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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

ONDE A HISTÓRIA DA LEOPOLDINA APODRECE

Mapa do município de Palma nos anos 1950. A estação de Banco Verde é um pontinho encostado na linha férrea ao norte da sede do município. (IBGE)

A linha do Manhuaçu, da Leopoldina, era uma linha férrea que partia da cidade de Recreio e chegava até a cidade de Manhuaçu, na região da serra do Caparaó e acompanhando sempre de perto a fronteira mineira com o Estado do Rio por cerca de 266 quilômetros.

A linha começou a ser construída no início dos anos 1880 pela E. F. do Muriaé e, em 1883, mesmo ano em que isso a empresa foi comprada pela Estrada de Ferro Leopoldina, já estava ligando em seu primeiro trecho as estações de Recreio e de Palma. Chegou a Carangola em 1887 e depois, apenas foi prolongada nos anos 1910, quando atingiu a cidade de Manhuaçu.

A região não se desenvolveu muito. Não demorou muito para que a Leopoldina sentisse o fraco rendimento do ramal, até que, nos anos 1970, começou a desativar trechos dos trens de passageiros e, inclusive, da própria linha. Em 1980, como até hoje, somente resta o curtíssimo trecho entre as estações de Recreio e de Cisneiros (pouco menos de vinte quilômetros de trilhos) que ainda existe para ligar a linha que vem de Campos, RJ, para Além Paraíba.

As estações da linha foram fechadas. Algumas, como a de Manhuaçu, foram demolidas. A maioria ficou de pé, mas pelo menos uma delas, a de Banco Verde, um vilarejo muito pequeno no município mineiro de Palma, construída em 1884, sobreviveu por algum tempo e recentemente virou ruína, com a queda de seu telhado e de algumas paredes, roubo de janelas, essas coisas.

Um ciclista da região (Alexandre, somente sei seu primeiro nome) resolveu pedalar pelo velho leito da Leopoldina próximo à estaçãozinha em ruínas. O vídeo deste "raid", cuja dica foi-me dada pelo Norman Schmidt Jr., está no http://www.youtube.com/watch?v=wgD12nDk5Bg. Pode-se ver que por ali, a história da Leopoldina apodrece sem dó.

O que se depreende do filmete é que o vilarejo de Banco Verde é pequeníssimo e pobre. Note-se que, da viagem filmada em oito minutos de pedalada, somente cruzam com o ciclista um caminhão das Casas Bahia e dois vira-latas.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

COELHO BASTOS, SEIS ANOS DEPOIS

A vila em 2005 (foto Cleber Agostini)

Alguém sabe onde fica Coelho Bastos? Não se preocupe, parece que pouca gente sabe. Na verdade, eu sei – mais ou menos. Fica, ou ficava, no Estado de Minas Gerais, perto da divisa com o Rio de Janeiro. Era uma estação ferroviária da lendária Leopoldina e estava situada exatamente entre duas estações que se tornaram sede de municípios: Eugenópolis e Antonio Prado de Minas, que, aliás, são cidades pequenas. Nunca estive lá. Até gostaria, mas o fator tempo é determinante – são cerca de 600 quilômetros daqui de São Paulo, por estradas ruins.

Era apenas uma das páginas de estações de meu site sobre o assunto, sem foto e sem quase nenhuma informação – apenas a data de inauguração, que constava num livro antigo. Mais nada. Eis que um belo dia uma estudante universitária de São Paulo me consultou para saber se eu tinha alguma notícia adicional sobre a vila de Coelho Bastos, pois, procurando pela Internet, ela somente havia achado uma referência: a da página do meu site. Ela me agradeceu muito, pois vinha procurando há muito tempo a sua localização, porque precisava de uma certidão antiga que teria de ser procurada nas cidades em volta, e agora ela sabia quais cidades ficavam ali próximas. Na verdade, eu nem consegui descobrir a qual dos dois municípios citados ela pertence.

Não muito tempo depois, também por causa do site, uma alemã, morando na Alemanha, também me enviou uma mensagem em português, dizendo-se descendente dos Coelho Bastos. Queria saber se eu teria maiores informações, e eu não tinha. Mas quem eram eles? Eram fazendeiros de café na região, quando ali havia muito café. É a região de uma cidade de nome curioso, Porciúncula, que, aliás, fica no Estado do Rio de Janeiro, também muito próxima a Coelho Bastos. Foi por isso que a estação ganhou esse nome – os donos das terras na época da construção, final do século 19, já eram eles. Portanto, subitamente, um interesse grande pela estação – e quase nenhuma informação para dar ou receber.

A linha da Leopoldina que cortava essas terras era chamada de Linha do Manhuaçu. Ligava a região da cidade chamada Leopoldina, que deu o nome à ferrovia, à cidade de Manhuaçu, em Minas, acompanhando sempre de perto a divisa estadual entre Minas e Rio e, depois de um certo ponto, a divisa de Minas com o Espírito Santo, até chegar à cidade de Manhuaçu. Tudo na chamada Zona da Mata mineira. Curiosamente, a construção da linha teve problemas, pois, perto de Coelho Bastos, o Estado do Rio tem uma reentrância no Estado de Minas – exatamente onde fica Porciúncula e por onde a linha teria de passar, entrando e saindo do território fluminense por alguns poucos quilômetros. Como havia na época outra ferrovia com a concessão ali no Rio, houve problemas de “zona privilegiada”. Quem resolveu a situação foi exatamente o Conselheiro Antonio Prado, na época, ministro da República. Por isso, ele foi homenageado com uma estação, citada acima.

Enfim, continuo sem saber muito, quase nada, sobre Coelho Bastos. Não sei nem se existe ainda ali alguma estação em pé – a linha foi desativada há quase trinta anos, trilhos arrancados, abandono, essas coisas. Nem sei se em volta se formou algum vilarejo, e se ele sobrevive ainda hoje. O que sei é que a estudante da qual falei não havia conseguido achar nada sobre a vila naquela região, hoje pobre, sem grandes perspectivas. Uma região em que, ao contrário do que vivem dizendo, a desativação da ferrovia trouxe problemas e não soluções. Afinal, enquanto ele existia, havia um trem direto dali ao Rio de Janeiro, facilitando a vida dos moradores. São histórias do nosso Brasil, de nossas ferrovias, de nossas vidas.

Seis anos depois de escrever as linhas acima, eu já sei que a estação não existe mais, o vilarejo pequeníssimo ainda está lá e vi Jô Soares desempenhar o papel de um Coelho Bastos no filme O Xangô de Baker Street...