segunda-feira, 26 de outubro de 2009

VIVER SEM ELETRICIDADE

Até o século 19, todas as pessoas do mundo viviam sem eletricidade. Como não a conheciam, não lhes fazia falta. Ora, não havia computador, televisão, cinema, máquinas de lavar roupa, automóveis, iluminação pública nem residencial. As indústrias tinham motores que funcionavam com máquinas a vapor, assim como as ferrovias.

Dormia-se cedo e, se queriam sair durante à noite, as pessoas passeavam pelas ruas e praças das então pequenas cidades, a pé mesmo, fossem ricas ou pobres, onde havia a iluminação da lua cheia em alguns dias e alguns pontos onde tochas – e depois a iluminação a gás ou óleo de baleia – davam uma certa iluminação para não se ficar no mais profundo breu.

Sim, o breu, que ainda existe nas noites em que passamos eventualmente em pequenas casas de fazendas, onde apagamos a luz para dormir e a iluminação do lado de fora não existe ou está muito distante. Abre-se os olhos dentro de casa e não se enxerga nada... em algumas noites, mesmo fora ver alguma coisa na escuridão é quase impossível.

Um dia descobriu-se e colocou-se em uso a eletricidade. A lâmpada elétrica de Tomas Edison começou a iluminar as casas e ruas, apagando os lampiões a gás e as velas. É verdade que a eletricidade e a iluminação vieram aos poucos, começando pelas cidades, no final do século 19. Primeiro nas grandes capitais, depois nas cidades menores. Em São Paulo chegou em 1900, mas é verdade que antes disso já havia alguma iluminação elétrica proveniente de pequenas usinas a gás. Em Santana de Parnaíba, veio em 1904. Em muitas cidades do interior, veio na primeira década do século 20 e continuou vindo pelas décadas seguintes.

No início, havia luz e eletricidade somente em parte do dia, sendo cortada pela fornecedora às 8 da noite e reacendida na manhã do dia seguinte. Em Parnaíba, por exemplo, somente em 1946 a eletricidade passou a ser contínua, 24 horas ao dia. Em cidades menores, pequenos sítios ou fazendas no interior também, era muito comum, mesmo nos anos 1970, a eletricidade existir durante a noite, mas “faiscando” como velas que diminuíam e aumentavam a chama.

Hoje em dia, creio que não há parte do Brasil – ou se há, são poucas – que não tenham eletricidade. Isso é possível, pelo menos no Brasil, porque a maioria da força vem de rios represados que formam barragens cada vez maiores para que possam gerar cada vez mais energia elétrica. Hoje, ninguém quer que isso deixe de existir. Não se consegue mais viver sem energia elétrica – basta ver o mau humor das pessoas quando acaba a luz em casa por causa de alguma falha no fornecimento.

Discute-se todos os dias nos jornais o quanto cada nova usina – elas não param de ser projetadas – vai afetar o meio ambiente onde vão ser construídas. Todos querem impedir sua construção, mas ninguém quer ficar sem luz. Hoje li algo sobre a energia eólica em Camocim, no Ceará, que, apesar de “limpa”, como se diz, arrasa com uma grande área provocando uma série de transtornos. As usinas hidrelétricas afetam o meio ambiente, claro. Ídem as nucleares, como a de Angra, estas por causa da questão de onde se colocar o lixo atômico e do perigo de um vazamento ou uma explosão de material radioativo. Energia solar é caríssima quando gera eletricidade.

O que fazer? Para os ecologistas que acham que podem viver sem ela, proponho criar uma área e que seja oferecida para eles e suas famílias se mudarem. Ali você poderia ter tudo o que quisesse – mas não teria eletricidade. Já pensaram doar uma área inteira do tamanho de um Estado médio brasileiro para se viver sem eletricidade? Afinal, não estou falando de pequenas comunidades que até podem existir e eu não saiba, como a dos quakers americanos.

O pior é que mesmo que isto fosse aceito e realizado, o número de pessoas e o tamanho da área sem eletricidade não seriam suficientes para se ter uma grande baixa na necessidade de novas construções de usinas de energia – sejam lá geradas por que matéria-prima for.

Enfim: destruiremos o mundo até onde for possível. O problema é se passarmos deste ponto e não percebermos. Pior do que isso, somente se descobrirmos de repente que esse momento já passou há anos...

2 comentários:

  1. O texto é do próprio blogueiro?
    Só para dar efusivos parabéns.
    Vou guardá-lo para futuras reinvidicações por menos agressões ambientais.
    Continuarei a acompanhá-lo.
    Passarinho (moinhodepaz).

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  2. Sim, meu texto - como quase todos: os que não são têm a citação de quem são e estão entre aspas e/ou em itálico...

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