segunda-feira, 11 de maio de 2009

MENINOS, EU VI!...

Meninos, eu vi muita coisa sendo feita durante a minha vida. E nem sou um sujeito tão viajado assim. Nasci e vivi praticamente toda a minha vida em São Paulo, Capital – considerando que vivo há 27 anos em Santana de Parnaíba, que fica na chamada área metropolitana, e com isso, vou quase todos os dias para São Paulo.

Eu vi, eu me lembro de ter andado na rua da Consolação estreita e com bondes. Eu vi bondes andando pela cidade toda e seus trilhos serem arrancados. Vi a construção do metrô Santana-Jabaquara na primeira metade dos anos 1970, feito ainda sem o tatuzão em quase toda a extensão, onde ele abriu buracos imensos que depois foram tapados por lajes de concreto em avenidas como a Liberdade, Vergueiro, Domingos de Morais, Jabaquara, Cruzeiro do Sul, da Luz – depois Prestes Maia – e Tiradentes. Eu vi a rua da Consolação sendo alargada com interrupções diárias de tráfego de um lado e de outro. Eu tomava ônibus todos os dias (os bondes haviam acabado em 1966 com o inicio das obras) para voltar para casa e andava sobre escombros para chegar a ele – que mudava todos os dias de lugar. Eram cenas de guerra.

Vi também a avenida Sumaré ser construída em cima de um córrego que em alguns pontos tinha uma pequena faixa de terra transitável e em outros, um completo matagal onde não passava nada – este trecho sendo entre as ruas João Ramalho e Turiassu. Depois, resolveram, nos anos 1970, unir a avenida Sumaré à avenida Brasil e demoliram dezenas de casas entre a avenida Brasil para alargar a Henrique Schaumann e a rua Cardeal Arcoverde. Daí, para construir a avenida Paulo VI, demoliram mais casas entre esse ponto e a rua Pombal. Foi cavar uma rua largérrima no meio de um morro e das casas que ali existiam.

Eu vi demolirem o pontilhão dos bondes de Santo Amaro em frente ao Detran para fazerem a avenida Pedro Álvares Cabral se ligar com a Rubem Berta. Eu vi a Rubem Berta ser aberta, como continuação da avenida 23 de Maio, nome que deram quando começavam a escavar a avenida Itororó em cima do córrego desse nome (dizem que foi daí que vem a velhíssima música "Eu fui no Tororó, beber água não achei"... mas dizem isso de outros Tororós Brasil afora também...). Eu ouvia o bate-estacas bater a manhã inteira na Praça Roosevelt de dentro da minha sala de aula no Colégio Porto Seguro para construírem aquela praça de concreto horrorosa que sobrevive até hoje. Alguém se lembra de como ela era antes? Até 1966, era um amplo campo asfaltado com uma enorme feira livre às quartas e sábados. Era feia, ficou pior.

Durante dez anos, de 1966 a 1975, a cidade foi um campo de batalha. Desvios de trânsito para todos os lados. Era muito difícil dirigir, havia congestionamentos que em nada perdiam para os congestionamentos diários de hoje numa cidade que tinha muito, mas muito menos carros, ônibus e caminhões do que hoje.

São Paulo começou a perder sua poesia nessa época. Até aí, a cidade ainda mantinha basicamente a mesma forma das ruas e praças de 30 anosa trás, com poucas exceções. Havia ainda muitas casas, poucos prédios: no Centro, em Higienópolis e nos Jardins; fora isso, não havia muitos. É verdade que já haviam assassinado o Anhangabaú, com a demolição do Palacete Prates em 1953 e mais tarde (1972) do prédio da Câmara. Já o Clube Comercial não sei quando foi para o chão, mas foi, creio, entre essas duas datas. Três prédios grandes e horrendos foram construídos em seu lugar. Do outro lado do parque, a construção de um Zarzur e Kogan ao lado do prédio do Hotel Esplanada (hoje sede da Votorantim, mas está lá) já afogava a avenida de vez. O prédio do Mappin não ajudava, mas já estava lá desde 1939, embora tenha se convertido em um marco da cidade.

É muita coisa. Não dá para escrever tudo aqui. A foto é de 1972, tirada por mim. O buraco do metrô na rua Vergueiro já havia sido tapado na esquina da rua Joaquim Távora. A rua Vergueiro até então era o que se vê à esquerda. As casas do lado direito foram todas derrubadas.

3 comentários:

  1. Estive visitando seu blog, li vários posts mas preciso retornar com mais tempo e atenção, pois o blog merece! Você está de parabéns.
    Escrevi algo sobre as ferrovias paulistas no meu blog www.tratoresantigos.blogspot.com e procurando na internet acabei achando algumas matérias de seu blog!! Att. Lucas

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  2. Obrigado, Lucas. Vi tambem seu blog - falar sobre tratores só mesmo para quem conhece e gosta... mas esses assuntos geralmente acabam gerando outros em volta, portanto, não fique surpreso de escrever sobre ferrovias de vez em quando.

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  3. Ralph, faço coro às suas palavras... eu também vi muita coisa ser construída e destruída em São Paulo. Tenho 53 anos. Eu vi tratores trabalhando para abrir a via marginal do Pinheiros, proximidades do Ceasa/Cidade Universitária, no início dos anos 60. Eu pesquei (?!) onde hoje é o Shopping Villa Lobos... ninguém acredita mas aquilo era um charco e era comum pessoas pescarem lá. Lembro-me da Praça Ramos de Azevedo calçada com paralelepípedos, dos gatos que habitavam o Vale do Anhangabaú, debaixo do Viaduto do Chá. Conheci a avenida São João sem o Minhocão - aliás, lembro-me dos congestionamentos que sua construção provocava.
    Sou do tempo do leite em litros de vidro com tampinha de alumínio... e que saudade de tudo isso! São Paulo já era gigantesca mas conservava um certo charme. Falava-se do concreto mas existia um romantismo, as pessoas eram mais humanas. Melhor do que relembrar é saber que existem outras pessoas como eu. Abraços, o que você escreve é ótimo!

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