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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A VELHA ESTRADA DE SANTO AMARO

O "médico dos Fords", na estrada de Santo Amaro (Folha da Manhã, 2/12/1928)

Primeiro era só estrada de Santo Amaro. Desde quando, não sei. A localidade era antiga - existia pelo menos desde o século XVII. Com o tempo, tornou-se um município - "villa", como se dizia à época para municípios abaixo de um certo padrão de desenvolvimento. Em 1832, quando se desmembrou de São Paulo, capital, a estrada que ligava as duas cidades começava no Piques e terminava na igreja do atual largo Treze de Maio.

Nessa época, "Estrada de Santo Amaro" era o seu nome em toda a extensão, que seguia pela atual rua Santo Amaro, pela Brigadeiro Luiz Antonio a partir do entroncamento das duas (o entroncamento não existia: aquele trecho da Brigadeiro que existe hoje entre a rua Riachuelo e o fim da rua Santo Amaro só foi construído no início do século XX), dali seguia até o Itaim, no córrego do Sapateiro, onde hoje começa a avenida Santo Amaro. Seguia por esta até onde hoje está a estátua do Borba Gato e subia pela hoje avenida Adolfo Pinheiro até o largo Treze. A divisa entre os dois municípios era o córrego da Traição, onde hoje está a avenida dos Bandeirantes.

No fim do século XX, aquele trecho inicial passou a se chamar rua de Santo Amaro, nome que conserva até hoje. O resto seguiu como era - na mesma época, o trecho final passou a se chamar rua (depois avenida) Adolfo Pinheiro, personalidade da distante vila de Santo Amaro.

O tempo passou e veio o nome Brigadeiro Luiz Antonio para o trecho entre a rua Santo Amaro e a avenida Paulista. Depois, esse nome seguiu até o Itaim, como é hoje. Nos anos 1950/60, a estrada virou avenida, enquanto a Adolfo Pinheiro já designava então todo o trecho desde a Traição até o Largo Treze. Em meados dos anos 1960, nova mudança: a Adolfo Pinheiro passou a nomear apenas o trecho Borba Gato-Largo Treze, enquanto a então avenida Santo Amaro era prolongada até a rua da Fonte, onde hoje se iniciam a avenida João Dias e a rua Antonio Bento. Só que a João Dias, com isso, encurtou: el, que tinha seu início no Borba Gato, cedeu o nome para a avenida Santo Amaro até a citada rua da Fonte.

Portanto, quando se fala da estrada de Santo Amaro, há de se saber qual época de que estamos referindo. Está bem. E como era essa estrada nos anos 1920 e início dos anos 1930?

Nessa época, esse nome se dava ao trecho Itaim/Córrego do Sapateiro (onde hoje está a av. Juscelino) e o Brooklin, digamos, perto do Córrego do Cordeiro. Ela ainda percorria dois municípios. Não era pavimentada, pelo menos no trecho que ficava em Santo Amaro (que deixou de ser município e foi anexado a São Paulo em 1935):

"As estradas de rodagem que ligam São Paulo às cidades vizinhas, com exceção do Caminho do Mar, estão quase que intransitáveis. A de Santo Amaro, por exemplo. Movimentadíssima, cortada a todo instante por automóveis, tal estrada já não se presta para excursões costumeiras das famílias paulistanas à represa da vizinha cidade. A Prefeitura de Santo Amaro não tem verba para o concerto (sic) dos numerosos buracos ali abertos pelas chuvas. Aliás, isso não admira, porquanto, embora próximo da capital, Santo Amaro mais parece uma villa do sertão, tal o estado de suas ruas. A parte próxima ao Brooklin Paulista, bem mais bonita que a sede do município, então, é uma lástima. Os autos encaixam ali até os eixos, padecendo os conductores toda sorte de contratempos para arrancar da lama os carros" (Folha da Manhã, 5/5/1926).

Realmente, o trânsito devia ser pesado por ali. Nada como é hoje, entupida por congestionamentos de dia e de noite e de ônibus que formam filas intermináveis numa avenida certamente mais larga do que era a estrada, mas a quantidade de acidentes reportados nos jornais nessa época era grande, praticamente um por mês, envolvendo caminhões, ônibus, automóveis e carroças. Como a quantidade de ruas que a cruzavam era muito menor e as construções eram raras - a avenida passava no meio de matagais e de campos com uma edificação ou outra - o local desses acidentes geralmente não era reportado, pois não havia muitas referências a dar, como numeração de casas, etc. Citava-se eventualmente o Brooklin, o córrego da Traição e a rua França Pinto (que tinha esse nome desde a rua Domingos de Moraes até sua chegada na estrada, chegada hoje que tem o nome de Afonso Braz no elegante bairro de Vila Nova Conceição - note nos mapas de hoje as ruas com nomes diferentes que formaram um dia a França Pinto, como IV Centenário e a própria Afonso Braz.

Uma das citações em 1926 fala de um curtume - São Luiz - na estrada, próximo à rua França Pinto. Teria esse curtume dado o nome ao atual Hospital São Luiz, também ali próximo hoje em dia? Uma propaganda de 1928 fala do "médico dos Fords", de G. Lazzaro, uma oficina automotiva que ficava em algum ponto da estrada... não citava o número nem a proximidade de qualquer rua, o que mostra que não seria difícil localizar o prédio numa rua que quase não os tinha. Era também constantemente usada como pista em competições de bicicletas e de motocicletas... até de automóveis.

Vale ressaltar que essa estrada, nos anos 1910 ganhou uma concorrente: a atual avenida Ibirapuera, que tinha a linha de bondes do Tramway de Santo Amaro e que, partindo do lado do atual Instituto Biológico na Vila Mariana, encontrava a Adolfo Pinheiro na rua da Fraternidade, no Alto da Boa Vista. No final dos anos 1920, surgiu a Auto-Estrada de Santo Amaro, que seguia de onde hoje é o lago do Ibirapuera pela atual República do Líbano, depois pela Indianópolis, entrava pela hoje Moreira Guimarães e depois pela Washington Luiz até a ponte do Socorro. Esta era pavimentada com concreto. Cheguei a ver placas azuais de rua com o nome "Auto-Estrada Washington Luiz" nos anos 1970 ainda afixadas nas esquinas dessa avenida.

Fora isso, o arqui-antigo Caminho do Carro para Santo Amaro, que era nada mais do que a rua Vergueiro, depois Domingos de Moraes, entrando pela atual avenida Senador Casemiro da Rocha, cruzando o córrego Paraguai e entrando pelos meandros do planalto paulista para chegar à velha vila. Quantas histórias esquecidas...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

SÃO PAULO 1916


O mapa acima foi publicado no Almanach para 1916 do jornal O Estado de S. Paulo. Foi desenhado pela Prefeitura do Município de São Paulo em 1915.

Naquele tempo o município era dividido em zona urbana, da qual fazia parte a zona central, a zona suburbana e a zona rural. Notem os limites da cidade com relação à zona suburbana e reparem que tudo fora disso já era zona rural.

Nesse tempo o município ainda englobava a atual Osasco e não englobava o município de Santo Amaro, anexado em 1934. A divisa estava na região da Cidade Jardim, córrego da Traição (avenida dos Bandeirantes) e região do córrego do Cordeiro.

Meus agradecimentos ao Daniel por ter escaneado e me enviado o mapa.

segunda-feira, 22 de março de 2010

DO ALTO DESTA ESQUINA, 38 ANOS NOS SEPARAM

No centro da fotografia acima, em branco e preto, a foto que tirei há quase 38 anos. Na foto colorida, o mesmo local (rua Botucatu com Sena Madureira) na semana passada, em foto de Valéria Rodrigues (O Estado de S. Paulo, 21/3/2010).

Num sábado do mês de novembro de 1972, saímos eu e meu amigo Roberto de carro lá da casa do Sumaré, onde eu morava e minha mãe ainda mora, para fotografar alguns pontos de São Paulo escolhidos a esmo. A ideia era que anos depois essas fotografias pudessem servir de comparação para alguns locais na cidade. Eu tinha, então, 21 anos.

Eu não me lembro exatamente do porquê de ter fotografado a maioria dos lugares onde estive. O fato é que parávamos o carro e eu descia e tirava a fotografia. Já alguns lugares foram escolhidos por estarem em obras do metrô, como a rua Vergueiro e a Domingos de Moraes. Outros, por serem avenidas e viadutos novos, como pontos na avenida dos Bandeirantes, que tinha o nome recém-alterado do antigo, avenida da Traição, e no viaduto Antártica.

O ponto da rua Botucatu na esquina da rua Sena Madureira foi achado no caminho. Como não podíamos seguir pela rua Domingos de Moraes, que estava interrompida pela construção do metrô, descíamos e seguíamos por algumas ruas abaixo. Nesse dia, foi a Botucatu. Dali fomos para a rua Loefgren, de onde fotografei a avenida Domingos de Moraes no sentido do Arquidiocesano e da Igreja da Saúde. Era um buraco só.

Lembro-me que o Roberto não entendia por que eu estava fazendo tudo isso. Eu lhe disse exatamente o que citei acima: para efeito de comparação depois de alguns anos. Trinta e sete anos e meio se passaram. Ontem, num dia de março de 2010, a fotografia da rua Botucatu (acima) foi aproveitada pelo jornal O Estado de S. Paulo para uma das fotos publicadas na edição deste domingo 21.

As outras fotografias publicadas são do acervo do Douglas, que me indicou ao repórter Rodrigo. Na verdade, o Rodrigo já me conhecia, pois há alguns meses ele me entrevistou para uma reportagem sobre estações abandonadas que também foi publicada em um domingo. Um belo trabalho. Daria um livro. Um livro para se refletir sobre o que estamos fazendo com nossa cidade.

Pena que naquela época fotografia ainda era a papel. Ou seja, compra filme, tira a foto, revela, espera para ver se ficou boa ou se você perdeu tudo... hoje teria fotografado muito mais, claro. É mais fácil... Por outro lado, fotos demais banalizam os locais. A maioria das fotografias que tiro e que vejo hoje está no computador. Muitas nem têm o tamanho mínimo para uma boa impressão; por outro lado, eu imprimo pouquíssimas fotografias, porque, se imprimisse todas que tiro ou recebo, não há hoje local para guardar tudo. Se antes fotos eram não tão comuns de ser tomadas, hoje são em número grande demais.