No centro da foto, Deutsche Schule
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Anteontem tive de ir à velha rua Olinda. Você sabe onde é a rua Olinda, em São Paulo? É na Vila Buarque. Alguém ainda sabe onde fica a Vila Buarque? Esse nome ainda é usado?
Pois é, eu aprendi, num dos primeiros dias que frequentei o Colégio Visconde de Porto Seguro, nos idos de fevereiro de 1958, com seis anos de idade, cursando o primeiro ano primário, que o bairro onde estávamos naquele momento se chamava Vila Buarque. A professora mostrou um mapa dos arredores: rua Olinda, rua Caio Prado, rua Gravataí, rua Augusta, rua da Consolação (ainda com bondes e estreita com paralelepípedos), a praça Roosevelt.(ainda asfaltada e com feiras todas as quartas e sábados)...
A rua Olinda, anos depois, mudou o nome para rua João Guimarães Rosa, por esses critérios ridículos (ou falta deles) que as prefeituras usam para mudar nomes de ruas e homenagear pessoas cuja maioria não deveria ser.
A mesma foto, inteira
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Na rua Olinda ficava o Colégio, desde 1913. Dizem que o prédio é hoje tombado, embora não abrigue mais o Porto Seguro, porque seria o único exemplo da arquitetura alemã no Brasil no tempo do Segundo Reich, no tempo do Kaiser Guilherme II. A escola foi chamada por muito tempo de Olinda Schule, por motivos óbvios, mas o nome original era Deutsche Schule, mesmo. Acho que me mesmo para quem não conhece a língua alemã, está na cara que Schule é escola em alemão.
Durante a Segunda Guerra, depois que o Brasil declarou guerra à Alemanha, no final de 1942, a escola teve de trocar o nome. Escolheu-se então o atual (sempre lembrando que o Porto Seguro fica desde 1972 no Morumbi, quando saiu da rua Olinda). O Visconde de Porto Seguro foi o alemão Francisco Adolfo Varnhagen, que veio para o Brasil e fundou a Fábrica de Ferro Ipanema, em Sorocaba, há cerca de duzentos anos. Hoje as ruínas da fábrica estão no município de Iperó. Claro que homenagearam um alemão - afinal, a guerra não cancelava feitos passados.
Eu estudei doze anos nesse prédio, e jamais percebi que sobre a porta de entrada principal do magnífico prédio estava escrito "Deutsche Schule", em pedra e relevo. Somente notei isso dois dias atrás, quando tive de ir à rua Olinda para resolver uns assuntos e decidi prolongar alguns passos minha estada ali - reviver os velhos tempos.
A rampa - ali esperei meu pai por uma década. Somente nos últimos anos passamos a sair pelo portão principal. À direita, os banquinhos. Em frente, o que diziam que era a casa do zelador. No fim da rampa, dobrávamos à esquerda e chegávamos no pátio principal
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Eu achei estranho que essa inscrição ainda exista. Teoricamente, ela deveria ter desaparecido quando o nome mudou. Não acredito que tenha sido refeito após a guerra, pois o nome do colégio manteve a alteração. Então, o que é possível - e aqui estou especulando - foi que se colocou uma placa com o novo nome sobre o dístico, e em algum momento ela oi retirada. Se isso é verdade, talvez essa placa ainda estivesse lá quando eu lá estudei e eu não me lembre dela. E foi muito interessante que mesmo depois da venda do prédio o nome não tenha desaparecido da pedra, eliminado por alguém, pois novas escolas ali se instalaram.
Passei em frente às ruínas, semi-escondidas hoje, do casarão espetacular que ser viu por alguns anos de anexo à escola, onde fiz o segundo ano do Curso Científico (lembram-se dele?) em 1968. Em seguida, o portão, a rampa, os banquinhos ao longo dela, de cimento e grudados no muro, onde esperava por meu pai vir me buscar todo final de manhã. O portão, fechado com cadeado. Tirei uma fotografia disso pois há um buraco no metal do portão no local da corrente.
Logo depois, acompanhando o muro de pedras, a entrada principal, um portão estreito com escadas saindo para a direita e a esquerda onde estava a entrada do prédio com o dístico de que falei mais acima. O portão estava aberto. Fotografei-o. Aliás, depois de ter sido sede do Colégio Caetano de Campos por algum tempo depois da mudança do Porto para o Morumbi, hoje ele continua como escola - mas eu não sei o nome.
Muitas saudades. Até hoje, meus maiores amigos são os que eu conheci ali.
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sábado, 30 de agosto de 2014
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
INCÊNDIO NA RUA DR. ABRANCHES

O ano era 1928. Na Vila Buarque, na rua Doutor Abranches (hoje Frederico Abranches), esquina com a travessa Doutor Abranches (hoje rua Barão de Joatinga), um incêndio atacou a casa número 14 e os bombeiros foram chamados.
O jornal Folha da Manhã publicou a fotografia do combate ao fogo (veja acima). Na verdade, porém, a rua que aparece é a travessa, a atual Barão de Joatinga. Ao fundo, deve ser a rua Sebastião Pereira - que tem ângulo reto com a travessa, ao contrário da Frederico Abranches. O fotógrafo devia estar de costas para o incêndio.

O caminhão está virado para o incêndio (deve ter entrado pelo outro lado, pois não era bobo) e no chão se vêem as mangueiras esparramadas no sentido do o incêndio. Realmente, o número 14 (numeração não métrica) e na esquina, de acordo com o próprio jornal) ficava no final da rua, que, como hoje a numeração começa na Sebastião Pereira, em 1928 também devia começar.

Sem tempo de ir até o local pessoalmente, peguei uma imagem no Google Street View e coloquei-a aqui para comparação. Reparem que, se tudo que escrevi acima estiver correto, a casa ao fundo na Sebastião Pereira desapareceu, assim como todas as outras do quarteirão (ver mapa da Sara Brasil de 1930, aqui postado), para que ali surgisse uma praça.
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