terça-feira, 16 de maio de 2023

PELOS SERTÕES DO NORDESTE BRASILEIRO (1937)

 

Não podia faltar a foto com um jegue. Maria, de pé, e uma amiga professora,
America Monteiro, esta em cima do animal.

O texto abaixo, escrito por meu avô, Sud Mennucci, em dezembro de 1937, foi reproduzido parcialmente mais abaixo para mostrar a aventura que deveria ser viajar de São Paulo, a Juazeiro do Norte, cidade do Cariri cearense. O artigo original foi publicado por um jornal da Paraíba cujo nome acabou se perdendo nos colossais arquivos de Sud.

Sud e sua esposa Maria saíram da estação da Luz em 26 de novembro de 1937, em São Paulo, para chegar ao porto de Santos, onde tomaram o navio para João Pessoa e depois um automóvel para o interior da Paraíba e do Ceará para chegar na escola normal rural que para lá foram inaugurar. Em Juazeiro ficaram de 5 a 8 de dezembro.

Vale ressaltar que a ligação por trem entre o sul e o Norte brasileiro era impossível nessa época; a aviação era praticamente não existente e o passeio tinha de ser feito da forma que foi – primordialmente de navio e por automóvel por primitivas estradas de rodagem.

Hoje não temos trem de passageiros nem navegação de cabotagem. Ou seja, para fazer um “passeio” como este, o mais simples (e caro) mesmo é por avião e em alguns trechos por automóvel. Ou ônibus, viagem longuíssima e cansativa.

O trecho a seguir e que está entre aspas e letras em itálico tem Sud como autor. Mantive o português da época.

“Acabo de fazer uma viagem pelo Nordeste, das mais instructivas, das mais empolgantes, das mais educativas de minha vida. Para meu espírito de brasilidade, considero-a a mais emocionante que já me foi dado realizar. Para meu apostolado da “ruralização do ensino”, aquella activa campanha que eu tive a fortuna de reabrir em 1930, com o meu livro “A Crise Brasileira de Educação”, que a Academia Brasileira de Letras homologou e ratificou, concedendo-lhe o Premio Alvares de 1933, essa viagem foi decisiva e definitiva.

Tendo partido acompanhado por minha esposa e da distinctíssima professora parahybana d. America Monteiro de Araújo, desta cidade de João Pessoa, seguimos pela grande rodovia tronco da Parahyba, até a cidade de Lavras, no Ceará.

De Condado em diante tivemos a companhia solicita do ilustre agrônomo dr. Carlos de Basto Tigre, chefe do posto agrícola existente naquele açude. Dirigimo-nos ao cariry cearense, onde me chamava um generoso convite. Voltamos, dias depois, para atingir Orós, e, a seguir, Fortaleza. E regressamos, enfim, pelo caminho de Mossoró, Assú e Santa Cruz, no Estado do Rio Grande do Norte, entrando, de novo, na Parahyba, pela povoação de Tacima.

Em resumo, um authentico ‘raid’ automobilístico de mais de 2 mil quilômetros de percurso, através dos tres estados mais duramente atingidos pelo phenomeno climatérico das seccas. (...)”

A viagem de São Paulo a Juazeiro do Norte, CE, foi longa e durou dez dias, com saída em 26 de novembro e chegada no Rio de Janeiro, onde chegou com o trem Cruzeiro do Sul no dia 27 e embarque no navio Prudente de Moraes às 14 horas do mesmo dia.

Dali seguiu no mesmo navio com paradas em Vitoria, Salvador, Maceió, Recife e finalmente em João Pessoa, em 4 de dezembro, de onde partiu de automóvel para Campina Grande, onde almoçou com a comitiva. Às cinco da tarde estava já na cidade de Condado (um distrito da cidade de Sobral) e, às 11 da noite, em São Gonçalo, ainda Paraíba, e à beira do açude do mesmo nome.

As grandes estradas troncos, já entregues ao publico, representam a maior conquista sertaneja. A de João Pessoa a Fortaleza, com mil kms de trajecto, praticamente terminada até Sobral, com 850 kms de extensão utilizavel, e com apenas duas interrupções entre Russas e Mossoró e entre Angicos e Pedra Branca (que apesar de tudo, dão passagem) e a grande transnordestina Fortaleza-Salvador da Bahia, constituem espinhas dorsaes da zona sertaneja, servindo as glebas mais desoladas da natureza basílica, imprimem às populações uma noção completamente inedita de segurança, de agilidade, de desembaraço nos seus movimentos , libertando-as da sensação de degredo de outros tempos (...)."

Enfim, Sud passou por inúmeras cidades do sertão nordestino numa época em que isso era uma verdadeira aventura, especialmente para um paulista filho de pais italianos. Viajou de trem, navio e automóvel, este, trafegando pela Paraíba e Ceará. Ele certamente adorou a viagem. Já sua esposa, minha avó Maria, pelo que conheci dela, não deve ter tido a mesma opinião.

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