terça-feira, 13 de abril de 2010

AVENIDA PAULISTA E SUAS REMINISCÊNCIAS

A boca do túnel da Nove de Julho nos anos 1940 e o Trianon em cima dele. No meio das árvores no topo, a avenida Paulista não pode ser vista. Como falo abaixo, construir as colunas do MASP onde?

Andar de ônibus em qualquer lugar, desde que sentado e não espremido, tem afinal algumas vantagens. Na avenida Paulista, por exemplo, eu estava reparando, com o ônibus trafegando lentamente pela sempre congestionada avenida, que ao cruzar a Brigadeiro Luiz Antonio dá para ver que ela tem uma característica diferente das outras ruas que cruzam a Paulista.

Além de ser uma rua bem comercial, que no seu último quarteirão entre a São Carlos do Pinhal e a Paulista ainda conserva algumas casinhas antigas, ela é "torta": ou seja, ela não é paralela às outras ruas que cruzam o espigão que na verdade, em seus 800 metros de altitude, separa as bacias do Tietê e do Pinheiros.

Ela é a antiga estrada de Santo Amaro. Cento e vinte anos atrás, quando a Paulista e suas transversais ainda estavam em construção no meio da mata do Caaguaçu, ela era o ponto inicial da avenida e era a única rua que já existia ali, além da estrada de Pinheiros (rua da Consolação), que era o final da avenida. Sim, a Paulista original corria entre as estradas de Santo Amaro e a de Pinheiros.

Era a única rua, além da Consolação, que já tinha algumas construções. Torta, por que essas antigas estradas estradas dificilmente seguiam um caminho reto — embora a Brigadeiro, quando desça para a várzea do Pinheiros seja uma estrada quase que reta. Fiquei imaginando aquela rua que vinha desde o Piques e seguia para o largo 13 de Maio, no centro do extinto município de Santo Amaro, um caminho de terra com tráfego de carros rudimentares, substituídos pelos bondes dez anos depois e finalmente pelos automóveis e ônibus não muito tempo depois.

Por ela chegaram os trilhos para a avenida Paulista, que seguiam para a rua da Consolação e desciam para o centro velho. Mais tarde, a Paulista ganhou prolongamentos dos dois lados, um até a praça Osvaldo Cruz, seu atual "marco zero" no bairro do Paraíso e do outro lado até a barranca do vale do córrego Pacaembu, na atual rua Minas Gerais.

Seu prolongamento para as cabeceiras do córrego Pacaembu foi projetado nos anos 1920, descendo em curvas para onde hoje está o estádio do Pacaembu e seguindo pelo vale no que hoje é a avenida Pacaembu. Tal não aconteceu.

Do outro lado, a avenida se encontrava com a rua do Paraíso. Quem vinha por ela e por esta rua seguia até a rua Vergueiro — o antigo Caminho do Carro para Santo Amaro — e entrava à direita, seguindo pela rua Domingos de Moraes para dali ir para os limites da cidade, antes da Saúde.

Fico só imaginando. Não há fotos, há apenas dados e reminiscências. Por esses caminhos passaram figuras importantes da história do Brasil, para o bem ou para o mal. Os velhos casarões dos chamados barões do café (e não somente deles) foram construídos um atrás do outro a partir de 1892 até os anos 1930. Dali para a frente acabou seu ciclo, e um foi sendo demolido atrás do outro. Hoje em dia três são tombados e uma ou outra casa mais recente ainda sobra de pé com usos não residenciais.

Uma muralha de prédios de apartamentos e de escritórios margeia a avenida. Fora o Museu de Arte de São Paulo, o MASP, construído sobre as ruínas do Palácio Trianon, demolido em 1951. Aquelas colunas vermelhas sustentam o maior vão em concreto armado do mundo (é isto mesmo?). Reparei nas colunas e penso que não havia outra forma de se o fazer - não sei se estou certo. Afinal, aquele ponto da Paulista foi aterrado durante a sua construção, Ali eram as nascentes do Saracura, mas a altitude era bem menor do que a do resto da avenida, daí a necessidade do aterro. Em 1940 sob ele se construiu o túnel da Nove de Julho. Fazer as colunas sobre o túnel? De jeito nenhum, a fundação tinha de ser funda, pois era aterro... então foram feitas duas de cada lado de cada túnel...

3 comentários:

  1. Luiz Carlos

    As fotos dos anos 40 da Paulista e adjacencias nos mostram com clareza como a cidade era melhor construida e cuidada. Limpa, casas bem cuidadas e aspecto civilizado. A riqueza em SP só aportou miséria e degradação. Mas a grande maioria por falta de parametros acha que êsse é o preço do progresso. Idiotas !!

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  2. Eu concordo... há algum tempo falei isso para uma conhecida bem mais nova que eu... uns 20 anos de idade... e ela respondeu que tem mesmo é que construir coisas novas, é o que todos querem... bem, ela tem razao até o ponto em que nao percebe que isso está destruindo a habitabilidade. Ou seja, o local é confortavel, mas, em volta, tudo se degrada...

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  3. Ralph, a questão da construção do Masp, com aquelas colunas e o vão central enorme, vem do termo de uso do terreno, que não poderia tampar a vista para o vale, em direção à cantareira. Isso está melhor explicado no próprio site do Masp (http://www.masp.art.br/sobreomasp/historico.php)
    Quanto às fundações sobre o túnel, isso não é problema, e existem. A parte subterrânea do Masp fica sob o vão central, mas muito pouca gente percebe isso.
    Abraços!

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