domingo, 10 de fevereiro de 2013

NO CAMINHO PARA A ESTAÇÃO DE ANGATUBA

A estação, ontem
A cidade de Angatuba, razoavelmente próxima a Itapetininga, no Estado de São Paulo, tem hoje pouco mais de 22 mil habitantes. Ela está situada cerca de 5 quilômetros ao norte da rodovia Raposo Tavares.
Mapa do município de Angatuba. Veja a cidade onde está o "balão". A estação fica 12 km ao sul, ao sul da rodovia BR-374 ou SP-280, Raposo Tavares - Google Maps
Até 1887, a freguesia de Espírito Santo da Boa Vista pertencia ao município de Itapetininga. Neste ano, foi destacada desta como novo município paulista. Em 1908, o nome foi alterado para Angatuba, nome índio que pode ter diversos significados, dependendo da interpretação. Nesta mesma época, estava sendo construído o ramal de Itararé, da Sorocabana, que ligaria a linha-tronco da ferrovia, com saída em Boituva (a partir de 1928, esta bifurcação foi transferida para a estação de Santo Antonio, atual Iperó) e que se dirigia para a cidade fronteiriça de Itararé, onde se ligaria com a linha Itararé-Uruguai, da lendária E. F. São Paulo-Rio Grande.

A sede da nova vila (município) de Angatuba estava, no entanto, situada a cerca de doze quilômetros ao norte do leito da ferrovia. Enquanto isso, as estações iam sendo criadas junto à linha, conforme a necessidade da ferrovia: Cezario, Herval (hoje Rechan), Engenheiro Hermillo (que ficava no município de Angatuba e hoje está no município de Campina do Monte Alegre, desmembrado em 1991, todas construídas entre 1907 e 1908. Angatuba, porém, não tinha nenhuma estação que a atendesse.
Na parte mais baixa do mapa, a estação e a fábrica (construção maior, branca) da Polenghi. Reparem o isolamento - Google Maps
Em 1911, fala-se que já existia uma parada no mesmo local onde hoje existe a estação ferroviária de Angatuba, que só teve um prédio entregue em 1913 com o nome da cidade. Qual teria sido, no entanto, o motivo de um prédio tão grande e bonito (no mesmo estilo arquitetônico de cerca de oito outras estações construídas pela Sorocabana na mesma época) para uma cidade tão longínqua e um movimento de passageiros tão pequeno? Ora, até hoje, o bairro mais próximo da estação é pequeno (Machadinhos - não tenho certeza absoluta deste nome) e por demais espalhado, com um acesso bastante ruim. Existe hoje ao lado da estação uma fábrica de laticínios da Polenghi, mas esta é muito mais nova que a estação.

O que é mais provável é que a Câmara Municipal, na época, tenha pedido uma estação para a cidade e que, como a linha não podia ser deslocada para lá e a Sorocabana não tenha querido construir um ramal para a cidade, tenha construído uma estação de arquitetura igual a de outras oito que construiu nessa época (Itararé, Indaiatuba, Luiz Pinto, Bom Jardim...), dado a ela o nome da cidade e talvez até construído a estrada de ligação. Meras hipóteses, mas prováveis.
A estação, ontem, abandonada
É até compreensível que a Sorocabana não tenha tido interesse em fazer o ramal de acesso: Tanto a cidade quanto a estação de Angatuba ficam em vales diferentes, tendo no meio o espigão por onde hoje passa a Raposo Tavares. Uma linha férrea ali seria bem complicada e lenta por causa de subidas e curvas - o mais certo (e caro) seria construir um ramal que teria de ter um comprido túnel sobre a hoje rodovia.

O fato é que, em 1949, a população da cidade reclamava, mais de 35 anos depois da inauguração da estação, que era muito mais fácil pegar o trem em Itapetininga, indo para lá de ônibus, que aventurar-se a tomá-lo na estação da cidade. Fora o embarque de gado da cidade, que não podia ser feito por ferrovia. Nesta viagem de ontem, não cheguei a ir à cidade. Porém, passei pela estação de Rechan, que fica no centro do distrito do mesmo nome (pertence ao município de Itapetininga) e ali perguntei no posto de gasolina como se fazia para ir para a estação ferroviária de Angatuba. Ele me informou como ir para a cidade. Eu falei que a estação era longe da cidade, que eu precisava ir para ela e ele me disse o esperado: jamais ouvira falar dela. Nenhuma surpresa e isto poderia ter acontecido na cidade de Angatuba também, dependendo da idade da pessoa a quem eu perguntasse. Em linha reta, são cerca de 5 quilômetros de Rechan à estação de Angatuba, mas não há ligação direta entre elas por estrada.
As bilheterias já não servem para nada
O acesso hoje à estação deve ser o mesmo que o original e pode ser feito saindo-se da cidade pela rodovia asfaltada de 5 quilômetros e subindo até passar sob um viaduto em arco na rodovia - e a partir dali rodar 7 quiômetros para baixo até a estação numa estrada em terra muito ruim... fico imaginando subir essa estrada com chuva. Há trechos em que certamente os veículos patinam. Deve ter sido por isto que a Polenghi, ao lado da estação, é alcançada por quem nela trabalha por uma estrada municipal asfaltada a partir da Raposo Tavares - estrada que sai antes de se chegar ao acesso para Angatuba para quem vem de Itapetininga. É menos íngreme, pois a rodovia começa a subir naquele ponto, mas a volta é maior.
Interior da estação, ontem
Não sei desde quando a fábrica da Polenghi está ali, mas a estação de trem fechou para passageiros em 1978, para reabrir vinte anos depois, quando a FEPASA inaugurou seu último trem de passageiros - o Sorocaba-Apiaí em 1997 - que fechou em março de 2001. Não deve ter sido pela estação que a estrada foi asfaltada (quando, não sei), mas sim, pela fábrica.
Em 1998, por volta de 8 horas da manhã, o trem parou ali e eu fotografei. À esquerda, o chefe do trem
Em tempo: a última e única vez em que estive na estação de Angatuba foi em 13 de maio de 1998, quando tomei o trem Sorocaba-Apiaí num "bate-volta". O trem parou lá. Eu a fotografei. Estava em bom estado externamente e aparentemente ainda tinha um chefe de estação.

2 comentários:

  1. Fiquei conhecendo um pouco de Angatuba e gostei muito da cidade . Nem por sonho iria imaginar esta história da FERROVIA . Que pena que a Ferrovia deu no que deu . Ainda tenho esperanças de escutar os barulhos dos trilhos ,como filha de EX. Ferroviário que sou ´pois meu pai criou os oito filhos ,correndo entre vagões em Iperó-SP,pois era Guarda -Chaves . Função muito perigosa ,mais , durante a noite .De Angatuba fui visitar a Igreja Matriz e fiquei admirada com os quadros pintados nas paredes .Enormes pinturas ,com passagens da Bíblia . Essa Matriz deveria estar no roteiro turístico do Estado´pois é tudo muito lindo .Gosto das publicações deste Blog pois tenho em comum com tudo que leio a revolta com o descaso ,para com as Ferrovias e todo o acervo arquitetônico que ela engloba . Parabéns Ralph

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  2. Muito triste ver a estação neste estado! Meus pais moram em Angatuba e cheguei a pegar o trem Apiaí x Sorocaba, ele partia as 08:15 e chagava em Sorocaba as 12:00, saber que de carro vocês faz o trajeto em apenas 1h30. De Angatuba até Itapetininga o trem não ultrapassava os 30 km/h devido a curvas, búfalos, e trem descarrilados alguns até hoje abandonados em fazendas próximo a estação Curuçá!

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