha da Manhã, 7/1/1928 - primeira página.

No dia 7 de janeiro de 1928, a CTB - Companhia Telephonica Brasileira, ou simplesmente "Telephonica", nada a ver com a Telefonica espanhola de hoje - anunciou pelos jornais que, a partir deste dia, um sábado, às 24 horas, todas as linhas da cidade teriam novos números.

Eles teriam todos cinco algarismos e seriam escritos com um hífen depois do primeiro algarismo - estes seriam logo chamados de "estações".


Jornal Folha da Manhã, 18/1/1928
Até então, os telefones de São Paulo eram escritos assim (exemplos): Cidade 3276; Central 4398; Avenida 2456 e Braz 1375. Não sei se havia mais estações, mas estas quatro existiam. Pensei inicialmente que os novos números manteriam os quatro último algarismos e cada estação teria o nome alterado para um determinado algarismo isolado. Não foi assim. É possível que um ou outro tenha sido mantido com os quatro números finais já existentes, mas uma reportagem do mesmo jornal (data de 18 de janeiro desse mesmo ano, mostrada imediatamente acima) mostra que não - os quatro números finais passaram a ser mesmo diferentes. Na verdade, havia ainda números que possuíam menos de quatro algarismos.

Os assinantes já estavam de posse, aparentemente, da nova lista que deveriam utilizar - uma de capa amarela. A antiga. azul, deveria "ser rasgada ou atirada fora", de acordo com a comunicação publicada nos jornais do dia.
Jornal Folha da Manhã, 9/1/1928 

Não ficou claro para mim se as ligações com os novos números ainda deveriam ser pedidas, ao se tirar o telefone do gancho, ou poderiam ser feitas diretamente. Não acredito nesta última hipótese. Acho que isto veio mais tarde.

Já os números que vigoraram até dia 7 de janeiro tinham de ser pedidos às telefonistas, mesmo: afinal, tinha de ser definida a estação, se era cidade, central... Pelo que pude deduzir, a "Central" englobava a zona do centro velho e bairros próximos. A "Cidade", o centro novo e outros bairros por ali. O "Braz", a zona leste, e "Avenida", a região da Avenida Paulista e outros bairros por ali.

Só para lembrar: em janeiro de 1928, a maioria das ruas da cidade não eram pavimentadas; quanto às rodovias, somente o Caminho do Mar o era. O Presidente do Estado era Dino Bueno; o do Brasil, Washington Luiz. O rei George V, avô da Rainha Elisabeth II, reinava na Inglaterra e Alfonso XIII, bisavô do atual rei Felipe VI, na Espanha. Ainda não havia televisão comercial no mundo e o rádio era bem novo no Brasil. O mil-reis, moeda da época, era cotado em libras esterlinas.

Não existiam telefones celulares, computadores, notebooks, i-pads, facebook, e-mails, internet, whatsapp, A vida seria um saco? Pode ser, mas todos sobreviviam sem maiores dificuldades.

E havia trens de passageiros em boa parte do Brasil, oferecendo viagens que hoje seriam consideradas inesquecíveis.

5 comentários:

  1. Ralph, acho que o 5º dígito era para ampliar o número de telefones por estação. Com 4 dígitos só seriam possíveis 10.000 linhas (de 0000 a 9999). Já com 5 dígitos poderia haver 100.000 linhas (de 00000 a 99999). Se você numerasse as centrais, só haveria no máximo 10 centrais (de 0 a 9) com dez mil telefones por central e um máximo de 100 mil telefones na cidade (usando-se apenas 5 dígitos, claro.). É bom lembrar que naquela época a comutação telefônica era feita por telefonistas. Assim, falar o nome da estação até facilitava o trabalho delas. Minha mãe conta que o telefone da casa da avó dela, no Rio, era Ipanema 3278. Ela morava em Copacabana mas a central ou ficava em Ipanema ou eles acharam que Copacabana era um nome muito comprido. Como aquela estação também atendia Ipanema, passou a chamar-se Ipanema.
    Com os telefones automáticos as centrais passaram a ter 2 dígitos e os telefones 4. Mas cada central possuía diversos troncos. No centro de São Paulo, por exemplo, havia troncos 30, 31, 32, 33, etc. No Campo Belo era 60, 61, 62... Com a implantação do DDD os troncos ganharam mais um dígito (240, 543, etc) porque várias cidades ficavam dentro do mesmo código DDD. Mais tarde, com o aumento do número de telefones os troncos passaram a ter 4 dígitos na telefonia fixa e na móvel 5 dígitos.

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  2. Corrigindo, o número do telefone da minha bisavó era Ipanema 0273. Acho importante essa retificação porque talvez em Copacabana, nos anos 1920, não houvesse 3 mil linhas telefônicas. Ela foi morar no Rio em 1927. Ainda havia um estábulo na avenida Nossa Senhora de Copacabana em que as pessoas podiam tomar leite de vaca tirado na hora. Isso a 300 metros do Copacabana Palace Hotel.

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  3. E pelo que consegui apurar depois, no Rio, em 1928, ainda não havia telefones com o sistema que foi adotado em São Paulo em janeiro desse ano.

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  4. No Estadão de 17.05.66, página 12, uma reportagem sobre o fim da estação 31, a última que era ainda manual. Na mesma página há um interessante anúncio da Light sobre ferrovias eletrificadas:
    http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19660517-27937-nac-0012-999-13-not

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