quinta-feira, 26 de março de 2009

VELHAS ESTRADAS DE RODAGEM DE SANTANA DE PARNAÍBA

Houve um tempo em que as estradas, antes da chegada da ferrovia, já existiam, mas eram verdadeiras picadas abertas na mata, por onde trafegavam viajantes a pé, a cavalo e em carros de boi. Elas já eram chamadas de “estradas de rodagem” e eram estradas não realmente “estáveis”. Chamar uma estrada de “instável” não faz muito sentido, mas o que quero dizer com esta expressão é que elas podiam manter ou não o seu percurso. Estreitas, com o mato a lhes cobrir rapidamente no verão se o tráfego diminuísse, cruzando muitas vezes córregos e riachos a vau, sem pontes ou pinguelas, a frequência com que se formavam atoleiros desencorajava muitas vezes a manutenção de um caminho em alguns pontos; era frequentemente mais fácil fazer-se uma variante, um desvio para evitar o problema, do que insistir em consertar o local. Um desabamento de barreira, um arraste causado pelas chuvas, uma queda de ponte certamente podia mudar de forma permanente o traçado dessas velhas estradas. É bastante possível que muitas delas tenham sido mais do que centenárias: podem ter vindo de tempos em que o homem branco ainda nem havia chegado. Podiam fazer parte da malha do Peabiru – isto, tanto estradas quanto ruas de áreas urbanas.

As cidades eram pequenas. A maior parte da população vivia na zona rural, e poucos viviam nos centros urbanos, que tinham quatro, cinco ruas em muitos casos. Em alguns casos, uma rua somente – era exatamente por onde passavam as tropas e os viajantes, de um extremo a outro, seguindo seu caminho. Quando os velhos caminhos encontravam um rio maior, havia que se construir uma ponte para facilitar a travessia. Se o rio era muito largo, cruzava-se mesmo em barcos ou em balsas. A descrição de uma construção de uma ponte sobre o rio Juqueri-Guaçu, em Santana de Parnaíba, no distante ano de 1856, usando-se madeiras (parece que neste caso não foi usada base de pedras) de diversos tipos (canela, catiguá, guamirim, guatambu) nos fazem supor que os construtores utilizavam o que existia no local – é difícil imaginar que grandes toras fossem trazidas de longe em estradas tão ruins.

Os caminhos mantidos pela Câmara Municipal com enorme dificuldade eram as estradas mais importantes na época: em 1842, por exemplo, citam-se o Caminho de Pirapora (que seguia o leito aproximado da Estrada dos Romeiros de hoje), o Caminho Geral para São Paulo (também chamada de “caminho de fora”), que seguia um leito que deu origem a ruas atuais como a Avenida Alphaville e a Estrada do Mutinga, entre outras, e o Caminho de Barueri (também chamado de “caminho de dentro”), que, na verdade, seguia para a Aldeia de Barueri e não para Barueri, que simplesmente ainda não existia. Seu traçado coincidia em alguns trechos com a Estrada dos Romeiros de hoje. Também era citada a Estrada Real de Ytu, que seguia para São Paulo (em grande parte) pela atual avenida que acompanha a linha da Sorocabana (que também não existia) e pelas avenidas dos Autonomistas e Corifeu de Azevedo Marques. Para Ytu, seguia também acompanhando a várzea do córrego de São João, hoje chamado de rio Barueri-Mirim. O seu leito, depois da atual estação ferroviária de Jandira para a frente, está hoje entrecortado, mas pode ainda ser seguido em parte até o Coruruquara. Ela passava pelo município de Parnaíba, saía e voltava por um curto trecho no Coruruquara. Finalmente, existiam a Estrada para Araçariguama, que hoje é a estrada do Suru e que se encontrava no Coruruquara com a estrada de Ytu, e a Estrada para Jundiaí, que seguia em algumas partes a Estrada Tenente Marques, na região da atual Fazendinha, e depois entrava pelas caieiras do Vau, cruzando território da ainda inexistente Cajamar.

E havia também a Estrada do Paiol. Encontrei referências a esta estrada somente até os anos 1840. Ela parece ser, por diversas pesquisas em mapas antigos e atuais, a Estrada do Paiol Velho, que ligava a Aldeia de Barueri ao Paiol Velho, em terras da Fazenda Tamboré, num ponto hoje não muito distante do atual Rodoanel. Ela seguia do Paiol, até a Fazenda do Polvilho, em terras que depois foram loteadas para dar origem à Cidade São Pedro, bairro afastado do centro de Santana de Parnaíba. Seu trajeto seria mais ou menos o que hoje tem o nome de Estrada da Aldeinha (parte em Aldeia, parte em Alphaville), Avenida Tamboré (no Tamboré Empresarial), Avenida Paiol Velho (aqui um trecho que manteve o nome), depois entrando por terras da área industrial que há alguns anos vem sendo loteadas pelos donos da antiga Fazenda Tamboré, num leito hoje indefinido.

Enfim, a busca de estradas e de sua história, bem mais difícil de ser traçada do que a de uma ferrovia, com leito fixo por anos, somente alterado quando necessário, com o desenvolvimento da tecnologia. Quanto às estradas de rodagem, hoje são asfaltadas, o que torna pouco provável mudanças de traçado – embora eles possam ocorrer às vezes.

2 comentários:

  1. Olá Ralph.Primeiro quero parabenizar pelo seu trabalho sobre as ferrovias, excelente material. Fiquei emocionado em encontrar uma pérola no site estacoesferroviarias, uma estação localizadas em Conselheiro Martim Francisco. Esse subsdistrito de Mogi Mirim, fez parte da minha infância,por longas jornadas de férias. Meus tios, possuiam uma chácara bem em frente essa estação, e não tive como não me emocionar ao ver as fotos. Eu andei no trem de passageiros em 1978 sentido Mogi Mirim, tinha apenas 05 anos de idade, brinquei na marquise da estação, nos corredores laterais, dentro da estação.Inclusive possui uma espécie de " caixa dágua do outro lado da casa do ferreiro. Enfim, obrigado pelas imagens, e se tiver mais fotos da estação e de Martim Francisco, peço a gentileza em enviar, pois da mesma forma, vou levantar imagens na estação e encaminhar para você. Meu e-mail é danilopuchetti@hotmail.com.

    Um grande abraço e mais uma vez Parabéns.

    Danilo

    ResponderExcluir
  2. Danilo, eu não tenho mais imagens de lá: o que tenho e o que sei está no site. Obrigado pelas informações, v. viajou num dos últimos trens que passaram pela estação, que foi desativada com a linha velha em abril de 1979.

    ResponderExcluir