A fotografia do jornal Folha da Manhã parece mostrar o padre no oval; no entanto, é apenas o delírio de um fiel. O padre já era bem mais velho
Eu jamais ouvi falar do tal padre Antonio Pinto, milagreiro e curandeiro na cidade de Rio Casca. Onde fica Rio Casca, afinal? Bem, o nome somente soou familiar quando eu estava fuçando em jornais velhos do ano de 1947 por que era o nome de uma estação da Leopoldina. Mais precisamente, no trecho entre Ponte Nova e Caratinga, parte final da linha que unia o Rio de Janeiro a Caratinga, a última a ser entregue (1930) e a primeira a ser eliminada (anos 1970). Os trilhos já se foram há tempos para além de Ponte Nova.
Bom, cidade pequena, pobre, numa região também pobre, a ponto de imaginar o que a Leopoldina pensava quando construiu essa parte da linha. Lugar bom para se "cultivar" curandeiros. Antonio Pinto era padre nos idos dos anos 1940 e, subitamente no final de 1947 começou a ganhar fama como tal. E por isso surgiu uma leva de romeiros loucos para conhecê-lo e curar suas misérias.
Pelo menos três edições do jornal Folha da Manhã no mês de outubro desse ano falaram sobre o padre, inclusive dando dicas de como chegar à cidadezinha, para quem estava a mais de quinhentos quilôemtros dela, na capital paulista. Sim, por aqui ele também tinha seus fãs. E num artigo inicial sobre o padre, dava a dica de como chegar lá - pelos trens da Central do Brasil, partindo da estação Roosevelt às 7h 20 da manhã e, depois de baldear - com esperas - em Barra do Piraí, Conselheiro Lafayette, São Julião (hoje Miguel Burnier) e Ponte Nova, onde nesta se tomava o trem da Leopoldina que vinha do Rio de Janeiro via Três Rios e Ubá, chegava-se finalmente a Rio Casca às 20h50... do dia seguinte da partida.
Por Cr$ 231,00 ia-se de primeira classe. Por menos, 170 cruzeiros, de segunda. Não devia ser uma viagem agradável. O próprio jornal, alguns dias depois, contava que era uma viagem que era "penosíssima,
no mais absoluto desconforto, promiscuidade e falta de
higiene, o
que, aliás, é inevitável, dada a fluência
de romeiros". Mas quem for, "viaja barato e chega a Meca mineira mais morto que
vivo. Quem não for precavido e levar matula, jejuará
compulsoriamente desde Ubá até a cidade dos milagres". E que, no último trecho percorrido, exatamente o trecho da Leopoldina, "avançava com lentidão incrível,
apinhado de passageiros, com gente pelas plataformas e mesmo
na cobertura
dos carros".
Os repórteres da Folha que foram a Ponte nova foram de avião. Cara para a época (Cr$ 2.200,00 por pessoa, ida
e volta), a viagem São Paulo-Ubá foi mesmo foi de teco-teco,
uma "casca de avelã" por uma hora de voo, por 700
cruzeiros. Já a estrada de rodagem que ligava Ponte Nova era um lodaçal só.
Tudo isso para ver as costumeiras cenas de histeria coletiva por alguns dias. Não vale a pena aqui entrar em detalhes de o que os repórteres viram por lá. Nem sei o que foi feito com o padre depois de seus quinze minutos de fama. Porém, o relato do jornal mostra o que era viajar pelo sertão mineiro no final dos anos 1940... e o que era a Leopoldina nesses tempos, ainda uma estrada inglesa com seus carros de madeira.
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terça-feira, 9 de outubro de 2012
RIO CASCA E SEU PADRE MILAGREIRO
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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
RIO CASCA, MINAS GERAIS

Mais uma estação ferroviária, esta bem mais distante daqui, tem fotografias enviadas para mim por um colaborador mineiro, Pedro Leal Dutra. Como em diversos casos, eu não conheço o local. O mais próximo que estive de lá foi a cidade de Ponte Nova e mesmo assim há mais de vinte anos.

A cidade e estação de Rio Casca estava na linha de Caratinga, que levava os trens do Rio de Janeiro aesta cidade, passando por cidades como Petrópolis, Três Rios, Ubá e Ponte Nova. Em Minas Gerais, zona pobre, poucos produtos rentáveis para serem exportados. Hoje, sem ferrovias, mas como estradas com manutenção do Estado de Minas Gerais - o que quer dizer no máximo sofrível - é uma região estagnada.

Os trens deixaram de passar no final dos anos 1970 entre Ponte Nova e Caratinga, trecho onde se localiza Rio Casca. A cidade tem quase 200 anos. O município, exatamente cem, comemorados este ano. Sua população, pouco mais de 15 mil pessoas. Os trilhos da antiga Leopoldina já foram arrancados há pelo menos vonte anos.

Sobrou a estação, hoje bem mantida externamente e sede de um órgão de assistência social da Prefeitura e algumas paisagens percorridas pela linha. Uma delas mostra um enorme corte feito no morro para passagem dos trilhos. Rio Casca os tinha desde 1913.

Algumas fotos são mostradas nesta postagem. Em tempo: Rio Casca dista cerca de 190 quilômetros de Belo Horizonte. Uma viagem por trem se fazia pelo percurso Belo Horizonte-Miguel Burnier-Ponte Nova-Rio Casca, pelas linhas da Central e da Leopoldina. Desde o início dos anos 1980, isto não é mais possível.
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