sábado, 25 de janeiro de 2014

CAOS EM SANTANA DE PARNAÍBA, SP

O centro velho da cidade em 2010 - Revista Vero
Para quem gosta dos artigos do meu blog, no qual esperava escrever um artigo por dia mas não tenho conseguido há um bom tempo, peço minhas desculpas.

Hoje, 25 de janeiro, não vou falar dos 460 anos de São Paulo. Afinal, já há bastante gente escrevendo sobre isso. Vou falar mesmo é da cidade na qual vivo há 32 anos, Santana de Parnaíba.

Ontem, no jornal Folha de Alphaville, jornal semanal e não lá essas coisas, apesar de ser o melhorzinho que há por aqui para falar da região, houve uma entrevista com o vereador Nequinho, que já está no cargo há trocentos anos e nunca fez grande coisa pela cidade.

De qualquer forma, ele está na berlinda, pois, graças à bagunça que a justiça eleitoral fez na cidade a partir das eleições para prefeito de 2012, ele está bem cotadp para ser o presidente da Câmara dos Vereadores, tão inútil quanto a maioria das outra no Brasil, e, se for mesmo eleito, ficará com o cargo de Prefeito, interino ou não, e sabe Deus se até o final do mandato 2013-2016.

Para quem não sabe, em 2012 o ex-prefeito Silvinho Pecioli, depois de 4 gestões seguidas e com um trabalho que em grande parte considero bom (há de se explicar que um dos mandatos, o 3o, foi através de um pau-mandado), perdeu as eleições, vítima de desgaste natural e de algumas supostas besteiras que andou fazendo. Seu adversário, Cezar, foi eleito e assumiu a Prefeitura. Porém, Silvio teria deixado o caixa vazio, o que deixou boa parte da população revoltada e causou problemas nos primeiros meses do novo prefeito, principalmente para pagar os funcionários.

Além disso, Silvio havia questionado a candidatura de Cezar, alegando fatos que o teriam feito cair no "ficha-suja". Como tudo neste país, por volta de junho de 2013, a justiça decidiu que Cézar deveria deixar a prefeitura, em última instância. Isto, um ano depois do pedido de Silvio. A pergunta óbvia é: ou o candidato é ficha-suja ou não é. Por que não se decidiu isto antes das eleições? Era tão difícil assim? Isto mostra a real bagunça e inviabilidade política deste país. Depois, ainda foram cerca de dois meses para que Cézar deixasse efetivamente a prefeitura, pois, apesar da decisão judicial, nossos laboriosos juízes não haviam decidido se haveria novas eleições ou se assumiria o Silvio, segundo mais votado. Em agosto, decidiram por novas eleições, mas não quando. Aí Cézar realmente saiu e assumiu o presidente da Câmara.

Elvis Cézar, que era o presidente da Câmara, era filho de Cézar. E havia sido cassado pela Câmara no ano anterior (2012) por algum motivo que não interessa aqui. No início da gestão da nova Câmara em 2013, ele foi "descassado" e virou até Presidente da Câmara. E, claro, candidatou-se mais tarde a sucessor do pai. Silvio continuava querendo de qualquer jeito a prefeitura e entrou com um pedido de "ficha-suja" para Elvis. E Elvis entrou com um pedido igual para Silvinho, alegando sei lá o que - e também não importa.

A eleição foi finalmente marcada para o dia 1o de dezembro. Recusei-me a votar. Nem apareci. Muita sujeira no balaio. Elvis venceu, deu um banho em Silvio, mas duas semanas depois ambos foram impugnados por serem "fichas-sujas" e Elvis, que ainda era prefeito interino como Presidente da Câmara, continuou a sê-lo, como o é até pelo menos a data de hoje. Pergunto novamente: qual o motivo de não se decidir se eram ou não eram antes das eleições? De novo: é tão difícil assim?

Na entrevista de Nequinho, provável próximo prefeito interino, se não houver novas eleições, ele lamenta tudo isso e diz que a cidade está abandonada. Está mesmo. Porém, está porque os prefeitos neste país, em sua grande maioria, visam somente o próprio ego. Querem mais ser prefeitos para passarem para a história (nem vou falar do resto) do que para administrar seriamente uma cidade.

Mesmo um prefeito interino tem de assumir seu cargo com propstas sérias, mesmo na dúvida se vai ficar ou não por mais tempo. Afinal, é o mínimo que se espera de um administrador. Porém, quantos prefeitos que já assumiram o cargo neste país tem um diploma de administração pública? Alguns chegam a ser sem-analfabetos. Quanto de experiência tem Elvis Cezar para administrar uma cidade, com a pouca idade que tem? Santana de Parnaíba não é mais aquela cidade decadente que era até os anos 1980 e que havia sido desde o século XVIII, sempre lembrando que a cidade tem mais de 400 anos de história. Nequinho vai ser diferente?

Aliás, jamais ouvi falar nada dele - e, sim, escuto e acompanho a política da cidade desde que me mudei para o município - que me incentivasse a votar nele. Experiência de vereador para mim não leva a nada, ainda mais quando se trata de um vereador comum, sempre mais preocupado com ele próprio do que com a cidade, como acontece com a maioria dos vereadores do país.

Santana de Parnaíba é apenas um exemplo da bagunça que este país está se tornando cada vez mais. E olhem - apesar de não ser petista, que considero uma praga enorme que assola o Brasil, nenhuma das pessoas citadas acima pertencem a este partido. O que mostra que não é somente o petralhismo o nosso grande problema.

Um comentário:

  1. Ralph, tenho uma filosofia sobre política: "Se você não participa, as coisas não acontecem do jeito que você quer".

    Já trabalhei para políticos e sei que há muitas coisas que rolam por baixo das notícias que o pessoal no final acaba até sendo omisso. E esse é o grande problema no Brasil: política no Brasil se vê da seguinte forma: "Eu voto em um representante e pago os impostos, e a única obrigação é deste representante trabalhar pelos meus interesses". "Terceirizamos" muitas de nossas ações para os governos. E o resultado é isso tudo o que acontece: gestões por interesse, grupos econômicos influenciando por baixo dos panos, desinteresse na história da cidade, falta de planejamento, etc... Isso usando de uma generalização burra.

    Não sei de casos no Brasil onde uma cidade tem uma participação mais ativa da população e com isso a mesma tem uma qualidade de vida melhor, sem grandes conflitos de interesse e com o governo fazendo o que tem que ser feito, ou seja, organizando e planejando o espaço público. Imagino que tenha governos assim, e tenho minhas suposições que existem mais em cidades ao Sul do Brasil.

    Quanto maior a população de uma cidade, e quanto mais flutuante ou nova esta população é, mais "deshumana" e mais "confusa" a cidade fica. Posso estar errado, talvez seus antigos parentes e até você possa explicar melhor, mas basta notar que cidades com residentes mais tradicionais já são estabelecidas e tem um nível razoável ou até bom de conforto e segurança. Cidades dormitório (boa parte da Grande São Paulo), ou com forte migração (como cidades onde há alguma grande obra - as regiões próximas ao Belo Monte por exemplo, noticiadas em uma série de reportagens do G1), o caos acaba se instaurando, pois há diversos interesses, e com isso diversos conflitos.

    Santana do Paranaíba é uma cidade histórica que, pelo pouco que sei, perdeu muito de suas áreas com o tempo para a criação de novas cidades, como Barueri. Tem uma região de alto nível (os condomínios ao sul da cidade) e uma região de nível menor (os bairros ao nordeste da cidade).

    Graças a essa desorganização, as pessoas acabam se desapegando da política e esperando que os mesmos façam "automagicamente" as coisas. Não deveria ser assim.

    Enfim, espero que isso ajude para ganhar um debate. Não gosto de ver situações meio "cabeça fechada" ou "conformismo básico". Imagino que na hora que as pessoas pensarem que cada um faz parte de um todo em uma sociedade, a política e todo o resto muda. Mas aí o papo se alonga demais. :)

    ResponderExcluir