quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

ENGANOS EM FOTOGRAFIAS NA INTERNET: UM PROBLEMA PARA A HISTÓRIA

Fotografia tomada no trajeto da antiga linha de bondes de Santo Amaro, em São Paulo (autor desconhecido).

Recentemente uma pessoa postou num grupo do Facebook uma fotografia a qual eu não conhecia.

Tratava-se de um bonde elétrico da Light. A mesma pessoa escreveu que a fotografia era de 1968 e que havia sido tirada na avenida Conselheiro Rodrigues Alves em 1968. Pode ser, realmente. O local não é tão fácil de ser identificado. A fotografia está no topo deste artigo.

Na verdade, eu não sei onde foi tirada: se tivesse de opinar, diria que o local da foto seria no cruzamento da atual avenida Vereador José Diniz com a rua dos Brasões, no Alto da Boa Vista (notem que na avenida, havia somente a linha do bonde e pouco espaço para tráfego local). O local citado por mim hoje é bastante diferente. Porém, pode ser outro local, até próximo do Parque Ibirapuera, onde a avenida por onde o bonde passava se chamava avenida Ibirapuera (e ainda se chama hoje) - se alguém quiser opinar, esteja à vontade.

Algumas pessoas disseram, então, que a fotografia teria sido tomada na avenida citada, mas junto do largo Ana Rosa. Esta era uma opção não válida. Motivo: a rua não era calçada. Os trilhos realmente passavam em trechos não calçados da avenida Ibirapuera e da Conselheiro Rodrigues Alves. Portanto, como o bonde era típico dos que passavam pelas duas avenidas no sentido de Santo Amaro, a foto teria sido tirada em algum lugar nessas vias.

Acontece que, até 1974, existiam duas avenidas Conselheiro Rodrigues Alves: uma na Vila Mariana (começa no largo Ana Rosa e termina na confluência das ruas Joaquim Távora, Tangará e avenida Ibirapuera) e outra em Santo Amaro (começa na confluência da avenida Adolfo Pinheiro e rua da Fraternidade e termina na avenida dos Bandeirantes). E a linha de Santo Amaro passava nas duas avenidas com o mesmo nome.

Anúncio publicado em 4/12/1974 mostrando que a avenida já havia trocado de nome (jornal O Estado de S. Paulo).
Em outubro de 1974, a avenida que ficava em Santo Amaro teve o nome alterado para o de Vereador José Diniz - nome utilizado até hoje.

Anúncio da morte do vereador, falecido em 5 de janeiro de 1973, quase dois anos antes da mudança de nomes em homenagem a ele (O Estado de S. Paulo, 21/1/1973).

Explica-se a confusão entre quem vê uma fotografia que cita o nome de avenidas com o mesmo nome: faz mais de quarenta anos que a avenida Conselheiro Rodrigues Alves de Santo Amaro mudou o nome. Somente quem conheceu esse fato vai se lembrar destes nomes iguais. Sem querer entrar em maiores detalhes, não é uma coincidência. Historicamente existe uma razão para que as duas avenidas por onde passava a antiga linha de Santo Amaro tivessem o mesmo nome.

Notícia da morte do vereador, falecido em 5 de janeiro de 1973, quase dois anos antes da mudança de nomes em homenagem a ele (O Estado de S. Paulo, 6/1/1973).

O que me preocupa é que informações erradas sejam disseminadas no Facebook e na Internet por causa de teimosia de certas pessoas que parecem não se preocupar em saber qual é a realidade não somente dessa foto em particular, mas em várias outras que são colocadas na rede.

15 comentários:

  1. Concordo plenamente com vc, o ideal quando postarmos alguma foto, texto, imagem, citar o autor, data, origem. Mas, exirgimos ou ignorarmos estas postagens, perderiamos muitas fontes e materiais de pesquisa. Como neste seu post, ficou excelente, tirou as duvidas, enriqueceu nossos conhecimentos, Parabéns.

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  2. Eu acredito que pelo aspecto da foto é o cruzamento da Atual Avenida Ibirapuera com a Avenida República do Líbano, à direita tem a cara do atual centro esportivo do Ibirapuera.

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    1. Acho dificil, pois ao meu ve na foto existem rampas que não existem nesse cruzamento

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    2. Acho dificil, pois ao meu ve na foto existem rampas que não existem nesse cruzamento

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    3. A placa VW serviços que existe na foto deve ser da "LEMAR" uma revendedora de automóveis que existia (ou ainda existe?) no local ou na cidade. Quem conhecer melhor as localizações da antiga LEMAR poderia ajudar a solucionar a questão!

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    4. A LEMAR ficava na avenida Jabaquara, mas eles tinham um consórcio VW e faziam propaganda até no rádio. Por isso a placa não indica a localização da linha. Na Jabaquara não pode ser porque aquela avenida já era bem urbanizada nessa época e os bondes corriam pelo canteiro central.

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  3. Acho que você acertou, Ralph. É a confluência da rua dos Brasões com a rua da Prata. A pista à direita, paralela à linha, já existia na época e ficava do outro lado do Clube Banespa (em relação à linha). Na foto de 1958 do Geoportal aparece aquele descampado à direita. Não pode ser o cruzamento com a República do Líbano/Indianópolis porque na época essas avenidas já tinham até o canteiro central que existe até hoje.
    O Vereador José Diniz era muito popular em Santo Amaro. Ele tinha uma farmácia na Alameda Santo Amaro e era conhecido como Zé da Farmácia. Ele foi vereador por uns 30 anos e foi reeleito pela última vez na eleição de 1972. No horário eleitoral do rádio ele sempre pedia aos eleitores que não escrevessem Zé da Farmácia que o voto seria anulado.

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  4. Sou santamarence e acredito que seja ou a Av Roque Petroni ou Av Roberto Marinho com Av Vereador José Diniz

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    1. Pedro, essas avenidas não existiam na época da foto, apenas existiam os córregos. Por isso, carros não cruzavam a linha nesses dois locais que v. citou. Porém, repare que a rua dos Brasões fica praticamente ao lado da atual avenida Roque Petroni. Abraços

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    2. Para atravessar o córrego das Águas Espraiadas (onde está a Roberto Marinho), a Light fez 2 cortes que existem até hoje. Alargados e concretados, mas são um dos poucos vestígios que sobraram da linha do bonde de Santo Amaro (exceto o ponto inicial na praça João Mendes, onde hoje funciona uma floricultura). Como na foto não aparecem os cortes, então só pode ser mesmo o córrego do Cordeiro, até porque o da Traição não tinha um vale tão profundo e também não tinha nenhum descampado. Além disso, os tubulões de concreto que aparecem na foto devem ser sobras da obra emergencial (que acabou sendo definitiva) que foi feita em 1966 quando a ponte foi arrastada em uma enchente.

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  5. ERREI. Entre a rua Joaquim Nabuco e o córrego do Cordeiro também há um corte. Menos profundo que os 2 que antecedem o córrego das Águas Espraiadas, mas há. Ele não apareceria na foto porque fica a mais ou menos 200 metros do local. O pior é que eu passo sempre por lá.
    2. Pesquisando nos acervos do Estadão e da Folha e no livro de Waldemar Corrêa Stiel, sobre a enchente de 06.03.1966, só encontrei referências à ponte que rodou perto da parada Frei Gaspar. Sobre o córrego do Cordeiro falavam apenas que destruiu o aterro. Dizia também que as águas destruíram a adutora do DAE, com 1 metro de diâmetro, que passava sobre os 2 córregos, e que seriam necessários 10 dias para consertar.
    Pesquisa nós temos de fazer antes de escrever. Confiar na memória dá nisso. Peço desculpas a todos.

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    1. Ok... mas v. não deu sua opinião claramente agora. V. acha que esse seria o cruzamento da Frei Gaspar? Eu havia pensado nele antes, devido à aparência da foto... mas não coloquei como opção.

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    2. De fato, eu me lembro claramente de um passeio que fizemos com meu pai por volta de abril de 1966. Pegamos o bonde no Alto da Boa Vista e fomos até o Brooklin, passando pelo córrego do Cordeiro. O bonde não pôde continuar pois a ponte sobre o córrego Águas Espraiadas ainda estava sendo reparada. Voltamos no mesmo bonde e fomos até o final da linha, no "balão" que havia perto da ponte do Socorro, ao lado da então Metal Leve. Voltamos dali até o Alto da Boa Vista, onde desembarcamos.

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  6. Em sua postagem de 23.08.14 aparece uma foto da Frei Gaspar que saiu em uma reportagem de Folha de 18.03.66. Nela não aparece nenhum descampado. Tenho certeza de que a foto é do aterro sobre o córrego do Cordeiro. O Corte não aparece porque ele fica mais adiante. Eu só fiz a correção porque eu disse que só havia 2 cortes. Na verdade há 3.

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  7. Meu palpite: cruzamento da "Bondstrasse" (como os do Brooklin e Santo Amaro chamavam a estrada do bonde com a Estrada da Traição (sob o córrego da Traição)

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