quinta-feira, 17 de março de 2016

CENTRAL DO BRASIL, 1916

A estação velha de São José dos Campos. Durou até 1925. Substituída por outra em local diferente, foi demolida. Em seu lgar fica a SABESP e parte de um clube. (Do acervo da Prefeitura de São José dos Campos)

Andar de trem em 1916, período de ouro das ferrovias, poderia ser uma maravilha, ainda mais em uma linha de bitola larga da Central e, ainda por cima, com grande movimento de trens de passageiros: a linha era, nessa época, provavelmente a de maior número de passageiros no País, fazendo Rio a São Paulo várias vzes por dia em 500 quilômetros de trilhos. Sem contar os subúrbios que a percorriam, nas duas cidades.

Não dá para saber, sem entrar em manuais da época, como funciona o serviço de vendas de passagens na Central do Brasil nessa linha. Porém, é interessante saber o que aconteceu numa viagem entre a Capital paulista e São José dos Campos, ainda longe de ter a pujança que tem hoje no Vale do Paraíba e com uma estação na parte alta da cidade, bem longe tanto da linha como da estação que possui hoje - que, aliás, está totalmente abandonada.

O passageiro viajou com a esposa e filhos para São José, mas havia comprado um bilhete de ida e volta para Aparecida - que fica depois, sentido Rio. Era o trem das sete da manhã. Ele perguntou ao bilheteiro se poderia, na volta, parar em São José dos Campos. Resposta: se voltasse no mesmo dia, poderia parar onde quisesse desde que retornasse também no mesmo trem.

Em São José, o Dr. Salerno - o passageiro - pegou o SP-1 para São Paulo. Ali, no entanto, o chefe do trem recusou as passagens. Dizia que somente os trens de excursão davam direito a interromper a viagem. Afinal, embarcaram. De acordo com Salerno, na estação do Norte, em São Paulo, ele "se sentiu cercado por espiões".

Ele e a família foram levados ao escritório do agente da estação. Ali apareceu um rapaz que lhes disse que ou pagavam outras passagens, ou iriam todos para a cadeia. Sem dinheiro em espécie para tal, Salerno teve de deixar um anel de brilhantes como garantia, em troca de um papel om uma declaração que lhe faria reavê-lo quando trouxesse o valor em espécie. É bom lembrar que naquela época não existiam cheques.

Bons tempos, outros tempos. E é bom lembrar que, como hoje em dia, era bem raro um funcionário público admitia erros.

3 comentários:

  1. Ralph, o uso de cheque podia não ser comum, mas o cheque foi regulamentado, no Brasil, pela lei número 2.591, de 7 de agosto de 1912.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cheques somente passaram a ser utilizados com mais frequencia por volta de 1929, quando os bancos passaram a fazer propaganda maciça para seu uso. Até aí, eram pouquíssimo usados e geravam desconfiança dos recebedores.

      Excluir
  2. Ralph, achei o fim da "novela" na edição do Estadão de 20.01.1916, na seção "Queixas e Reclamações" (página 5):
    "Domingo passado o Sr. José Salerno veiu à redação desta folha queixar-se de que, tendo um chefe de trem da Central recusado as passagens com que viera de Apparecida juntamente com sua familia, ao chegar à estação do Norte fôra obrigado a deixar empenhado, para pagamento de novas passagens, um anel de brilhantes que trazia consigo. Isso depois de uma série de decepções, a que nos excusamos de referir novamente.
    Agora o mesmo cavalheiro mandou-nos uma carta para communicar que o agente da estação attendeu com muita solicitude a queixa, mandando restituir-lhe o anel, dispensando-o de qualquer pagamento e punindo, como era de justiça, o empregado arbitrário"

    ResponderExcluir