quarta-feira, 29 de maio de 2013

CATALÃO, GOIÁS


Nem tudo é abandono e roubalheira no espólio das ferrovias brasileiras.

A cidade de Catalão, em Goiás, resolveu restaurar sua estação, que estava fechada desde os anos 1980, com o fim dos trens de passageiros na região. A estação foi construída em 1942 pela RMV - Rede Mineira de Viação e substituiu uma outra, que aparentemente não ficava no mesmo local, que era ponta de linha de um ramal da Estrada de Gerro de Goiaz. Esta última acabou demolida na época.

A restauração da estação atual é anterior a 2004. Não tenho a data. Porém nove anos se passaram desde então e a estação está muito bem conservada. Ela vem sendo utilizada pela Prefeitura de alguma forma. Na realidade, não conheço a cidade, jamais tive a oportunidade de lá estar.

Hoje, Catalão, que era a penúltima das estações da chamada linha-tronco da Rede Mineira (a última era Goiandira), que percorria uma enorme distância de mais de mil quilômetros desde Angra dos Reis, é ponta de linha de um curto ramal que vem desde Goiandira. Nos anos 1980, por causa da construção de uma barragem na divisa dos Estados de Goiás e Minas Gerais, a linha foi cortada e diversas estações intermediárias, desde a cidade de Monte Carmelo, no noroeste de Minas, foram fechadas.

Desde então, a linha dobra em Monte Carmelo para oeste, chegando a Araguari e dali segue para Goiás.

Porém, a cidade de Catalão manteve sua estação viva. É interessante lembrar, também, que a linha da Companhia Mogiana que vinha do Rio Grande, em Jaguara, na divisa mineira/paulista, chamava-se Linha do Catalão. E nunca chegou à cidade. Os planos mudaram, mas o nome se manteve por décadas. A linha da Mogiana acabava em Araguari, no norte do Triângulo Mineiro.

As fotos deste artigo são todas do prédio da estação e foram-me enviadas por Odair Lopes, em janeiro deste ano.

terça-feira, 28 de maio de 2013

O CAOS NA BAIXADA E A FALTA QUE OS TRENS FAZEM

Jornal A Tribuna, de Santos, hoje: lá no fundo, a bagunça impera
Hoje de manhã, o caos na Baixada Santista. A esclarecidíssima prefeita de Cubatão resolveu aplicar um decreto dela mesmo que faz com que os dois estacionamentos de espera de caminhões que se dirigem ao porto de Santos para descarregar principalmente grãos entre as 18 horas e as 6 da manhã.

Sem ter onde esperar para descarregar, os caminhões, desde a noite de ontem, começaram a parar nas próprias rodovias que se destinam ao porto. O resultado: caos total. Nem caminhões, nem ônibus andavam na região. Tudo parado. Centenas de pessoas perderam o dia de trabalho. Diversos motoristas de camninhão perderam tempo de espera pelo dia todo.

Qual o motivo que justificaria uma ação dessas dessa irresponsável? Os pátios nem são da Prefeitura, são particulares. Porém, pelo que entendi, o trânsito em partes do município que ela diz que administra seria prejudicado com isso. Ora, que diabos! Cubatão e as estradas estão ali há, literalmente, séculos! Durante todo esse período não aprenderam a conviver, ou não tomaram as medidas para isso? A medida, provavelmente, foi do tipo "coloca o bode na sala e tira depois", uma decisão que trouxe inúmeros prejuízos para todos. Quem pagará por eles? Certamente, não ela, pois neste país fugir das responsabilidades já é algo comum.

Agora, vem a pergunta ao governador e a vários de seus antecessores: Sr. Alkmin, onde estão os trens de passageiros prometidos para Santos? Sr. Serra, o que o Sr. fez durante todo o seu mandato que nem olhou para o problema? O Sr. Mario Covas, falecido, foi quem entregou a FEPASA e também em cuja época foram extintos os trens de passageiros da Mairinque-Santos (os trens faziam Embu-Guaçu a Ana Costa), da Santos-Jundiaí e do ramal de Juquiá, que percorria toda a passagem. Os TIMs, que faziam o trecho Santos-São Vicente-Samaritá (subúrbios) foram desativados. Antes disso, em tempos de Maluf e de Montoro, foram desativados os trens de passageiros que faziam a ligação Santos/Valongo à COSIPA e ao Casqueiro. Já na época de Paulo Egidio e Laudo Natel, a segunda linha da Santos-Jundiaí que descia para Santos foi se deteriorando, sem uso, linha essa hoje quase totalmente destruída e que certamente auxiliaria os cargueiros que descem para o porto.

Com trens de passageiros e mais trens de carga, o número de caminhões não seria esse número absurdo que corre por lá hoje. Sem trens, estamos ferrados. Todo mundo sabia disso há 10, 20, 30, 40 anos atrás. Mas nada fizeram, alegando muitos uma suposta mentira de que os trens eram obsoletos. Tão obsoletos, que são usados no mundo inteiro. Aqui, só os de carga, mas não do jeito que o país precisa e sim do jeito que as concessionárias querem, sem se importar com a infraestrutura do Brasil.

Já trens de passageiros, estão somente na saudade e na promessa.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O ÊXODO RURAL CHEGOU ÀS CIDADES MENORES?

As madeiras da estação de Santa Silveria estão caindo

Então.

No Brasil do século XIX, era rara - raríssima - o município cuja população urbana era maior do que sua população rural. No século XX, isso começou a se alterar, pela facilidade da mobilidade das populações aumentando, primeiro, com as ferrovias, depois, aos poucos, com os automóveis e a mlhoria significativa das estradas de rodagem.
O interior da estação de Santa Silveria transformou-se num monte de lixo. O fogão a lenha está arruinado.
Nos anos 1920, o êxodo rural já era uma realidade. Mesmo assim, em 1930, 70% da população brasileira morava em zonas rurais. Entenda-se isto como o povo morando em bairros, vilas, aldeamentos - chame-os como quiser - afastados do núcleo urbano dos municípios (a "cidade") e vivendo uma vida nitidamente rural, criando cabras, porcos, galinhas, plantando milho e feijão, trabalhando em fazendas de café, algodão, etc. Morando dentro de fazendas, muitas vezes, nas famosas "colônias" Ou em vilas ferroviárias, toda aquela equipe que era necessária para a grande infraestrutura das linhas férreas poder funcionar.
O mato cresce em volta da estação de Santa Silveria.
Em 1930, já preocupava a situação. O êxodo rural fazia com que cada vez mais rapidamente decaísse a relação entre as porcentagens urbana/rural. Até que se inverteram.
E o matio cresce dentro dela também.
Hoje, mais de 80% da população brasileira mora em zona urbana. Para chegarmos a isso, foram poucas décadas de destruição e desaparecimento de inúmeras colônias, vilas ferroviárias e minúsculos bairros rurais. Muito disso virou ruínas. Da maioria, nada sobrou - estão debaixo de canaviais em sua grande parte. Até as fundações foram eliminadas.

A consequência de tudo isso é o aumento do crime e da violência urbana. Agora, algumas cidades que têm populações estáveis há décadas, ou mesmo decréscimo, parecem apontar para um desaparecimento. Cidades de 30 mil pessoas ou menos, que não conseguem crescer, cercadas pela monocultura como canaviais, por exemplo, que oferecem poucos empregos. Pode acontecer. Ou não. Podem ser ruínas daqui a 30 anos, ou não, mas dificilmente conseguirão se manter da forma que estão. É verdade, é um sossego enorme, mas a segurança já está longe de ser a mesma e as pessoas migram para centros maiores.

Tudo isso veio-me à mente hoje depois de receber fotografias de duas estações do antigo ramal de Santa Veridiana, da Cia. Paulista. Baguassu, no município de Pirassununga, e Santa Silvéria, no de Santa Cryz das Palmeiras, desativadas há quase quarenta anos. Causa: arrancamento de trilhos, ou melhor, fim de atividades da linha que as servia. Por algum tempo, foram moradia. Hoje, sem segurança e isoladas, foram abandonadas. Ninguém as quer. A de Santa Silvéria pertence à prefeitura. A de Baguaçu, realmente não sei, mas creio ainda estar nas mãos da entidade zumbi chamada Inventariança da RFFSA.
Em Baguassu, a situação é pouca coisa melhor... ou menos ruim. A menina não gostou da sujeira.

Quem me as mandou, um morador de Santa Cruz das Palmeiras, Suiá Stocco Teixeira, escreveu-me:
"Bom dia Ralph,
Admiro muito o seu trabalho e compartilho da sua indignação pelo desrespeito dos brasileiros pela sua história e patrimonio.
Na minha região existem várias estações que já estão presentes no seu site e estou visitando-as com minha filha de 8 anos.
Além das estações, aqui existem muitas fazendas de café antigas e que estão sendo destruídas, junto com suas igrejas e colonias.
Dói assistir esse desrespeito.
Anexei algumas fotos que tiramos neste final de semana das estações Baguaçú e Santa Silvéria.
Espero ter colaborado de alguma forma e me coloco à disposição."
A bela cobertura de 120 anos ainda se mantém... milagre divino em Baguassu?
Gostei das palavras, mas não gostei da situação. Santa Silvéria, depois de ter alguma utilidade, foi jogada Às traças pela prefeitura. Por que será? Falta do que fazer com ela? Realmente, pode ser. Segurança, ali, pode ser um problema. E, por isso, está condenada à morte. Seu interior está depredado. O velho fogão à lenha já é praticamente somente uma pilha de tijolos. A bela cobertura da estação, trabalho em madeira de 1891, está caindo de podre. O prédio, cercado pelo mato, aberto à devastação de gente que não tem o que fazer e que destrói por diversão.

Baguassu não está tão mal, mas apenas parece ter mais sorte do que a outra: os vândalos ainda não a descobriram, ou será que alguém cuida um pouco dela em segredo? Tristeza...

domingo, 26 de maio de 2013

TEMPOS DE INGLATERRA


Os mapas de ferrovias que se vêem da Inglaterra e também de outros países, como os dos Estados Unidos, mostram mapas coalhados de ferrovias indo em todas as direções. É verdade que lá também muitas acabaram, mas o prestígio das que sobraram continuam alto, com transporte de todo tipo de cargas e de passageiros.

Vejam aqui um mapa que engloba o Estado de São Paulo e vizinhanças, no ano de 1938.

As ferrovias em negro eram as que existiam na época e as em vermelho, as que então estavam projetadas. É interessante notar que, até 1960, as ferrovias ainda cresceram - somente foram arrancadas poucos quilômetros de ferrovias de bitola estreita da Paulista e da Mogiana com quilometragens curtas em 1956 e 1960.

Especificamente, nessa figura, nenhuma linha projetada (em vermelho) foi realizada. Apenas o foi um pequeno pedaço no norte do Paraná, de Rolandia a Cianorte. Até 1960, foram implantadas as continuações das linhas da Paulista para oeste (para elém de Pompeia), da E. F. Araraquara (para além de Mirassol) e o ramal de Dourados, da Sorocabana, que unia Presidente Prudente ao Pontal do Paranapanema, em Euclides da Cunha, e que já nem existe mais. Funcionou apenas por pouco mais de 20 anos.

Houve outras linhas construídas, também. Nenhuma delas, no entanto, faziam parte dos projetos do mapa de 1938.

Em compensação, o que houve de linhas que aparecem aí e que foram retiradas a partir de 1960, é de assustar. Destroçaram nossas ferrovias e nós ficamos apenas olhando. Já imaginaram isso tudo hoje, funcionando a diesel ou linhas eletrificadas, linhas modernas retificadas? Já pensaram?

sábado, 25 de maio de 2013

MANUTENÇÃO, PRIORIDADE X (A "Z" É A CULTURA)

Os bondes do Taquaral na oficina (Foto: Gustavo Tilio/Especial para AAN)

Há cerca de dois anos, um acidente com mortes no bonde de Santa Tereza, Rio de Janeiro, fez com que a linha fosse suspensa para reavaliação. Com isso, foi-se o meio de transporte para os moradores do bairro - as ruas são muito estreitas para o fluxo de ônibus, que acabaram prevalecendo mesmo assim - e também um dos mais procurados roteiros para os turistas, principalmente estrangeiros, na cidade.

O acidente foi causado por pura e simples falta de manutenção. Já nas oficinas, descobriram-se gambiarras no lugar de peças de alta responsabilidade nos veículos. Prometidos para retornarem, até hoje as ruas do bairro estão sem os bondinhos.

Há poucos meses, os VLTs - bondes modernos - implantados e funcionando desde 2010 na antiga linha férrea da Rede de Viação Cearense entre as cidades do Juazeiro e do Crato, deixaram de circular. Ou melhor, das três composições, duas quebraram e foram para a manutenção e a terceira sobrou para cuidar de todos os horários do percurso. Houve notícias de que mesmo esta não estaria circulando. Em abril, no entanto, uma pelo menos ainda estava.

Aguarda-se notícias sobre a licitação de peças e consertos para as unidades, todas com poucos anos de uso. Até agora, nenhuma licitação foi feita.

No último domingo, um bonde do Parque do Taquaral, em Campinas, cuja  linha  somente estava  com esse funcionando, também pifou. Outros dois tiveram os motores fundidos há alguns meses e outro está parado há quatro anos. Com isso, o passeio - a linha é turística, mas atrai muita gente - está suspenso. Até quando? Saberá Deus, pois agora vão ser feitos orçamentos para saber se haverá necessidade de licitação, que depende da falta de preço.

Segundo a jornalista Sheila Vieira, "o Parque Portugal tem quatro bondes, dois deles com os motores passando por retífica em uma empresa de São Paulo, recuperação iniciada em abril e que deve custar R$ 200 mil. Além do recondicionamento dos motores elétricos, também serão reformados os trucks, que compreendem a parte rodante com rodas, suspensão, rolamentos e freios. A licitação do conserto foi concluída em abril, prazo considerado razoável e que permitiu incluir a recuperação dos bondes no plano de ação de 100 dias de obras na cidade. A situação dos bondes é o reflexo do sucateamento ocorrido nos últimos 16 anos, período em que as composições funcionaram sem manutenção ou receberam peças inadequadas".

"O carro que quebrou atendia sozinho os visitantes da Lagoa do Taquaral desde o segundo semestre do ano passado, depois que outros dois bondes fundiram os motores. Os três carros passaram por reformas em 2011. Um quarto bonde — o número 1 — está sem previsão de voltar a rodar e se resume à carcaça após ter tido rodas, motores e toda a parte responsável pela movimentação furtada em 2010. A unidade permanece em cima de cavaletes, sem perspectiva de quando poderá rodar. Uma sindicância aberta no início do ano tenta descobrir o responsável pelo sumiço do material, mas até agora as investigações não avançaram". Manutenção preventiva é algo que as prefeituras não sabem provavelmente o significado. Quem cuida delas no Ceará, em Campinas e no Rio de Janeiro deve ser Deus. Que, por algum motivo, deve ter demitido o gerente de manutenção para cortar custos e não colocou ninguém no lugar dele já faz anos.

Está bem, os bondes do Taquaral são turísticos. Mas os do Crato e do Rio não são. Onde está a população que os usa, que não reclama de nada (menos de fumar maconha e da bolsa-família)?

quarta-feira, 22 de maio de 2013

NO PAÍS EM QUE TUDO ATRASA, DOS TRENS AOS PREFEITOS, DO RIO SÃO FRANCISCO ÀS DOMÉSTICAS

Bonde de Santos - velhos tempos. Autor desconhecido

No Brasil tudo atrasa. Desde a obra para aumentar o banheiro em casa até a transposição do São Francisco. E por que?

Bom, por diversos motivos, inclusive imperícia administrativa, falta de dinheiro, custos subestimados e também, mas não somente, o relaxo. O descaso.

Hoje saiu a notícia aqui que o prefeito de Santana de Parnaíba, cidade onde moro, foi destituído por ter "ficha suja". Sem entrar no mérito da questão, sei que a nulidade de sua candidatura - portanto, antes da eleições de novembro - já havia sido pedida à Justiça Eleitoral por seu adversário. As eleições vieram, o prefeito supostamente "ficha suja" foi eleito, mandados de segurança foram pedidos e não cedidos, até que, ontem, o Supremo Tribunal de alguma coisa (Eleitoral?) votou definitivamente e isso resultou na sua deposição.

Pergunta: por que demorar tanto para se julgar isso? Por que deixá-lo assumir sem ter sido julgado? Agora, todas as decisões que ele tomou durante cinco meses e meio poderão ser revogadas. Para que isso? Fora que, ainda não sabem se é o candidato que ficou em segundo lugar, o mesmo que pediu a nulidade da candidatura do outro, quem tomará posse, ou se assume o presidente da Câmara Municipal (que é o filho do prefeito deposto, pasmem!) por algum tempo e haverá nova eleição.

Também não tiveram tempo para decidir isso?

Parece o caso da regulamentação das empregadas domésticas: a decisão de se pagar FGTS e horas extras foi tomada há cerca de dois meses. Porém, até agora ninguém se lembrou de regulamentar como serão pagos os tributos, considerando-se que uma residência não tem departamento de RH. Por que a regulamentação não saiu junto com a aprovação do projeto? Mais tempo perdido.

Lá em Santos, foi anunciado o início das obras do VLT na cidade. Depois de terem bondes elétricos por setenta anos, depois um TIM - Transporte Intermunicipal (entre Santos e São Vicente) que correu por cerca de dez anos, se tanto, pela linha velha da Sorocabana (todos os dois extintos sem um motivo decente, somente por vontade de quem os deveriam proteger), a cidade tenta pela terceira vez ter um transporte decente.

Adivinhem: embora com equipamentos modernos, o VLT é um bonde. Mas não seguirá exatamente o trajeto dos velhos bondes. Estes, com seus trilhos até hoje enterrados sob o asfalto na maior parte de seu antigo percurso, somente foram retomados em pequenos trechos no centro da cidade, somente nos finais de semana, para fins... turísticos. O VLT seguirá, em grande parte, o caminho do TIM! Este era basicamente TUES - sim, elétricos de origem - movidos sendo puxados por uma locomotiva diesel que rodara no ramal de Jaboticabal da Cia. Paulista mais de vinte anos antes.

Em outro trecho, ligando o ponto onde a antiga linha da Sorocabana cruzava a avenida Conselheiro Nebias ao centro da cidade, necessitará de desapropriações e colocação de trilhos (vai ser também em boa parte o caminho dos trilhos de bondes). E no mesmo dia em que se anunciou as desapropriações, vêm os arqueólogos locais apelando ao Ministério Público para atrasar tudo isso, para poder fazer escavações no leito da região do centro. Nada contra, acho que tem de ser feitas mesmo.

Porém, por que não se pediu isto antes? Na cidade, todo mundo que lê um jornal sabe muito bem que o trajeto passaria pelo centro. E só agora vão pedir isso? Por que não se anteciparam e pediram antes? Será que fazem isso de propósito?

Aqui são somente alguns exemplos de imperícia administrativa aliada a descaso. Demora em decisões judiciais, em apresentar projetos decentes, em não se antecipar a algo que já se sabia que iria acontecer.

O fato é que isso tudo acaba por inviabilizar inúmeros projetos que se perdem no cipoal da burocracia e da falta de programação e planejamento. Foi assim no passado, é assim hoje e não vejo perspectivas de que não seja assim no futuro.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

TUDO É PROMESSA, NADA É REALIDADE

Acervo J. H. Buzelin

Pois é, o assunto "trem de passageiros no Brasil" continua a todo vapor por aqui. Em um país onde político vive de promessas feitas (que não se transformam em realidade), vale tudo. Até prometer um MacDonald´s em cada município.

Como essa promessa parece que ainda não passou pela cabeça de nenhum candidato, fica mesmo na promessa de trens de passageiros - até trem turístico vale.

Mas, não entendo - não entendo mesmo: se a maioria dos trens de passageiros desativada neste país tiveram pouca ou nenhuma revolta do povo na época, por que é que, depois de mortos por quinze anos pelo menos - estes, os paulistas, pois os de fora acabaram até bem antes - os candidatos acham que trens de passageiros dão votos?

Ou será que a situação das estradas (congestionamentos) e a farra do monopólio dos ônibus acabou por piorar tanto as coisas assim para os viajantes nos últimos tempos?

Depois de extintos os trens de passageiros - todos, exceto o Vitoria-Minas e o Carajás, além de um longínquo trem de 150 km de percurso no Amapá - começaram as promessas de volta deles. Não falo aqui de trens turísticos, geralmente de curto percurso (com raras exceções, como o de Campos de Jordão e o Curitiba-Paranaguá, que por serem diários ou quase, se confundem com trens de passageiros). Falo de trens mesmo, de passageiros, com poltronas confortáveis e percursos pelo menos um pouco maiores dos que os trens metropolitanos (ex-subúrbios) ou as linhas de metrô.

O último a ser comentado foi o Salvador-Feira de Santana, nos últimos dias. Mas já se falou, nos últimos quinze anos, do Campinas-Poços de Caldas, do Londrina-Maringá, do São Paulo- Campinas, Araraquara-Rio Claro, São Paulo-Santos, São Paulo-Sorocaba, São Paulo-São José dos Campos-Pindamonhangaba, Rio-São Paulo (este, o TAV, protagonista de longa novela), BH- Sete Lagoas, São Paulo-Belo Horizonte, São Paulo-Curitiba, Goiânia-Brasília, Rio-Petrópolis e outros que me faltam à memória neste momento.

Fora a promessa do governo federal de uns dois anos atrás de que toda linha nova de trem construída teria de transportar passageiros, o que incluiria a Transnordestina, a Norte-Sul, a FIOL baiana e outros. E ainda tem os VLTs pipocando, mas sem sair quase nenhum, por aí. O do Crato parece que foi para o saco depois de três anos operando. Deus queira que eu esteja falando besteiras quanto a ele.

Hoje, no duro no duro, quem acompanha tudo isto ainda acredita em alguma coisa dessas? Eu gostaria que saíssem, mas, sinceramente... está cada dia mais difícil. É pena, pois acho que eles são realmente necessários.

O que deixa as coisas mais desanimadoras é o fato de as notícias que pipocam nos jornais muitas vezes descrevem coisas que não fazem muito sentido, desde percursos estranhos como históricos errados, prazos de execução totalmente irreais (pelo menos para o nosso Brasil) e outras babaquices escritas. Virão estas coisas de jornalistas desinformados ou de porta-vozes que não sabem coisa alguma? Ou os dois?

E que não pensem que acho que eles deveriam ser como eram antes, mesmos trajetos, mesmos trens antigos, etc. Colocando de lado o glamour, queria mesmo que fosse tudo novo, mais rápidos e sem cheiro de mofo.

E que os milagres ocorram e as promessas se tornem realidade.