terça-feira, 9 de junho de 2020

DE ARARAQUARA A SÃO PAULO DE TREM (1881)


Locomotiva V-8 em Araraquara em 1979 - Foto João Pires Barbosa Filho

Não era fácil a vida sem os trens como transporte a longa distância. 

Em dezembro de 1881, a cidade de Descalvado já tinha trens praticamente diretos para São Paulo. Eram oito horas de trens, com baldeação ou troca de locomotivas em Jundiaí e paradas em todas as estações do percurso.

Araraquara não os tinha. A promessa era receber a linha da Paulista até 1885. As obras acabavam de começar a partir de Rio Claro.

A solução era ir de cavalo, ou troleys ou qualquer carro dos vários tipos que faziam transportes pelas pavorosas etradas da Província.

Era uma viagem de dez horas de Araraquara até Descalvado. Mais as oito horas de trem para a Capital. Um dia e meio.

Hoje, pode-se fazer Araraquara a São Paulo de automóvel, em pouco mais de três horas. Levando multas no radar, consegue-se fazer  em menos de três. 

De trem, a viagem não pode ser feita mais já faz mais de vinte anos (Araraquara - Rio Claro - Campinas - Jundiaí - São Paulo era o caminho mais curto de trem em cerca de seis horas). O ramal de Descalvado fechou há mais tempo, em 1977.

sábado, 6 de junho de 2020

A ESTRADA DE FERRO DO NORTE (1877)


Data dos anúncios: de 5 a 8 de julho de 1877, de "A Provincia de S. Paulo".

A inauguração da estação de Cachoeira (hoje, Cachoeira Paulista) em 1877 foi também a inauguração oficial da antiga Estrada de Ferro São Paulo-Rio, que era também conhecida como Estrada de Ferro do Norte. Esta já funcionava desde novembro de 1875, quando abriu o primeiro trecho entre São Paulo e Mogi das Cruzes. Basicamente e com algumas poucas modificações, hoje é a linha 11 da CPTM.

A inauguração deu-se quando a linha ficou pronta para encontrar-se com a ferrovia que já chegava do Rio de Janeiro até o ponto de encontro em Cachoeira.

A Estrada de Ferro do Norte assim se chamava pois passava pelo Vale do Paraíba, naquela época considerado o norte da então Provincia de S. Paulo e região muito rica, que deveria garantir o futuro da nova ferrovia.

Portanto, houve muitas festas tanto em Cachoeira como na capital paulista. Estas festas foram bancadas pela própria ferrovia. Supõe-se que houve participação da E. F. D. Pedro II também nas comemorações, pois ela també chegava à nova estação de Cachoeira, vindo do Rio de Janeiro com a bitola larga. Como se sabe, esta última ferrovia foi depois comprada pela ferrovia carioca, então já chamada de E. F. Central do Brasil em 1891 e, alguns anos depois, teve sua bitola alargada de métrica para larga (1,60m) para evitar justamente a "quebra de bitola" em Cachoeira e permitir trens diretos pelo agora chamado Ramal de São Paulo, sem baldeação.

A preparação para a festa em São Paulo tomou alguns dias e muitos anúncios nos jornais da época, inclusive o do A Provincia de S. Paulo (hoje, o "Estadão").

Os trens do dia 8 de julho de 1877 sairiam de Campinas, passariam por São Paulo e seguiriam para Cachoeira, onde mais festas haveria. O trem, usaria, portanto, para isto, também, as linhas da Companhia Paulista e da São Paulo Railway. Os preços deste trem inaugural eram salgados: 10 mil reis para a Primeira Classe e 7 mil reis para a Segunda. Havia trens da Ytuana, desde Ytu e Piracicaba também, que chegariam a Jundiaí.


Haveria também a construção de arquibancadas com camarotes de madeira na estação do Norte (depois chamada de Roosevelt e hoje, de Braz). Vendiam-se muitos artigos relacionados com as festas, marcadas para o dia 8 de julho: colchas para guarnecer janelas próximas à estação do Norte e à saída da linha no Braz também eram anunciadas.

                                       
Eram 25 camarotes de cada lado para cinco pessoas cada. Dentro da estação, havia mais 15 camarotes.

Pois é, a ainda pequena São Paulo vivia de festas, que não eram tantas assim. Esta seria a terceira festa de inauguração de uma ferrovia, depois da São Paulo Railway (1867), da Cia. Paulista (na Luz, 1872) e da Sorocabana (1875).

A pequena E. F. do Norte parece ter gastado demais com as festas. Não demorou muito para que a empresa passasse a gerar prejuízos sobre prejuízos, dado principalmente os custos com a quebra de bitola e má administração. Em 1891, foi vendida para a Central do Brasil.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

VISITANDO MUSEUS NO BRASIL



Neste museu, eu fui. Mas na época estava em reforma. Reabriu, não muito tempo depois, mas não tive como visitá-lo mais, infelizmente. Faz uns 20 anos. Em São Leopoldo, RS - um dia ele foi a estação ferroviária original da cidade, recuperada há anos para ser um museu.


Nada como visitar museus no Brasil, né?

Aqui (e principalmente nas cidades do interior), museus fecham no fim de semana e também têm duas horas de almoço. Tem que torcer para que a pessoa que tenha a chave chegue de manhã no horário e vá e venha do almoço pontualmente; há de se verificar se o museu não está fechado temporariamente para obras (geralmente na porta fechada não tem o aviso se ele está fechado mesmo), tem de ver se o novo prefeito não o fechou (para sempre) no seu 2º dia de mandato (soube de vários casos de ciumeira partidária).

Checado tudo isso, pode partir para a visita. Aí você entra e não vê ninguém para tirar uma dúvida de algo que você viu e não sabe o que é; às vezes você encontra uma moça varrendo o chão e pergunta se ela trabalha ali, mas ela responde que é só faxineira, não entende nada daquilo e que despediram a moça que ficava atendendo no museu; ou então, uma menina linda, loira de olhos azuis, que está sentada no balcão lendo uma revista (hoje ela estaria no celular) e que lhe responde que ela é funcionária, sim, mas estagiária, que está ali por um acordo com a faculdade, mas não ensinaram nada para ela sobre aquelas coisas empoeiradas que estão por ali.

Se você tiver sorte, chega ao museu e não consegue abrir mesmo no horário de funcionamento, mas tem alguém batendo papo com outro ali perto da porta que diz que conhece quem fica ali e vai pegar a chave com ele para abrir para você. Finalmente, você entra e alguém com um conhecimento razoável e que atende ali é simpático, você bate um papo com ele no museu, sempre vazio de visitantes. Você comenta que os museus no Brasil são sempre assim como eu descrevi mais acima, e ele diz que não! Que no dele há mais de mil visitantes por mês! Aí ele te mostra a lista e é tudo criança de 6 a 10 anos, que visitam como classe da escola local o museu algumas vezes ao ano. Ele também diz que essa criançada não quer saber nada de nada, fica só olhando e alguns têm o celular na mão. E eu penso: se alguma criança, uma que seja, por classe, se interessar com alguma coisa que ali vir, já será um grande lucro.

Mas não vamos generalizar: obviamente conheci ou tentei conhecer apenas uma percentagem bem pequena de todos os museus existentes atualmente no Brasil. E os que visitei se limitaram a uns poucos estados brasileiros, a grande maioria no sul e no sudeste. E vários dos que já visitei não funcionam mais.

Houve museus que estavam fechados, mas alguém se propôs a abri-lo para mim. E na grande maioria fui muito bem tratado, alguns conheciam meus trabalhos na Internet e livros publicados. 

 E é bom lembrar que alguns dos maiores e mais famosos museus do Brasil estão hoje fechados, como o Museu do Ipiranga (desde 2012), o Museu Nacional do Rio (desde 2018). O primeiro por reforma (eterna?) e o segundo, por ter sido destruído por um incêndio.