Não podia faltar a foto com um jegue. Maria, de pé, e uma amiga professora,
America Monteiro, esta em cima do animal.
O texto abaixo, escrito por meu avô, Sud Mennucci, em
dezembro de 1937, foi reproduzido parcialmente mais abaixo para mostrar a
aventura que deveria ser viajar de São Paulo, a Juazeiro do Norte, cidade do Cariri
cearense. O artigo original foi publicado por um jornal da Paraíba cujo nome
acabou se perdendo nos colossais arquivos de Sud.
Sud e sua esposa Maria saíram da estação da Luz em 26 de
novembro de 1937, em São Paulo, para chegar ao porto de Santos, onde tomaram o navio
para João Pessoa e depois um automóvel para o interior da Paraíba e do Ceará
para chegar na escola normal rural que para lá foram inaugurar. Em Juazeiro
ficaram de 5 a 8 de dezembro.
Vale ressaltar que a ligação por trem entre o sul e o Norte
brasileiro era impossível nessa época; a aviação era praticamente não existente
e o passeio tinha de ser feito da forma que foi – primordialmente de navio e
por automóvel por primitivas estradas de rodagem.
Hoje não temos trem de passageiros nem navegação de
cabotagem. Ou seja, para fazer um “passeio” como este, o mais simples (e caro) mesmo
é por avião e em alguns trechos por automóvel. Ou ônibus, viagem longuíssima e
cansativa.
O trecho a seguir e que está entre aspas e letras em itálico tem Sud como
autor. Mantive o português da época.
“Acabo de fazer uma viagem pelo Nordeste, das mais
instructivas, das mais empolgantes, das mais educativas de minha vida. Para meu
espírito de brasilidade, considero-a a mais emocionante que já me foi dado
realizar. Para meu apostolado da “ruralização do ensino”, aquella activa
campanha que eu tive a fortuna de reabrir em 1930, com o meu livro “A Crise
Brasileira de Educação”, que a Academia Brasileira de Letras homologou e
ratificou, concedendo-lhe o Premio Alvares de 1933, essa viagem foi decisiva e
definitiva.
Tendo partido acompanhado por minha esposa e da
distinctíssima professora parahybana d. America Monteiro de Araújo, desta
cidade de João Pessoa, seguimos pela grande rodovia tronco da Parahyba, até a
cidade de Lavras, no Ceará.
De Condado em diante tivemos a companhia solicita do ilustre
agrônomo dr. Carlos de Basto Tigre, chefe do posto agrícola existente naquele
açude. Dirigimo-nos ao cariry cearense, onde me chamava um generoso convite.
Voltamos, dias depois, para atingir Orós, e, a seguir, Fortaleza. E
regressamos, enfim, pelo caminho de Mossoró, Assú e Santa Cruz, no Estado do
Rio Grande do Norte, entrando, de novo, na Parahyba, pela povoação de Tacima.
Em resumo, um authentico ‘raid’ automobilístico de mais de 2
mil quilômetros de percurso, através dos tres estados mais duramente atingidos
pelo phenomeno climatérico das seccas. (...)”
A viagem de São Paulo a Juazeiro do Norte, CE, foi longa e
durou dez dias, com saída em 26 de novembro e chegada no Rio de Janeiro, onde
chegou com o trem Cruzeiro do Sul no dia 27 e embarque no navio Prudente de
Moraes às 14 horas do mesmo dia.
Dali seguiu no mesmo navio com paradas em Vitoria, Salvador,
Maceió, Recife e finalmente em João Pessoa, em 4 de dezembro, de onde partiu de
automóvel para Campina Grande, onde almoçou com a comitiva. Às cinco da tarde
estava já na cidade de Condado (um distrito da cidade de Sobral) e, às 11 da
noite, em São Gonçalo, ainda Paraíba, e à beira do açude do mesmo nome.
As grandes estradas troncos, já entregues ao publico,
representam a maior conquista sertaneja. A de João Pessoa a Fortaleza, com mil
kms de trajecto, praticamente terminada até Sobral, com 850 kms de extensão
utilizavel, e com apenas duas interrupções entre Russas e Mossoró e entre
Angicos e Pedra Branca (que apesar de tudo, dão passagem) e a grande
transnordestina Fortaleza-Salvador da Bahia, constituem espinhas dorsaes da
zona sertaneja, servindo as glebas mais desoladas da natureza basílica,
imprimem às populações uma noção completamente inedita de segurança, de
agilidade, de desembaraço nos seus movimentos , libertando-as da sensação de
degredo de outros tempos (...)."
Enfim, Sud passou por inúmeras cidades do sertão nordestino
numa época em que isso era uma verdadeira aventura, especialmente para um
paulista filho de pais italianos. Viajou de trem, navio e automóvel, este,
trafegando pela Paraíba e Ceará. Ele certamente adorou a viagem. Já sua esposa,
minha avó Maria, pelo que conheci dela, não deve ter tido a mesma opinião.