
Naquela foto que a revista A Cigarra tirou na Praça da República, ou próximo a ela, em São Paulo, aquela menina se atreveu a sorrir. Talvez tenha sido pega de surpresa pelo fotógrafo. Talvez ela tenha visto o fotógrafo e arriscado um sorriso. Ela era bonita, seu sorriso era bonito. Estava indo para a Escola Normal da Praça, ou seja, a Caetano de Campos, nome posterior. Suas amigas estavam ao seu lado, mas, embora bonitas também, não sorriram. Todas o eram, mesmo com aquelas saias pretas compridas e botinas abotoadas por zagaias. Quantos anos a menina teria? Se iam para a Escola Normal, teriam por volta de 15, 16, 17 anos. Teriam nascido ali por 1897, 98, 99. Meu Deus, quanto tempo! Seriam pouco mais jovens que minha avó. Poderiam ser minhas avós.
Quais teriam sido as conseqüências do seu sorriso? Teria ela sido repreendida quando os pais e amigos viram a fotografia na revista? Teria ela sido castigada, ou ficado falada na pequena cidade de São Paulo de então? Teria ela se arrependido do pecado, ou ficado traumatizada? O fotógrafo teria sido repreendido, ou sido congratulado pelos colegas por uma foto tão rara? O editor teria tido problemas por divulgar nas páginas da revista algo tão escandaloso? E a menina? Quem era ela? O que foi feito dela? Terá se casado, tido filhos, sido avó, bisavó? Seria de família rica? Onde morava? Enfim, o que terá acontecido com a primeira moça que ousou sorrir numa fotografia, mesmo que tenha sido sem perceber que estava sendo fotografada? A resposta provavelmente nunca será conhecida.
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