quinta-feira, 19 de abril de 2012

A FRENTE PARLAMENTAR LUTA CONTRA O DESAPARECIMENTO DAS FERROVIAS PAULISTAS

A linha em Osvaldo Cruz, SP. Foto Douglas Franzo Hidalgo

Hoje, houve mais uma reunião - a terceira - da Frente Parlamentar em Defesa da Malha Ferroviária Paulista, comandada pelo deputado Mauro Bragato, de Presidente Prudente, que, mais uma vez, gentilmente me convidou para assistir. Estive lá, efetivamente.

Na reunião de hoje estava presente o presidente da ALL e um dos diretores - creio que de planejamento - que falaram sobre a atualidade da empresa e de seus planos de investimento. Nestes planos foram citadas obras de recuperação e melhoria das linhas de Boa Vista-Santos (a mais importante de São Paulo hoje em dia, sem dúvida), Araraquara-Pradopolis-Colômbia, ramal de Piracicaba e ramal de Juquiá. Os dois últimos estão em total abandono, sendo que o de Piracicaba será praticamente todo reconstruído com trajeto diferente (minha opinião: nunca). Também está sem utilização e abandonada a linha Pradópolis-Colômbia.

Nada foi citado em relação às linhas Bauru-Panorama e Botucatu-Presidente Epitácio, ambas subutilizadas. Nem da linha Botucatu-Bauru-Corumbá, que é bem utilizada em alguns trechos.

Pedro, o presidente, não explicou por que essas linhas não recebem manutenção alguma há anos. Um representante de Osvaldo Cruz, na linha Bauru-Panorama, entregou a ele fotografias tomadas nesta semana que mostram trilhos, juntas e dormentes podres na cidade, além de um trecho totalmente invisível pelo mato.

O presidente fez questão de dizer, por exemplo, que não tem responsabilidade por pátios e estações as quais não opera (sem dúvida) e que sua concessão não envolve trens de passageiros (o que parece que pouca gente que estava assistindo sabia). Perguntado sobre se havia algum problema com trens de passageiros de terceiros em sua linha, disse ele que "de forma alguma, eles darão toda a cooperação possível" para que tal se concretize. Sabemos que não é bem assim.

Dois dos presentes, um da região de São Roque e outra de Conchas, estavam bastante preocupados com um trem turístico na região. Deviam se preocupar com outras coisas. A ALL contou sobre o problema com o trem turístico do Pantanal, que teve um trecho suspenso por falta de passageiros. Parece que isto é verdade, pelo menos em parte. O que causou realmente o baixo número de passageiros?

A maior cobrança veio de pessoas de prefeituras do interior, que dizem que a ALL não se interessa pelas cargas de diversas regiões e que na maioria das vezes não dá retorno algum às consultas - em alguns casos, nem se consegue fazer o primeiro contato. Todos, inclusive o deputado Bragatto, disseram que a ALL deveria ter um escritório de representação no Estado. Eu concordo, de longe. Não sei se seria algo somente de fachada (não duvido), mas faria sem dúvida com que o relacionamento melhorasse. Afinal, São Paulo tem mais de três mil quilômetros de linha nas mãos da ALL - mais de 15% da quilometragem das linhas brasileiras.

Fiquei de boca calada. Não gosto da ALL nem aprovo a forma pela qual ela atua não somente em São Paulo como nos estados do Sul. Eu não teria certamente uma conversa agradável com pessoas que são educadas como falam, mas que falam de modo apenas "profissional", não se comprometendo a nada, apenas em "tomar providências". Nem tenho poder de cobrar nada.

Quanto ao presidente, ele ficou de resolver todos os problemas apresentados, pois "deve haver uma falha". De qualquer forma, ele, diretamente ou indiretamente, culpou o governo federal, dono da concessão, pelos atrasos nos cronogramas, citando IBAMA, DNIT etc. Ele até está certo, mas em parte: afinal, como o interesse dele não é grande nos investimentos (afinal, estão ganhando dinheiro com a pouca carga que transportam), ele também certamente não pressiona o suficiente para ter as aprovações mais rapidamente.

5 comentários:

  1. pra completar a all anunciou hoje no jornal de bauru o fim de suas atividades na cidade o fechamento da oficina e estaçao na cidade de bauru

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  2. Concordo com tudo que você falou, Ralph. Aliás, a ALL também é conhecida pela má conservação de suas locomotivas (já vi um trem ficar parado por seis horas porque uma locomotiva C30-7 de segunda mão pifou na subida antes da estação Alumínio) e seus salários baixos (um estagiário universitário recebe R$ 700,00 mensais!). As indústrias locais estão preferindo escoar seus produtos em caminhões velhos (tipo Mercedes-Benz L-1313 e Scania 111 "Jacaré"), com risco de tragédias nas rodovias, porque os fretes ferroviários são caros.

    A antiga linha-tronco da Sorocabana recebe cerca de 12 trens/dia, mas tem intervalos de até cinco horas no qual não passa nenhuma composição. O trecho Amador Bueno-Mairinque, que a CPTM repassou para a ALL, a situação é crítica: a linha sentido Capital está totalmente abandonada (com lixo, mato e até barracos) e a outra via não vê troca de dormentes desde a era FEPASA; eu conheço bem este trecho porque meu falecido tio morava ao lado da Parada Amaral (São Roque) e a linha ficava sempre limpa e em ordem na época da FEPASA.

    Esperamos que este trabalho dos deputados estaduais (pouco divulgado pela imprensa) continue com o intuito de evitar a deterioração total das nossas ferrovias. Nada contra a ALL, mas ela deveria repensar a sua filosofia de trabalho aqui no Estado, implantando novos serviços. Depois, acontece tragédias como uma carreta batendo num ônibus na rodovia e não sabe por que isso ocorre...


    Para terminar, uma pergunta, Ralph: você acredita que São Paulo tem condições de receber empresas ferroviárias tipo "Shortline Railroad"? Este é um conceito existente nos EUA, onde investidores locais operam um ramal ferroviário curto (e de pouco interesse das grandes empresas ferroviárias), com locomotivas de segunda mão e funcionando como um "coletor" de cargas das fábricas/fazendas locais até um pátio das grandes ferrovias; seria como um alimentador local da ALL, FCA e MRS, podendo operar na Bauru-Panorama, por exemplo.

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  3. Rodrigo, eu acredito, sim, mas não sei se neste momento alguém está tentando fazer isto. Mesmo porque ramais curtos quase não existem mais... o de Piracicaba porecisa ser reconstruido praticamente inteiro: de ramal ele somente existe no nome.

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  4. só uma palavra sobre a ALL: revoltante

    E confirmando as informacoes do L S Gouveia
    http://94fm.com.br/noticias/bauru/rodrigo-diz-que-all-esta-encerrando-varios-servicos-em-bauru/

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    1. Ih, vai vir tudo aqui para a minha região (Mairinque), onde a ALL está reativando a antiga oficinas de locomotivas da Sorocabana que a finada Ferroban fez o favor de desativar e abandonar. Ao Ralph: a estação de Mairinque está completamente fechada, já que o "museu" mantido pela Prefeitura saiu do prédio e o portão de acesso recebeu um cadeado.

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