quarta-feira, 3 de abril de 2013

FIM DOS TRENS DE PASSAGEIROS: O RAMAL DE ITARARÉ

Os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, em 23/12/1978, anunciaram o fim dos trens para Itararé dessa forma. Desenvolvimento para todos. Menos para as cidades do ramal de Itararé.
O ramal de Itararé foi construído pela E. F. Sorocabana entre 1889 e 1909. Foi aberto em toda sua extensão no dia 1o de abril deste último ano.

Inicialmente ele ligava a cidade de Boituva a Itararé, passando pelas vilas de Tatuí, Itapetininga, Buri, Faxina (hoje Itapeva) e Itararé. Nesta cidade ele se ligava com a linha da E. F. São Paulo-Rio Grande, que seguia para Marcelino Ramos, na divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina (e dali para Santa Maria, Porto Alegre e Santana do Livramento pela Viação Férrea do Rio Grande do Sul).

Esse conjunto de linhas, pertencentes a três ferrovias, era a ligação entre São Paulo e o sul do País. Com bitola métrica em todo o percurso, locomotivas, carros e vagões se misturavam, levando cargas para o sul e para o norte e, especialmente em Santa Catarina, sendo o embrião de todas as cidades no vale do Rio do Peixe.

O trecho da Sorocabana, no entanto, era apenas o citado acima. Um ramal estratégico, portanto, que, a partir de 1928, teve seu ponto de partida alterado de Boituva para Santo Antonio (mais tarde, Iperó).

Em 1937, a Sorocabana se uniria em outro ponto à São Paulo-Rio Grande: Ourinhos. Em 1974, o ramal foi unido, através da cidade de Itapeva, à estação de Pinhalzinho, na divisa São Paulo-Paraná, mas ao sul de Itararé, e, daí, também ligado à Rede de Viação Santa Catarina - sucessora da São Paulo-Rio Grande desde 1942 dali até Ponta Grossa, onde se encontrava com a linha que descia para o sul.

Em 1976, um acidente na ponte de Itararé interrompeu o tráfego no trecho Itapeva-Itararé, o que fez os trens de passageiros, que não foram desviados para Pinhalzinho, mas sim mantidos na velha linha, pararem de circular. Ainda era possível, no entanto, seguir para Ponta Grossa e para o sul via Ourinhos, encompridando demais o percurso dos trens de passageiros tanto da FEPASA, sucessora da Sorocabana desde 1971, quando da RVPSC.

O trem de passageiros no ramal de Itararé, até eta cidade, foi também suprimido - bom, em parte, já que foi substituído por um trem misto em meados de 1976. Este, no entanto, além de não parar mais em diversas estações da linha que foram fechadas, ainda ia somente até a cidade de Itapeva. Para Itararé, somente descendo ali e seguindo por ferrovia.

O trem misto foi finalmente descontinuado no dia 2 de janeiro de 1979. Sobre se ele ia até Itararé ou não, os guias (Levi) de 1976, 1977 e 1978 afirmam que sim, enquanto um artigo da Folha de S. Paulo de março de 1977 afirma que ele parava em Itapeva, como dito acima.

Possivelmente o acidente com a ponte em 1976 apressou o fim dos trens de passageiros. Com o fim deles e dos mistos, o ramal passou a não ser praticamente mais utilizado, pois os cargueiros para o sul seguiam por Itapeva e Pinhalzinho. Em 2002, o ramal, entre Itapeva e Itararé, foi totalmente arrancado.

Já o trecho maior, Iperó-Itapeva, funciona até hoje para cargas. Houve, também, um trem de passageiros que durou de dezembro de 1997 a março de 2001 que seguia desde Sorocaba, passando por Iperó, Itapeva e chegando a Apiaí (não a Pinhalzinho), que era a ponta de um pequeno ramal construído para o carregamento de cimento na fábrica dessa cidade em 1973. Andei nesse trem: de Loba elétrica de Sorocaba a Itapetininga, a locomotiva era trocada por uma diesel neste pátio e seguia até Aguaí. Eram dois carros de passageiros e um carro-restaurante. De 1999 a 2001, a ALL foi a responsável por seu funcionamento, com a privatização do ramal.

E assim, como dizia o saudoso Fiori Gigliotti, fecharam-se as cortinas e terminou o grande espetáculo de mais um trem de passageiros que, como outros, tornou-se lendário.


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