sexta-feira, 11 de julho de 2014

PAI E FILHO

Sim, exatamente, o título é o mesmo daquela bela música de Cat Stevens - Father and Son, onde ele canta um diálogo entre um pai e um filho com uma letra muito bonita. É do início dos anos 1970. E embora eu tenha ouvido-o cantar essa música num show no Hall of Fame do Rock nos Estados Unidos há uns três dias atrás, o que relato abaixo foi de uma conversa entre eu e meu pai ocorrida em 1974. E que eu contei ontem para ua amiga, no meio de uma conversa.

O mais curioso é que a senhora que ouviu isso disse que isso também aconteceu com o marido dela e seu pai, em Portugal, bem antes de 1974.

Lembro-me muito bem de onde nós estávamos, no quarto de cima em nossa casa, onde ficava o escritório dele, as duas vezes à noite. Meu pai, Ernesto Giesbrecht, era um sujeito que não admitia desonestidade e falcatruas de forma alguma. Foi essa a educação que recebeu de seus pais e a que me repassou. E, nesse primeiro semestre de 1974, quando eu estava praticamente às vésperas do meu casamento, ele tinha 53 anos e eu, 22.

Nós nos dávamos muito bem. O que não era surpresa, pois era difícil encontrar alguém que não se encantasse com a simpatia dele. Nesse ano eu estava no sétimo semestre do curso de química da USP, e ele era meu professor. Eu me formaria no final desse ano.

Nessa noite ele me chamou ao escritório dele e me disse: ëu terminei a correção da prova. E precisamos conversar. Você tirou nove vírgula um, de longe a maior nota da classe. O segundo colocado tirou sete vírgula nove. E mais da metade da classe tirou abaixo de cinco". Eu perguntei qual era o problema . Ele me disse que não sabia o que fazer, pois os alunos iam pensar que ele me havia "cantado" a prova antes de ela acontecer. E ele não podia aceitar isso. Em outras palavras, ele estava me dando uma bronca por ter sido competente. Eu me lembro que eu estudei muito para essa prova.

Eu não era o primeiro aluno da classe, mas estava certamente entre os cinco melhores numa classe de mais ou menos 60 alunos. E não tinha visto a prova antes, não. Nem por acidente. No fim, claro, ele manteve a nota. Porém, bastante constrangido.

Eram duas provas. A média de aprovação era cinco. Ou seja, eu precisaria de zero vírgula nove para passar de semestre na segunda prova.

Na segunda prova, repetiu-se o cenário, no mesmo local, cerca de um a dois meses depois. Só que, agora, ele me disse que eu havia tirado um vírgula sete. Que isso era uma vergonha. Como eu, filho de um professor catedrático de química e nessa época diretor do Instituto de Química podia aceitar que seu próprio filho tirasse uma nota ridícula dessas?

Em outras palavras, levei bronca na primeira vez por tirar a nota mais alta da classe e depois por tirar uma nota baixíssima. Eu realmente não havia estudado nada. Eu havia ficado bastante chateado com a reação dele à minha primeira prova. E fiz praticamente de propósito. E com essa nota passei.

Rapidamente esquecemos o assunto e continuamos grandes amigos. Ele faleceu vinte e dois anos depois.


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