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sábado, 5 de dezembro de 2015

NOVOS E VELHOS NOMES DE RUAS NA CIDADE DE SÃO PAULO

Sara Brasil, Mapa de São Paulo (detalhe), 1930

O Brasil é provavelmente um dos países do mundo onde mais se mudam nomes de ruas.

Na verdade, jamais vi qualquer estatística sobre o assunto, mas, pelo que acompanho sobre o assunto, isso até poderia ser verdade. Os motivos alegados para tal na maioria das vezes são ridículos. Cada vez que se muda o nome de uma rua, perde-se um pouco da história da cidade e do país.

A capital paulista pode até ser a campeã mundial de mudanças de nomes de logradouros.

Seguem vários nomes de ruas que mudaram de nome durante a história da cidade (a mudança pode ser antiga ou recente). 

Rua de São Bento - já foi Moreira César (apenas entre 1897 e 1898)
Avenida Brigadeiro Luiz Antonio - já foi Estrada de Santo Amaro
Rua Desembargador Eliseu Guilherme (Vila Mariana) - já foi rua do Bispo
Avenida Doutor Arnaldo - já foi avenida Municipal e Estrada do Araçá
Rua Heitor Penteado - já foi Estrada do Araçá
Avenida Jabaquara - já foi Avenida Presidente Vargas (por um período entre 1940 e 1960)
Rua da Consolação - já foi Estrada de Pinheiros e Estrada de Sorocaba
Rua da Consolação (entre al. Santos e rua Estados Unidos) - já foi rua Pe. Donizetti Tavares de Lima 
       por um curto período nos anos 1960
Rua Oscar Freire - já foi alameda Iguape (entre Rebouças e Casa Branca) e rua São José (entre av. 
       Dr. Arnaldo e Rebouças)
Avenida Corifeu de Azevedo Marques - já foi Estrada de Itu
Avenida Heitor Antonio Eiras Garcia - já foi Estrada Velha de Cotia e Estrada Velha do DAE
Rua Butantan - já foi rua do Commercio
Avenida Prof. Francisco Morato - já foi Estrada de Itapecerica
Avenida Prestes Maia - já foi avenida da Luz
Rua Carlos de Souza Nazareth - já foi rua Anhangabaú
Avenida Paulista - já foi av. Carlos de Campos (entre 1927 e 1930)
Rua Estado de Israel - já foi rua do Tanque
Rua Diogo de Faria - já foi rua do Gado
Avenida Diógenes Ribeiro de Lima - já foi Estrada da Boiada
Rua Groenlândia - já foi Estrada da Boiada
Rua Virgilio de Carvalho Pinto (Pinheiros) - já foi rua Borba Gato
Rua Luiz Murat e rua Inacio Pereira da Rocha (ambas em Pinheiros) - já foram rua Galeno de
       Almeida
Avenida dos Bandeirantes - já foi Avenida da Traição
Avenida Pedro Bueno - já foi Avenida Jabaquara
Rua Gil Eanes (Campo Belo) - já foi rua Almirante Barroso e rua Adolf Hitler
Rua Irineu Marinho (Santo Amaro) - já foi rua da Liberdade
Avenida Vereador José Diniz - já foi avenida Conselheiro Rodrigues Alves
Rua Cardoso de Almeida - já foi rua Tabor
Avenida Nove de Julho - já foi rua Salvador Pires (entre alameda Itu e av. Brasil)
Avenida Nove de Julho - já foi rua Chile (entre rua Estados Unidos e rua Groenlândia)
Avenida Nove de Julho - já foi rua Russia (entre rua Marina Cintra e rua João Cachoeira)
Rua Marina Cintra - já foi rua Russia
Avenida Conselheiro Rodrigues Alves (Vila Mariana) - já foi rua Jabaquara
Avenida Quarto Centenário - já foi rua França Pinto (entre o Parque Ibirapuera e a rua Afonso
       Braz)
Avenida Washington Luiz - já foi Auto-Estrada de Santo Amaro
Rua Xavier de Toledo - já foi rua do Paredão
Rua Dom José de Barros - já foi rua Onze de Junho
Praça da República - já foi Largo da Palha e Largo dos Curros
Rua Sete de Abril - já foi rua da Palha
Rua Libero Badaró - já foi rua Nova de São José
Rua Julio Marcondes Salgado - já foi avenida São João
Avenida Rio Branco - já foi rua dos Bambus, rua Visconde do Rio Branco e rua Barão do Rio 
       Branco
Avenida General Olimpio da Silveira - já foi Estrada de Campinas e rua das Palmeiras
Rua Dona Balduína (Sumaré) - já foi rua Cametá
Avenida Angélica - já foi rua Itatiaia
Rua Sampaio Vidal (Jardim Paulistano) - já foi rua Doutor Rosa
Alameda Gabriel Monteiro da Silva - já foi rua Dona Hippolita
Avenida Santa Marina - já foi Estrada da Água Branca à Freguesia do Ó
Rua Leopoldo Couto Magalhães Jr. - já foi rua do Porto
Avenida Juscelino Kubitschek - já foi rua Eduardo de Souza Aranha

E, acreditem: há muitas e muitas outras ruas que tiveram seus nomes alterados na história da Cidade de São Paulo.

terça-feira, 19 de junho de 2012

POESIA PERDIDA

Placa ainda existente até uns seis anos atrás. Foto minha. O mourão branco ainda existe. A mata de araucárias virou um terreno baldio. O número 1809 era do terreno, não uma data.

Passei outro dia pela rua Vergueiro. Sempre me lembro de minha tia, que morava lá no 2024 - entre a pequena rua Tamoio e o Largo Ana Rosa e que teve a casa demolida em 1969 para o alargamento da rua e construção do buraco do metrô, num tempo sem tatuzões.

Lembro-me da casa onde eu fui dormir várias vezes, cujos quartos tremiam - eram no segundo andar e não havia laje, era tudo madeira - quando passavam os ônibus na rua estreita de paralelepípedos, em alta velocidade no sentido centro. A rua tinha mão única.

O alargamento da rua foi feito somente até onde hoje se inicia a avenida Noé de Azevedo, que não existia e foi cavada entre as casas por causa do buraco do metrô que se fez embaixo do seu atual leito. Ela une a Vergueiro e a Domingos de Moraes. Depois disso, a rua segue estreita como era no 2024 e como sempre foi.

Assim ia até a rua Conde de Irajá, alguns quarteirões mais à frente. A partir daí, era Estrada do Vergueiro. Até São Bernardo e depois. No início dos anos 1970 o nome da rua passou a ser rua Vergueiro para toda sua extensão - pelo menos dentro do município de São Paulo. Sumiu a poética Estrada do Vergueiro, como sumiram diversos nomes "estrada" no município. Os que ainda existem são poucos, como a Estrada do M´Boy Mirim, por exemplo.

Como a rua Itapaiuna, no Morumbi, ali onde hoje existe uma das duas sedes do Colégio Visconde de Porto Seguro e o enorme condomínio "chic" Villaggio Panamby. Essa rua se chamou até não tanto tempo assim, Estrada do Morumbi. Nada a ver com a atual avenida Morumbi. Ou talvez sim, pode ter sido um antigo curso, mas em tempos bastante remotos. Esta estrada começava junto à ponte da João Dias, na antiga Estrada de Itapecerica. Em mapas mais antigos encontra-se, para a mesma rua, o nome Estrada da Penhinha. Para quem conhece, havia também a Parada da Penhinha no trem da Sorocabana (hoje linha 9 da CPTM), do outro lado do rio.

Por que esses nomes tão cheios de poesia desapareceram do mapa? Para que o nome Itapaiuna? "Estrada" leva a histórias. Itapaiuna leva a que? Seja qual for o significado do nome indígena, se a rua tinha um nome, para que mudar? E - podem apostar - a rua um dia vai ter o nome de algum político, principalmente porque boa parte dela está sendo alargada.

Aliás, falaram-me um dia que os nomes "estrada" mudaram para "avenida" ou "rua" por causa da Prefeitura, que teria uma norma onde "avenida" pode cobrar mais IPTU do que "rua", que pode cobrar mais do que "estrada". Será, ou terá sido, verdade? Se não, por que trocar "estrada" para "rua" ou "avenida"?

Nomes tradicionais de estradas e bairros foram mudados para outros, muitos para "nomes de gente" que, geralmente, não merecem ter seus nomes nelas. Para que? Um dos nomes mais bonitos da velha São Paulo era a "estrada do Chora Menino". Lá em Santana. Hoje o nome é outro. Por que? O próprio bairro do Chora Menino não é mais chamado assim.

Por onde anda o largo do Piques (praça das Bandeiras), o largo do Zunega (largo do Paisandu), a rua da Palha (7 de Abril), a rua do Paredão (Xavier de Toledo), Estrada Velha de Santo Amaro (Avenida Santo Amaro e av. Adolfo Pinheiro), avenida da Traição (Bandeirantes)... e muitos afora.

Chora, menino! Perdeu-se a poesia de São Paulo!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

ANÚNCIO POLITICAMENTE INCORRETO... SE FOSSE HOJE


Se hoje já é difícil preservar um imóvel em São Paulo e no Brasil, imagine em 1957. A fotografia (muito ruinzinha, infelizmente) que vemos acima, publicada no jornal Folha da Manhã (atualmente Folha de S. Paulo) em 1957, estava acompanhada do escrito que completava o anúncio:

"O maior negócio do ano - Magnífico terreno para lojas e apartamentos - Na avenida General Olímpio da Silveira, esquina da rua Conselheiro Brotero, com 70 metros de frente para a avenida por 20 para a outra rua, até 50 metros, alargando-se para 70 metros de fundos. Área 3.000 metros quadrados, gradil de ferro, construções antigas. Avaliado por Cr$ 22.000.000,00 (vinte e dois milhões de cruzeiros), preço médio com alguma facilidade. Farta condução e todos os melhoramentos centrais. Aceita-se como parte do pagamento participação em futura construção, sendo a entrada mínima de Cr$ 8.000.000,00. Local privilegiando para construção de lojas e apartamentos de frente para a avenida. Negócio realmente valioso e de futuro, ao lado do cine Santa Cecília. Não se atende a intermediários. Tratar com os procuradores (...)".

Hoje em dia, jamais se publicaria um anúncio desses. A celeuma criada em torno de uma demolição de um palacete como esse acabaria com as ideias de venda pelo proprietário (quem terá sido?). O casarão teria de ser demolido às escuras e a venda seria feita nos bastidores.

Como se vê nesse caso de cinquenta e quatro anos atrás, os procuradores estavam vendendo era o terreno, pouco se importando com a casa, que chamam de "construção antiga". As cercas de ferro eram, claro, para venda como sucata. O belo casarão foi-se, não sei se tão rapidamente assim ou não. Não fui até o local verificar o que existe lá hoje (embora já tenha passado por ali em frente inúmeras vezes, todas as vezes de carro) in loco, mas olhei preguiçosamente pelo Google Maps.

Não se construiu edifício algum ali. O terreno parece ser (olhando de cima), uma oficina de automóveis, ou mesmo uma loja de veículos usados... não sei. Triste fim para um belo casarão, cujo terreno não serviu nem para um edifício razoável. Também, 12 anos depois dessa fotografia da Folha, à frente do terreno passaram o horrível Minhocão, que acabou de vez com qualquer valorização que ali pudesse haver.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A MEMÓRIA PAULISTANA

Bela fachada na esquina das ruas Guaicurus e Faustolo, na Vila Romana, situada à antiga estrada velha de Campinas (rua Guaicurus). Toda pichada, ainda é muito bonita e o imóvel segue sendo utilizado. Foto Ralph M. Giesbrecht em 3/7/2010

Algumas atualizações sobre o estado da memória paulistana hoje. Deu no jornal que uma chaminé industrial foi tombada na Mooca. Apenas uma chaminé para ser mantida no meio de um novo (e certamente desnecessário) condomínio de edifícios "de alto padrão" que será construído no local. Melhor que nada, dirão. Sim, essas chaminés geralmente são muito bonitas e imponentes, mas sozinha, cercada de prédios, representará o quê?

Por outro lado, na Lapa, um prédio que começou a ser construído de forma ilegal 15 anos atrás, tornando-se um esqueleto de concreto com cerca de dez andares de altura depois de "abortado", foi finalmente condenado à demolição. Bom para um bairro somente de casas e já tombado, teoricamente, desde seu loteamento, há 90 anos. É duro se fazer cumprir a lei neste País. Às vezes se consegue, mas com a geração de uma porção imensa de entulho.

Seria mais fácil se as pessoas se conscientizassem de algumas possibilidades de se manter construções antigas e representativas histórica e/ou arquitetonicamente, sem prejudicar os interesses econômico-financeiros: em construções com mais de 50 anos e que tenham sido feitas à beira da calçada (ou seja, sem recuos frontais), a demolição de suas fachadas seria proibida, fazendo com que se possibilite a demolição no restante do terreno, mas que fosse mantida a fachada como entrada.

Não é uma ideia nova nem original: alguns prédios recentes já se valeram deste artifício tanto na Capital como em cidades do interior. Falei já sobre isto na minha postagem do dia 28 de julho deste ano. Seria uma forma de se manter as poucas fachadas antigas que ainda restam na cidade sem atrapalhar ninguém.

Está mais do que na hora de pararmos para pensar. Se dá para equilibrar o fator dinheiro com o fator memória, por quê não?