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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A FEBRE DOS VLTs

Protótipo do VLT de Macaé, RJ, sobre os trilhos da velha Leopoldina que hoje cruzam a cidade

Parece que o Brasil descobriu os VLTs - Veículos Leves sobre Trilhos. Quer dizer, descobriu com estes nomes: antigamente eram chamados de bondes, nome este que conhecemos bem, embora a maioria das pessoas vivas hoje jamais o tenham visto funcionando.

Bom, como "bonde" é um veículo ultrapassado (quer dizer, tão ultrapassado que a maioria dos países do primeiro mundo, principalmente os europeus, ainda os mantém). o brasileiro agora o chama de VLTs - ou VE-ELE-TEs. Eles surgiram com esse nome há mais ns quarenta anos, quando todos os bondes comerciais do país já haviam sido exterminados, e logo uma linha foi implantada no Rio de Janeiro, sobre o leito da antiga E. F. Rio D'Ouro.

Por algum motivo, durou muito pouco e foi abandonado. Em seguida, veio o de Campinas, em 1991: durou quatro anos e, como andava quase vazio, por absoluta falta de gerenciamento, foi abandonado também. Seus restos estão hoje no meio do mato. Absurdo, mas real.

Nos últimos anos, algumas cidades, boa parte do Nordeste, tiveram uma ideia genial e tardia: por que não usar os trilhos que estavam enferrujando em algumas cidades, ou mesmo subutilizados, para se colocar rodando sobre eles um veeletezinho? Afinal, elétricos ou a diesel (nenhum é elétrico, pois dá muito trabalho e dispêndio de dinheiro construir a fiação aérea ou mesmo a tração elétroca nos trilhos, como, por exemplo, a maior parte da linhas do metrô paulistano), eles são leves e dão menos manutenção. E ajudam no transporte do povo: seu gasto de combustível é bem menor por isso.

Primeiro veio a linha Crato a Joazeiro, no CE, única que já funciona comercialmente; depois, Sobral, CE; Arapiraca, AL; Recife, PE; Maceió, AL; Fortaleza, CE; Cuiabá, MT; Santos, SP; Rio de Janeiro, RJ; Macaé, RJ; Betim, MG; Foz do Iguaçu, PR; São Paulo, SP. Em nenhum deles ele já funciona (Maceió está em testes) e em algumas está na boca para isso (Sobral e Macaé, embora nestas duas o seu início de operações já tenha sido adiado por pelo menos uma vez). Em outras, está somente no falatório. E deve haver mais cidades, dos quais me esqueci ou não tenho conhecimento.

Se todos vão sair, ou se nenhum (eu não me surpreenderia, afinal, estamos no Brasil), não sei. Torço para que dêem certo. Há um fabricante brasileiro em Barbalha, CE, que já recebeu encomendas para diversas cidades. Outros fabricantes estrangeiros concorrem em Santos. É também evidente que um VLT não precisa rodar somente sobre trilhos não mais usados, mas também em trilhos novos. Foz do Iguaçu e Cuiabá, por exemplo, jamais tiveram ferrovias.

O que me incomoda é que o Ministério Público já está fazendo das suas, tentando decidir ele mesmo o que é melhor para uma cidade e sugerindo que BRTs (ônibus em canaletas) são mais baratos, etc. Bom, confiemos ou não em nossos governantes, teoricamente são estes que devem decidir, não algum advogado palpiteiro do MP. Em Cuiabá, já conseguiram suspender as obras de implantação.

Deus salve o Brasil.

sábado, 21 de abril de 2012

O QUE OS OLHOS VÊEM NEM SEMPRE FAZEM O CORAÇÃO SENTIR


Existe um grupo na Internet (existem vários, este é um deles) que se preocupa com a história no Estado do Rio de Janeiro. Recebo mensagens deles e, embora não conheça muitos desses locais, são, sem dúvida, todos sobre os quais leio dignos de preservação pelo contexto e importância histórica que possuem.

Você conhece Nova Iguaçu? Pelo menos de nome, tenho certeza que sim. Pois é, ela se chama "nova" porque existiu uma "velha" Iguaçu - aliás, ainda existe. A "nova" se chamava Maxambomba e se desenvolveu a partir de meados do século XIX, quando a E. F. D. Pedro II (depois Central do Brasil) estabeleceu ali, então parte do município de Iguaçu, em 1858, uma estação ferroviária, grande novidade na época. Por causa disto, a cidade começou a crescer e, ajudada por um surto de cólera em Iguaçu "velha", teve para ela transferida a sede do município.

Maxambomba virou a Nova Iguaçu e Iguaçu ficou às moscas. Embora a E. F. Rio d'Ouro tenha construído ali uma estação em 1886, o estrago já estava feito. A cidade foi pouco a pouco sendo abandonada e as ruínas substituíram a velha cidade. Porém, é como sempre digo: construções antigas são muito bonitas, e continuam bonitas mesmo em ruínas. E, talvez por isso, muita gente concorda comigo e tenta preservá-las. Não estão, infelizmente, tendo grande sucesso, como se pode ver pela carta de um lutador, o Clarindo, enviada para a Diretora Geral do INEPAC, que equivale ao CONDEPHAAT em São Paulo:

"Servimo-nos da presente para comunicar V. S. a respeito de alguns fatos que estão ocorrendo no sítio histórico denominado “Iguaçu Velha” (antiga Vila de Iguassu), tombado pelo Estado. Recentemente, um pesquisador do nosso grupo esteve em visita ao local mencionado e presenciou a movimentação de uma retro-escavadeira trabalhando junto à torre sineira da antiga Igreja de N. S. da Piedade de Iguassu. Ao que parece, o proprietário (invasor) de um pequeno “sítio” estaria ampliando sua propriedade para bem perto da referida torre sineira. É importante lembrar que esse mesmo proprietário (invasor) se instalou por ali há algum tempo e já havia ampliado os limites de suas terras, o que já é considerado ato ilegal, uma vez que aquele sítio histórico é tombado e, moralmente, o seu verdadeiro proprietário deveria ser a Cúria Diocesana de Nova Iguaçu ou o Poder Público Municipal. Assim sendo, muito respeitosamente, solicitamos os préstimos desse conceituado instituto no sentido de vistoriar o sítio histórico de Iguaçu Velha (antiga Vila de Iguassu) e interceder junto à Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu para que tome as providências cabíveis ante à ameaça de por em risco a integridade física de tão importante bem cultural iguaçuano."

O fato citado por Clarindo é um apenas dos que acontecem em um local como Iguaçu. Outro frequentador e filho de ex-morador cita:

"Estive em Iguaçu Velho em 09/2010, visitando a fazenda e o túmulo de papai, no cemitério dos escravos, e o estado de tudo aquilo me deixou muito abalado. A gente que conheceu aquela área no passado, sofre com o abandono e a depredação de tão rico acervo histórico. Meu coração se constrange diante desse descaso, e até agradeço (por absurdo que possa parecer) que o velho Waldick não esteja mais vivo para sofrer, vendo que aquilo por que tanto lutou encontra-se nesse estado."

Embora este tipo de fato seja corriqueiro em nosso País, ele não deixa de ser grave e ameaçador. Os órgãos oficiais de preservação não tomam conhecimento nem se preocupam da forma que deviam em manter todos esses bens de forma adequada. Iguaçu velha é somente uma entre muitas cidades e vilas abandonadas sem que devessem sê-lo.

Infelizmente, é sabido que a maioria da população brasileira pouco se importa (e, dentro desse universo, existe gente que prefere que tudo isso vire pó, pois não passariam de "velharias inúteis") e em alguns casos ainda faz questão de desturie o que pode, com pichações, movimentos de terras, depredações, etc. Alguns alegam até que "não conheci o local antes, por que vou me importar com ele"?

É, realmente, nenhum de nós estávamos vivos quando Iguaçu era sede de município, ou quando Cabral descobriu o Brasil, ou quando São Vicente foi fundada por Martim Afonso de Souza, ou quando Mauá inaugurou a primeira ferrovia do Brasil com o Imperador Pedro II ao seu lado. Não devemos, então, conservar nada? Não devemos ter memória? E o INEPAC, não deveria fazer o que dele se espera?

O INEPAC não deve ter todos os recursos que desejaria e também, provavelmente, está, como outros órgãos governamentais estaduais, municipais e federais, cheio de gente não preparada para o serviço. Esses que não estão prejudicam demais os que estão, e por aí vai, fora o fato de estarem subordinados a mudanças políticas de última hora. Afinal, todos sabemos, cultura no Brasil é prioridade Z. Nem A, nem B. É Z, mesmo.

Outro fato é que vilas desse tipo, expostas a céu aberto e às intempéries, necessitariam de conservação constante. Isoladas dos núcleos urbanos, como as estações ferroviárias no meio do nada que tantas existem pelo Brasil, não têm pessoas próximas a elas para delas cuidarem. Isto é um problema, mesmo. Se as comunidades que moram próximas não se importam, quem se importará? Quem vive longe vive por inúmeros motivos. Talvez até quisessem estar por ali sempre para tomar conta. Se não o fazem, é porque ninguém é mágico. Tudo custa dinheiro. Milionários não vão doar parte de sua renda para salvar algo com que, ao contrário de países europeus, ninguém vai se importar. Triste.