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sábado, 29 de abril de 2017

ESTAÇÃO CARLOS DE CAMPOS, EX-GUAIAÚNA

Retirada das plataformas em 21 de abril.Foto Luis Fernando da Silva
Hoje recebi fotografias da erradicação das plataformas que ainda existiam no lugar de onde foi a estação ferroviária de Carlos de Campos, junto à estação Penha do Metrô paulistano.

Retroescavadeiras retiraram o que ali existia, entre os trilhos, desde os anos 1960, quando a estação fora reconstruída, para o uso dos trens de subúrbios da então Central do Brasil.

Em 2000, a estação foi fechada, junto com algumas outras do que hoje é a linha 11 da CPTM. A estação foi demolida logo depois, mas as plataformas continuaram por ali. Parece que estão agora sendo retiradas para facilitar a obra de um realinhamento da via.

Haveria nesta retirada algum prejuízo à memória ferroviária paulistana? Não, em absoluto. Na verdade, o erro fora cometido quando da derrubada da antiga estação, que teria se dado em meados da década de 1960.

O que foi abaixo há 50 anos foi, na verdade, um pequeno prédio, arquitetonicamente bonito, da estação que, aberta em 1894, chamava-se Guaiaúna (caranguejo negro, na língua guarani).

O prédio ficava exatamente na bifurcação das linhas que seguiam para o Rio de Janeiro e a que seguia para a estação da Penha; por esta última trafegavam os subúrbios da época, da estação do Norte (Roosevelt) até a rua Coronel Rodovalho. O ramal não mais existe.
Guaiauna em julho de 1924. Revista da Semana.

Em julho de 1924, a vida da pacata Guaiaúna mudou: ela passou a abrigar a sede do governo do Estado, usada pelo Presidente Carlos de Campos (na época, os governadores estaduais tinham esse nome) para, de lá, comandar as ações contra os revolucionários e bandidos que haviam invadido a cidade de São Paulo no dia 5 de julho. Com ordens do Presidente da República, Artur Bernardes, dali Campos ordenou o contínuo bombardeio contra a região central da cidade, para expulsar os invasores. Certo ou errado, o procedimento garantiu a fuga, no dia 26, dos bagunceiros.
A estação já com o nome de Carlos de Campos no dístico - provavelmente nos anos 1940. Acervo Maria da Penha Marinovic Doro

O julgamento de quem ordenou o impiedoso bombardeio contra seu próprio povo deve serfeito pela história. Porém, naquela época, ações deste tipo não eram consideradas como hediondas, já que a prioridade era sempre expulsar os inimigos. Campos morreria três anos mais tarde. A estação foi oficialmente renomeada em 1933 com o nome do defunto.
Plataformas da estação em 2011 (Foto Carlos Roberto de Almeida)

Sua demolição não mereceu nenhuma notícia nos jornais paulistanos, Se existiu alguma, eu nunca consegui achá-la. Mas que foi um erro a derrubada do prédio, foi mesmo. 50 anos mais tarde, ou seja hoje, retirar as plataformas, tanto faz.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

FUGINDO DO CAOS

França - Primeira Guerra Mundial

Hoje soube, pelo radio do meu carro, que o músico John Barry morreu de enfarte com 77 anos. Pasmem os senhores, eu jamais havia ouvido falar dele. Muito menos sabia por que ele era famoso. O próprio rádio esclareceu: ele compôs onze trilhas sonoras para os filmes de 007, desde o segundo. No primeiro, ele havia feito apenas arranjos.

O que me chamou a atenção foi o que disseram a mais sobre ele: que, a cerca de dez anos, ele havia contado suas memórias sobre o bombardeio nazista sobre a Inglaterra em 1942, mais especificamente (ainda segundo a reportagem) sobre a cidade de York, onde nasceu.

Portanto, vai-se mais uma pessoa que assistiu aos horrores de uma guerra já lendária. Cada vez é menor, por motivos óbvios, o número de pessoas que presenciaram a guerra (e outras da primeira metade do século XX) in loco. Depois dessa guerra, já na segunda metade do último século, os combates passaram para o segundo, ou terceiro mundo, sei lá: Coréia, diversas na África, Vietnam e arredores, depois no quintal da Europa: os Balcãs... enfim, no primeiro mundo, elas praticamente acabaram. Estou falando de guerras convencionais, claro.

A sensação de estar sob um bombardeio deve ser terrível. Ou no meio de tropas que, mesmo sem aviões lá em cima, invadem a sua cidade para destruir tudo atrás dos supostos inimigos. Que, no caso, é você, assistindo da primeira fileira mesmo sem querer.

Quantas pessoas no Brasil já viram um bombardeio aéreo, já estiveram sob ele? Claro, os pracinhas que lutaram na Itália, mas, e em território verde-amarelo? Poucos. E quase todos estão hoje mortos. Os paulistanos em julho de 1924 sofreram o mais longo bombardeio aéreo na história do Brasil. E era fogo amigo, do governo estadual e de tropas federais que os ajudavam, tentando expulsar os revolucionários de dentro da capital do Estado.

Houve bombardeios sobre Campinas durante a revolução de 1932. Quantas pessoas ainda vivas podem falar sobre esses horrores hoje em dia? Haverá alguma ainda viva? Antes disso, bombardeios vindos de canhões terrestres e do mar causaram danos ao Rio de Janeiro, Manaus, Florianópolis, a própria São Paulo em 1924... sempre lembrando que houve aviões voando sobre o Contestado na guerra civil no Paraná e em Santa Catarina em 1915.

São lembranças e experiências terríveis, sem dúvida. Muito diferentes das memórias de minha mãe sobre as provações causadas pela Revolução de 1932 a São Paulo e pela Segunda Guerra ao Brasil: racionamento de alimentos, de gasolina...

Devemos aproveitar ao máximo o que os mais velhos nos contam, para que tentemos evitar que essas catástrofes se repitam, aqui ou em qualquer parte do mundo. E elas continuam acontecendo.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

SÃO PAULO BOMBARDEADA (E NÃO É 1924!)


A cidade de São Paulo viveu sob o bombardeio do "fogo amigo" em julho de 1924. Quem bombardeou não foram os revoltosos que a invadiram, mas sim as forças do Governo da República, que com isso pretendiam expulsar os rebeldes que tomaram conta de boa parte da cidade. Conseguiram. Em 28 de julho, todos pegaram o trem da Paulista na Luz e caíram fora. As consequências dessa fuga até hoje repercutem no Brasil.

Porém, as casas e fábricas destruídas em 1924 foram somente o começo. As fotografias da destruição de 1924 mostravam sempre ruínas com pessoas em volta olhando o estrago. Hoje, a cidade vive um bombardeio silencioso e as pessoas nem param mais para olhar.

Em poucas semanas, foram-se casarões na avenida Brigadeiro Luiz Antonio - pelo menos dois. Foram-se duas casas vizinhas na rua Carlos Sampaio. Foi-se uma casa na esquina da alameda Maracatins com a rua dos Chanés, a um quarteirão da avenida dos Bandeirantes. Olho para o céu e não vejo aeroplanos, não vejo obuzes nem bombas V-2. Também não há tropas da União em volta da cidade. Quem são esses destruidores de casas, tão ou mais rápidos do que o exército de Artur Bernardes?

Na verdade, esses agentes do mal estão bombardeando a cidade já há muito tempo. Em 1924 eles já existiam, mas ainda eram lentos. Com o tempo e a verdadeira admiração dos vilões (não, não pense nos vilões da DC ou da Marvel, pense nos vilões origens da plavra: os habitantes das vilas que enchiam o saco do nobre que era dono dela) pelos edifícios de apartamentos com nomes ingleses, franceses ou italianos, eles se tornaram mestres no assunto.

Eles nem precisam de aviões, obuses ou bombas V-2. Bastam guindastes, pás, picaretas e, de vez em quando, uma implosãozinha. Silenciosos e sorrateiros, eles vão derrubando o que encontram pela frente. Treinaram em Higienópolis, depois na Paulista, nos Jardins (na verdade, a velha Vila America, que nem esse nome tem mais), Moema, Itaim e dezenas de outros bairros, transformando a cidade numa selva de pedra (alô, Francisco Cuoco e Regina Duarte!).

Hoje, fotografei a casa da alameda dos Maracatins, da qual falei acima. A foto está no topo desta postagem. Também estive em três prédios em Moema, em andares altos. De lá, quase não dá para se ver os leitos das ruas estreitas do bairro. O que se vê são prédios e um ou outro telhado de telhas de barro, além das horríveis coberturas de zinco ou de cimento-amianto. De um deles, vi uma construção muito bonita que, por enquanto escapa da destruição: o prédio da Cruz Vermelha na avenida Moreira Guimarães com seu imenso jardim, cada vez mais cercado pela barreira de pedra 'a sua volta.

Córregos com o Uberaba e o Paraguai, que foram canalizados embaixo de prédios, também desapareceram há muito. As casinhas cada vez são em menor número e raramente abrigam moradores, mas apenas pequenas lojas e restaurantes. Na avenida dos Eucaliptos, uma fileira de casas - aliás, muito bonitas - estão cercadas por um muro com o símbolo do metrô. Vão para o chão. O metrô também é um dos bombardeadores da cidade.