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sábado, 11 de novembro de 2017

CURIOSIDADES SOBRE A VELHA SÃO PAULO


Mapa publicado no jornal em 17/11/1924 (O Estado de S. Paulo)

Eis que me aparece num jornal de 1924 um mapa para venda de terrenos no quarteirão (dois quarteirões, na realidade) formado entre as ruas Pamplona, Lorena, Campinas e Oscar Freire. Epa? Oscar Freire? Ora, para quem conhece os Jardins de hoje vai achar que existe algum erro aí. Afinal, a rua Oscar Freire, que hoje começa na alameda Casa Branca (portanto, duas quadras além da rua Pamplona) e segue até a avenida Doutor Arnaldo, lá no Sumaré, não podia passar ali naquele ponto mostrado pelo mapa.

Conferindo num mapa da cidade publicado no mesmo ano do mapa pequeno (1924) e que infelizmente não pude reproduzir nesta postagem, a rua que passa ali seria a rua São José. Neste mesmo mapa, a rua São José começa na avenida Brigadeiro Luiz Antonio e termina na avenida Doutor Arnaldo, no Sumaré. Ah! Mas então essa é a rua Oscar Freire da época! Realmente: em mapas anteriores, a rua São José aparece no lugar da rua Oscar Freire. Porém, não em todo esse trecho que o mapa maior de 1924 mostra, mas sim no trecho Rebouças-Doutor Arnaldo (que, aliás, ainda se chamava avenida Municipal).


Mapa da Sara Brasil, de 1930 - não há passagem para a Oscar Freire entre a rua Salvador Pires (atual Nove de Julho) e a rua Pamplona.


(Para mostrar como era (e ainda é) confuso olhar mapas antigos, a avenida Municipal, realmente, ocupava o local da atual Doutor Arnaldo somente entre a rua da Consolação e a rua Cardoso de Almeida. Além desta, já se chamava estrada do Araçá, que depois virou Heitor Penteado, mas somente a partir exatamente do entroncamento da atual Oscar Freire. Entre a Cardoso de Almeida e a Oscar Freire, então, a rua atual também se chama Doutor Arnaldo...)

Voltando à Oscar Freire, até essa época (ainda 1924), já havia mapas, mesmo anteriores a esse ano, que nominavam a rua, entre a Rebouças e a atual Nove de Julho, como alameda Iguape. Vejam que o mapa pequeno para vender lotes, no entanto, não chamava a rua paralela à Lorena nem de São José, nem de alameda Iguape, mas de Oscar Freire... e, hoje, mais de noventa anos depois, aquele trecho de rua se chama rua Guarará!

O que houve, afinal, foi que, em algum momento, a rua São José, ou a alameda Iguape, ou a rua Oscar Freire, foi renomeada, entre a rua Pamplona e a avenida Brigadeiro Luiz Antonio, de rua Guarará - que é o nome que tem hoje.


Google Maps, 2017 - Situação atual das ruas Oscar Freire, Cravinhos e Guarará.


Sobram ainda dois pequenos trechos que não existem hoje. Um é o trecho da Oscar Freire, ou São José, ou Iguape, entre a Nove de Julho atual e a Pamplona, que desapareceu... e outro, entre a Casa Branca e a Nove de Julho, que virou rua Cravinhos... que, aliás, é totalmente desalinhada com a Oscar Freire e com a Guarará de hoje.

É por isso que, para interpretar a história de São Paulo, há que se conhecer mapas velhos e também reconhecer que esses mapas não representam a realidade da época - trechos e nomes de ruas ali colocados podem ou não ser a verdade da época...

Entre diversas perguntas, finalmente, existe a primeira que me vem à cabeça: qual seria o nome real da rua Oscar Freire, entre a Pamplona e a Campinas, em 1924? Rua São José? Alameda Iguape? Rua Oscar Freire? ou já seria rua Guarará? A segunda pergunta era: era possível, fisicamente, cruzar o brejo da rua Salvador Pires (atual Nove de Julho, entre o atual túnel e a rua Estados Unidos)? Ou nem caminho de terra barrenta existiria ali nesse tempo? E uma terceira: por que a atual rua Cravinhos está tão deslocada em relação aos mapas antigos, em relação às ruas Oscar Freire e, mais à frente, da rua Guarará de hoje?

Finalmente: a rua "nro. 2" de 1924 e a rua Igarahy de 1930 é a atual rua Haiti.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

1924: LOTEANDO GUARULHOS - VILA SÃO RAFAEL



O mapa publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 1924 mostra o loteamento com a posição norte apontando para o leste...


Dos diversos loteamentos que foram criados no ano de 1924 na área que atualmente é a Grande São Paulo, houve um que foi implantado em Guarulhos, na divisa do município de São Paulo e encostado nos campos que, naquele tempo, haviam sido utilizados pelo aviador Edu Chaves: era a Villa São Raphael.

Para facilitar a comparação com os mapas atuais, aqui o mapa de 1924 aparece com o norte correto

Em tempos em que não existiam leis de zoneamento, em Guarulhos os loteamentos que iam aparecendo na sua maioria seguiam a linha do Tramway da Cantareira e podiam ter seus lotes preenchidos por residências ou indústrias, a não ser que os contratos de compra e venda especificassem que deveria ser de uma forma ou de outra. Não parece ter sido o caso da Villa São Rafael, que, aliás, não estava tão próxima assim da ferrovia, embora citasse no anúncio o bairro da Villa Augusta, que tinha uma estação do tramway.



Aqui dá para ver o loteamento com suas ruas no dia de hoje. Note-se que algumas ruas também trocaram de nome, outras mantiveram os nomes originais. Outras desapareceram e uma ou outra foi criada no loteamento posteriormente à data de venda. (Google Maps)


Uma das divisas do loteamento era o Córrego do Cabuçu, ou Cabuçu de Baixo, que já era a divisa entre os municípios de São Paulo e de Guarulhos. Cerca de 30-40 anos depois, a construção da Rodovia Fernão Dias acompanhou, naquele ponto, o córrego. Por causa desta estrada, uma parte da Villa São Rafael, junto ao rio, parece ter sido sacrificada com desapropriações - basta comparar o mapa original do loteamento com o mapa de hoje.


No centro do loteamento, a mata mostra partes que continham lotes e que hoje continuam sendo parte da varzea do córrego que ali cruza - cujo nome não sei.

Pode-se verificar, comparando o mapa de 1924 com o de 2017, que diversas ruas acabaram por ser eliminadas, enquanto algumas foram criadas desde então. E, ainda por cima, um grande número de lotes parede não ter vingado - há um córrego, certamente afluente do Cabuçu, que continua ali, a céu aberto e com sua várzea ainda hoje parecendo uma pequena selva quando olhada de cima.

O Parque Edu Chaves, a oeste da Vila São Rafael de hoje, aparece do outro lado do rio e da rodovia como tendo ruas em forma de circunferência.

domingo, 22 de outubro de 2017

SÃO PAULO: 93 ANOS DEPOIS, A VARZEA DO CARMO


Anuncio do loteamento em 1924 (O Estado de S. Paulo).

Os quarteirões existentes entre o morro do Pátio do Colégio, a rua Barão de Duprat e a várzea do rio Tamanduateí, em frente de onde apareceu logo depois o Parque Dom Pedro II (hoje uma pálida amostra do que foi) foram loteadas em junho de 1924.

De local chic que era para ser, tornou-se hoje zona comercial com uma série de problemas.


Mapa do loteamento em 1924 (O Estado de S. Paulo).


Os mapas do loteamento Varzea do Carmo e o que o bairro é hoje são mostrados aqui. Algumas ruas e pedaços de ruas foram extintas em modificações posteriores. O Mercado ainda não existia, mas já aparecia como a ser construído e o Palácio das Indústrias, recentemente aberto, eram os chamativos para os potenciais compradores de lotes.


Mapa do loteamento em 1924, alguns dias após o anterior, mostrando lotes já vendidos (hachurados) entre a Avenida do Exterior e a rua 25 de Março (O Estado de S. Paulo).


Os quatro mapas têm o norte no sentido para a esquerda deles.


A região em 2017 (Google Maps)

Bem próximo dali, também se instalou, bem mais tarde, um enorme terminal de ônibus e uma estação de metrô.

Pouca gente mora por ali.

Algumas ruas mudaram de nome. O Aterrado do Carmo tornou-se parte da avenida Rangel Pestana, então sua continuação. A rua Americo Brasiliense (canto esquerdo superior do mapa) tornou-se a rua Professor Euripedes Simões de Paula. A rua Ytobi virou rua Cavalheiro Basilio Jafet. A rua Pagé tornou-se a rua Comendador Afonso Kherlakian. A rua Anhangabahu virou rua Carlos de Souza Nazaré (e a parte inicial dela, entre a São João e a curva para passar debaixo do viaduto da rua Florencio de Abreu, virou avenida da Luz e depois Prestes Maia).

(Este artigo foi atualizado em 1/11/2017)

sábado, 29 de abril de 2017

ESTAÇÃO CARLOS DE CAMPOS, EX-GUAIAÚNA

Retirada das plataformas em 21 de abril.Foto Luis Fernando da Silva
Hoje recebi fotografias da erradicação das plataformas que ainda existiam no lugar de onde foi a estação ferroviária de Carlos de Campos, junto à estação Penha do Metrô paulistano.

Retroescavadeiras retiraram o que ali existia, entre os trilhos, desde os anos 1960, quando a estação fora reconstruída, para o uso dos trens de subúrbios da então Central do Brasil.

Em 2000, a estação foi fechada, junto com algumas outras do que hoje é a linha 11 da CPTM. A estação foi demolida logo depois, mas as plataformas continuaram por ali. Parece que estão agora sendo retiradas para facilitar a obra de um realinhamento da via.

Haveria nesta retirada algum prejuízo à memória ferroviária paulistana? Não, em absoluto. Na verdade, o erro fora cometido quando da derrubada da antiga estação, que teria se dado em meados da década de 1960.

O que foi abaixo há 50 anos foi, na verdade, um pequeno prédio, arquitetonicamente bonito, da estação que, aberta em 1894, chamava-se Guaiaúna (caranguejo negro, na língua guarani).

O prédio ficava exatamente na bifurcação das linhas que seguiam para o Rio de Janeiro e a que seguia para a estação da Penha; por esta última trafegavam os subúrbios da época, da estação do Norte (Roosevelt) até a rua Coronel Rodovalho. O ramal não mais existe.
Guaiauna em julho de 1924. Revista da Semana.

Em julho de 1924, a vida da pacata Guaiaúna mudou: ela passou a abrigar a sede do governo do Estado, usada pelo Presidente Carlos de Campos (na época, os governadores estaduais tinham esse nome) para, de lá, comandar as ações contra os revolucionários e bandidos que haviam invadido a cidade de São Paulo no dia 5 de julho. Com ordens do Presidente da República, Artur Bernardes, dali Campos ordenou o contínuo bombardeio contra a região central da cidade, para expulsar os invasores. Certo ou errado, o procedimento garantiu a fuga, no dia 26, dos bagunceiros.
A estação já com o nome de Carlos de Campos no dístico - provavelmente nos anos 1940. Acervo Maria da Penha Marinovic Doro

O julgamento de quem ordenou o impiedoso bombardeio contra seu próprio povo deve serfeito pela história. Porém, naquela época, ações deste tipo não eram consideradas como hediondas, já que a prioridade era sempre expulsar os inimigos. Campos morreria três anos mais tarde. A estação foi oficialmente renomeada em 1933 com o nome do defunto.
Plataformas da estação em 2011 (Foto Carlos Roberto de Almeida)

Sua demolição não mereceu nenhuma notícia nos jornais paulistanos, Se existiu alguma, eu nunca consegui achá-la. Mas que foi um erro a derrubada do prédio, foi mesmo. 50 anos mais tarde, ou seja hoje, retirar as plataformas, tanto faz.